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Jornalista Carlos Alberto Sardenberg aborda cenário econômico na UFRJ

Apesar do cenário favorável da economia brasileira, com aumento da sua capacidade de exportação e queda da dívida externa, a forte carga tributária e o peso do Estado na Economia são barreiras que precisam ser superadas para que o país amplie sua capacidade de investimentos. A avaliação é do jornalista político e econômico Carlos Alberto Sardenberg, que participou, na noite de ontem, dia 23, do Programa Diálogos Universitários, no Fórum de Ciência e Cultura, no campus da UFRJ na Praia Vermelha. Cerca de 200 pessoas, a maior parte estudantes dos cursos do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE) da universidade, lotaram o Salão Pedro Calmon para assistir a palestra “Brasil: desafios do crescimento”.

Segundo Sardenberg, o Brasil tem uma carga tributária nivelada com a dos países mais ricos do mundo. Enquanto os países emergentes apresentam uma taxa em torno de 22% de tributação, esse percentual chega a 37% no Brasil. “Não há nenhum sistema tributário pior do que o nosso”, analisa o jornalista, que assina colunas semanais em O Estado de São Paulo e O Globo e atua como âncora do programa CBN Brasil e comentarista econômico do Jornal da Globo. Sardenberg também aponta os gastos previdenciários como um dos grandes vilões da economia brasileira.

O analista também destacou as elevadas dívidas do Estado para manter a máquina pública em funcionamento. Segundo ele, esse fator reduz a capacidade de investimentos em setores estratégicos da economia brasileira. “Apenas 1,5% do PIB (Produto Interno Bruto) do país vai para investimento. É preciso diminuir o peso do Estado na economia e fazer um choque de privatizações. Esse é um problema ideológico, mas está deixando de ser”, afirmou Sardenberg, citando como exemplo o anúncio das privatizações dos aeroportos do Galeão, no Rio de Janeiro, e Viracopos, em São Paulo.

Emergentes 

O analista ressaltou que, embora permaneçam esses gargalos que limitam um avanço da capacidade de investimentos, o Brasil encontra-se hoje em outro patamar de desenvolvimento, resultado de reformas estruturantes de longo prazo. Sardenberg afirmou que, apesar da mudança de governo, as bases econômicas iniciadas no período Fernando Henrique Cardoso não foram alteradas na atual gestão. A indicação e permanência do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, demonstram, de acordo com o jornalista, a disposição do governo Lula de não alterar os rumos da economia brasileira.

Quatro fatores foram fundamentais, em sua avaliação, para inserir o Brasil no grupo de países emergentes, ao lado da China, da Índia e da Rússia: o controle das contas públicas, com redução da dívida; o controle da inflação, com atuação de um Banco Central independente; um comércio externo mais intenso e aberto e as reformas pró-mercado.

Sardenberg também apresentou alguns números que indicam um prognóstico favorável para a economia brasileira: a capacidade de exportação, que era de US$ 58,2 bilhões em 2001, deve alcançar esse ano US$ 200 bilhões. Do mesmo modo, as reservas atingiram US$ 180,3 bilhões em 2007 contra US$ 35,9 bilhões em 2001. Conseqüentemente, a dívida externa, que representava 45,9% do PIB em 2002, caiu para 16% no ano passado. O Risco Brasil, que mostra o grau de instabilidade econômica do país, também vem sofrendo sucessivas quedas, indicando maior confiança do investidor estrangeiro.

Segundo o palestrante, a crise recente das hipotecas nos Estados Unidos deve repercutir também no Brasil. Sardenberg ressaltou, porém, que o impacto dessa turbulência será menor em razão da consolidação da estabilidade da economia brasileira. Contribui também para essa perspectiva favorável as recentes descobertas do petróleo na camada do pré-sal e o aumento da demanda por energia alternativa, como o etanol, setor onde o Brasil possui experiência e capacitação em todas as fases do ciclo de produção. O mercado prevê uma pequena queda do crescimento econômico – de 5,4% em 2007 para 4,6% em 2008 – e ligeiro aumento da inflação – 4,5% (2007) contra 6,2% (2008). Nada, no entanto, que preocupe os brasileiros, segundo o jornalista.                  

– Teremos um pouco mais de inflação, menos crescimento, mas o Brasil continua com bom prognóstico. Estamos falando de uma inflação de 6% ao ano. Antigamente essa taxa era a inflação da semana no Brasil. O Brasil mudou muito e estamos em outro patamar. As mudanças colocaram o Brasil entre as maiores nações do mundo –, avaliou Sardenberg.

O Programa Diálogos Universitários é um projeto realizado, desde 2005, em parceria com universidades, com o patrocínio da empresa Souza Cruz. Já foram realizadas 29 edições do evento, nas quais profissionais do mercado levam seu conhecimento para contribuir para a formação acadêmica dos alunos. Com a participação da Ayra Consultoria (Empresa Júnior de Gestão de Negócios da UFRJ), essa foi a primeira vez que o encontro foi realizado na UFRJ.