Juntos, os 100 maiores desmatadores do país são responsáveis pela devastação de cerca de 160 mil campos de futebol. A área destruída por cada um gira em torno de 1,6 mil hectares, segundo informou ontem (29/09) o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, em sua participação na XII Semana de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Os dados foram apresentados durante a palestra "Ambientalismo no Brasil" realizada no Auditório Rodolpho Paulo Rocco, no Centro de Ciências da Saúde (CCS) na Cidade Universitária. O ministro que se encontra licenciado do cargo de professor adjunto do departamento de Geografia da UFRJ por conta de seu trabalho no ministério, citou projetos governamentais para conter o desmatamento e relembrou a importância de voltar os olhos para todas as regiões do Brasil.
– Nós não podemos ser o samba de uma nota só: Amazônia é um foco, mas a Mata Atlântica, o cerrado e a caatinga também estão muito ameaçados – alertou o parlamentar.
Minc citou algumas leis voltadas para a educação ambiental e tratamento de esgoto, criadas por ele durante os vinte anos em que permaneceu no parlamento. Relembrou ainda medidas de sua autoria que foram favoráveis aos estudantes como o passe-livre e a meia-entrada. “Não é só de ecologia que se sobrevive, há muitos direitos envolvidos: lutas contra as discriminações, acesso à cultura. Afinal de contas a ecologia humana faz parte dos ecossistemas mais amplos. Um olho na natureza e outro nas relações humanas.”
Na Secretaria do Estado
O ministro destacou a importância de alguns trabalhos realizados à frente da secretaria estadual do meio ambiente do Rio de Janeiro como a criação do Parque Cunhambebe. O corredor ecológico de 38 mil hectares cobre áreas desde a Serra da Bocaina até a Reserva Biológica do Tinguá foi uma das conseqüências da meta de dobrar a área protegida pelo Estado, adotada durante a sua gestão.
-Nós não podemos correr atrás do prejuízo, mas temos que nos antecipar e criar áreas protegidas antes que reste pouco a proteger. Uma boa estratégia para não chorar o óleo derramado é atuar por antecipação – garantiu Minc.
Durante o curto período em que esteve responsável pela Secretaria, o convidado realizou o primeiro concurso para a área ambiental do Estado. Pioneirismo que para ele, nada tem a ver com os discursos que priorizam o Meio Ambiente. “Nunca antes nesse Estado houve um concurso para a área ambiental e nós o fizemos. Todo mundo diz que meio ambiente é prioridade, mas trinta anos sem um curso para a área ambiental no Estado deve ser brincadeira. É a chamada distância entre intenção e o gesto”, atacou.
O ministério
Há apenas quatro meses no ministério, Minc disse estar lidando com uma difícil realidade. Segundo ele, 299 unidades de conservação ocupam juntas, uma área de 78 milhões de hectares. Dentre elas, 68 não tinham ao menos um gestor. “Imaginem uma unidade com o tamanho de cerca de 200 florestas da Tijuca, sem ninguém para dizer ‘sou eu que assino’. É um desastre ecológico de razoáveis dimensões.” alertou ele.
A respeito do aumento de 133% no ritmo do desmatamento da Amazônia, revelado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), na comparação com os índices de julho, o ministro alegou ser em parte conseqüência das campanhas eleitorais e garantiu que a polícia do meio ambiente vai ajudar nesse sentido:
– Nenhum prefeito quer ser antipático, nenhum governador quer ser antipático. A turma do Ibama vai para frente, mas tem que ter uma Polícia Militar para dar cobertura, por que nesses locais está todo mundo com dedo no gatilho.
A lista dos 100 maiores desmatadores divulgada ontem pelo ministério deve auxiliar na desaceleração desses índices. De acordo com Minc, foi criada uma força-tarefa com a Advocacia Geral da União, a AGU, e o Ministério Público Federal para levar esse grupo para o banco dos réus.
-Agora não vamos ficar só nos cem. Os cem são para dizer que vamos começar pelos tubarões, mas vamos sinalizar que acabou a moleza e que essas pessoas vão pagar por seus crimes. Inclusive com o novo decreto, vamos leiloar todo o material apreendido: grão, tora e gado. Não vão se enriquecer com produtos ambientais – assegurou o ministro.
Projetos
Minc explicou alguns dos projetos elaborados pelo governo em prol do Meio Ambiente como “Turismo em Parques Nacionais”, lançado no último dia 13 de setembro na área do parque Nacional da Serra dos Órgãos. O programa, segundo ele, parte da idéia de que se pode ter unidades mais preservadas e usufruídas que consigam recursos para manutenção.
O projeto Tamar também foi citado por ele. “Nós temos 25% da área territorial protegida. No mar temos apenas 0,5%, o que é ínfimo. A meta é em 5 anos passar para 10% a área de proteção”, informou Minc
De acordo com o convidado da BioSemana, o início das obras de dragagem do Canal do Cunha pode ser esperado para o mês de outubro. “Há duas semanas a Petrobrás finalmente assinou o contrato. São 194 bilhões para dragar 3 milhões de metros cúbicos de todo o Canal, inclusive na área do Fundão, da área da Maré.”
O conhecimento e a sociedade
Pouco antes de se despedir do evento, Minc falou da importância de retornar à sociedade o que é produzido nas universidades e elogiou o trabalho de pesquisa que está sendo realizado na UFRJ.
– Estou muito orgulhoso da nossa UFRJ, da nossa biologia. Nós vamos abrir espaço para ter cada vez mais biólogos pesquisando no INEA (Instituto Estadual do Ambiente), no IBAMA, no Chico Mendes, trazendo a sua contribuição. Que as nossas pesquisas feitas aqui sirvam para aprimorar a nossa forma de defender a biodiversidade, de defender os nossos biomas, não só a Amazônia – elogiou o também professor da universidade.
Por fim, o ministro falou da diminuição da burocracia na obtenção de licenças para a pesquisa. O tempo de espera foi reduzido para três semanas com o sistema de co-responsabilidade em que há a criação de comitês de éticas nas universidades se responsabilizando pelas pesquisas dos cientistas.
– Cientista é cientista, biopirata é biopirata. Vamos tratar cientistas como nossos aliados e o resultado dessas pesquisas vai ajudar a conservar e defender as nossas espécies ameaçadas, da flora e da fauna, das unidades de conservação- concluiu Minc.