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Os desafios da capacitação

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Entre os dias 24 e 26 de setembro de 2008, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) é a anfitriã do II Seminário Nacional de Capacitação das Instituições Federais de Ensino, que traz como tema a busca de um perfil da Instituição e do Servidor.

O objetivo é discutir os rumos da carreira e da capacitação profissional, sobretudo com base na Lei 11.091, de 12 de janeiro de 2005, a respeito da estruturação do Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação (PCCTAE).

A organização desta edição do encontro se deu pela Pró-Reitoria e Superintendência de Pessoal (PR-4/UFRJ). Diversos servidores da área de recursos humanos – vindos de instituições federais de ensino do Brasil – reuniram-se na cerimônia de abertura do evento, ocorrida a partir das 14h de quarta-feira (24) no auditório Roxinho do Centro Cultural Professor Horácio Macedo.

A mesa solene foi composta por Francisco de Assis, coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da UFRJ (Sintufrj); Rita dos Anjos, da Coordenação de Desenvolvimento Pessoal da PR-4 (Codep); Léia de Souza, coordenadora da Federação de Sindicatos de Trabalhadores das Universidades Brasileiras (Fasubra); Josete Lima, diretora da Divisão de Recursos Humanos (DRH); Roberto Gambine, superintendente geral de pessoal da UFRJ; e Luiz Afonso Marins, pró-reitor de pessoal da UFRJ.

Para conferir a programação completa do seminário, acesse http://www.pr4.ufrj.br/programacao.htm.

Desafios

A iniciativa para se organizar a primeira edição do seminário de capacitação surgiu em 2007, na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), primeira sede do evento. A meta foi compartilhar as diretrizes necessárias para se colocar em prática os programas de capacitação, avaliação de desempenho e direcionamento de pessoal nas instituições federais de ensino.

Segundo Rita, Graças ao PCCTAE, que propõe a implementação desses programas e de uma política de gestão de pessoas, aliada aos objetivos institucionais e ao desenvolvimento do servidor na carreira – sem incentivo há anos -, o servidor enxerga hoje a oportunidade de aperfeiçoamento e qualificação pessoal.

– Temos um grande desafio e o sucesso da implementação desses programas depende do comprometimento de cada um de nós, servidores, e da instituição. A UFRJ, enquanto instituição de ensino superior federal, com a história mais antiga, passa por um momento de novas indagações a partir dos desafios que se colocam à educação superior, comprometida com o desenvolvimento social e nacional – disse ela.

Sindicato

O coordenador do Sintufrj apresentou dados sobre a atual escolaridade dos servidores da UFRJ, que mostram um pouco da grandeza do trabalho que a universidade deverá enfrentar a fim de garantir a educação formal e a progressão da carreira de seus trabalhadores: “Hoje, cerca de 23% da nossa categoria, infelizmente, ainda não têm o segundo grau completo, e 71% ainda se encontram no nível 1 de capacitação”.

De acordo com a coordenadora da Fasubra, é preciso discutir e planejar as formas de utilização dos recursos disponibilizados pelo governo a fim de se implementar a capacitação, bem como a prática de políticas de educação continuada, lutando por linhas de fomento que financiem a saída dos técnico-administrativos para a realização de cursos de Mestrado e Doutorado.

– É importante esse diálogo do movimento sindical com os gestores, para que, juntos, possamos refletir a realidade da universidade e construir caminhos que, de fato, transformem essa ferramenta de gestão, que é a carreira, em uma política que qualifique os trabalhadores das universidades e promova as condições objetivas para conseguirmos a qualidade que todos almejamos para a universidade pública brasileira – afirmou Léia.

Utopia?

Josete complementou tudo o que foi dito ao ressaltar que é preciso valorizar, cada vez mais, os seres humanos, porque são eles que compõem uma organização. Para ela, é preciso trabalhar a motivação e a satisfação de cada servidor. “Que nós possamos aproveitar esses dias de reflexão e sair daqui imbuídos para que realmente a capacitação aconteça. É um trabalho muito árduo que o PCCTAE nos impõe, mas com muita garra e força de vontade nós poderemos superá-lo”.

O Pró-Reitor de Pessoal da UFRJ chamou a atenção para a estratégia adotada após o encontro de 2007, que consistiu na realização de seminários regionais pelo Brasil. Na opinião dele, os encontros do Norte, Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-oeste configuraram uma primeira tentativa de se “falar a mesma língua”. Este trabalho resultou na programação do atual seminário nacional, que permite a troca de experiências em nível nacional.

– Somente no Rio de Janeiro, há quatro instituições federais de ensino e, certamente, até então, nos falamos muito pouco. Por isso eu acho que essa é uma oportunidade ímpar para que a gente possa estar falando a mesma língua, mesmo sabendo que existem desigualdades salutares entre nós, que têm que ser muito bem discutidas -, opinou Luiz Afonso.

Quanto às dúvidas, se é possível ou não chegar a algum lugar com os debates propostos pelo seminário, ele respondeu com as palavras de dois escritores, o gaúcho Mário Quintana e o uruguaio Eduardo Galeano.

– Quintana escreveu: “Se as coisas são inatingíveis … Ora!/ Não é Motivo para não querê-las/ Que tristes os caminhos, se não fora/ a presença distante das estrelas”. Galeano vai além e acho que tem muito a ver conosco e com tudo que foi dito aqui: "A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos, e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? (e aí vem a grande pergunta que cabe como uma luva no nosso seminário e em todas as idéias que foram discutidas aqui) “Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar". E aí vou modificar um pouco: serve para que nunca deixemos de caminhar – declarou.

Memórias

Além de atentar para os novos modelos de contratação na universidade, que não o concurso público, e de destacar a troca de experiências, de idéias, de pensamento e o enfrentamento de divergências no processo de construção e de efetiva realização da carreira, Gambine relembrou a história do auditório Roxinho, localizado no Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN), que dá lugar ao seminário.

Ele informou que o palco do Roxinho é histórico, uma vez que lá foram travadas as mais importantes assembléias e tomadas as mais importantes decisões da universidade. “Quem está aqui há mais tempo, como eu, e olha para essas paredes, lembra delas sussurrando em nossos ouvidos, dos gritos, das lutas, das palmas”, disse saudoso.

Gambine mencionou ainda o fato de que o Roxinho integra o Centro Cultural que leva o nome do Professor Horácio Macedo, primeiro reitor eleito da UFRJ, que até hoje deixa enorme lembrança pelo que ele representou na luta pela universidade. Em 1988, conforme lembrou Gambine, Macedo autorizou a ida de 40 ônibus lotados até Brasília,  onde alunos, professores e funcionários pressionaram os deputados para que figurasse na constituição o princípio da autonomia universitária.

– Na porta de vidro do centro cultural, há uma foto da camiseta que a gente usou na época, que dizia assim: “UFRJ: o ensino público é gratuito”. Desde 88, infelizmente, a gente vê que esse é um artigo da constituição que sistematicamente sofre ameaças, agressões e tem gente que tenta derrubá-lo. Hoje, na abertura deste seminário, estamos em um momento especial, em um local muito especial para a universidade -, completou.