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Iniciada a II Semana de Jornalismo da UFRJ

 Na manhã desta segunda-feira (29/09), no Auditório Pedro Calmon, foi dada abertura à II Semana de Jornalismo da UFRJ, intitulada “Meio a Meios”. O evento, que é organizado pelos estudantes do Programa de Ensino Tutorial da Escola de Comunicação (PET-ECO), visa instigar a reflexão sobre as formas contemporâneas do Jornalismo, seja através da realização de mesas-redondas, que contarão com diversos professores e profissionais da área, ou de oficinas. 

Segundo professores que participaram da mesa de abertura, como Ivana Bentes, diretora da ECO-UFRJ e Ana Paula Goulart, coordenadora do Curso de Jornalismo da UFRJ, essa semana é especial, já que ela propõe o questionamento do papel do jornalismo no cenário descentralizado do mundo pós-Internet, dos blogs. “Devemos pensar a relação da cidadania com a multiplicação dos agentes do discurso, dos produtores de informações.” – afirmou Ivana Bentes. Outro professor que enalteceu a iniciativa do “Meio a Meios” foi Mohammed ElHajji, coordenador do PET-ECO. “É um evento feito por alunos para alunos.” – ressaltou o professor Mohammed ElHajji. 

Outro tópico comentado pelos integrantes da mesa foi a necessidade do diploma de jornalista para o exercício da profissão. “Essa discussão trouxe um novo vigor para o jornalismo. Afinal, o que é comunicação? O debate é fértil e interessante.” – confessou Cristina Rego Monteiro, coordenadora do Ciclo Básico da ECO/UFRJ. 

O assunto também foi abordado na palestra de Muniz Sodré, professor da Escola de Comunicação, cujo tema era “Blogueiro é jornalista?”. “Eu acredito que o diploma ainda é válido, afinal, o “blogueiro” ainda não possui a mesma credibilidade de um jornalista na hora de produzir informação. A atuação dele como testemunha e de suas fontes ainda não transmitem a mesma confiança que um jornal, por exemplo.” – afirmou Muniz Sodré. 

Na conferência, ele comentou as mudanças sofridas pelo jornalismo nos últimos anos, causadas pelas novas possibilidades técnicas. “Estamos num momento de “ataque” ao termo jornalismo, já que a informação está em qualquer lugar e, cada vez mais, qualquer indivíduo tem os meios para distribuí-la, todos são mídia. Com isso, percebemos a ocorrência de uma mutação na identidade do jornalista, reflexo do surgimento dessas novas práticas de produção da informação.” – ponderou Muniz Sodré. 

– Com o excesso de informação e a explosão dos agentes de discurso, não se vê mais a linha de separação entre mídia e público, principalmente na Internet. Nesse novo cenário, o leitor passivo, centralizado nos livros, vira usuário ativo, graças as suas ferramentas, como blogs ou podcasts, que lhe permitem a produção de conteúdo. Além disso, a atenção da audiência, cada vez menor, vem sendo disputada acirradamente pelos meios de comunicação. – apontou Muniz Sodré. Ele também comentou o peso da intervenção pessoal nas novas formas de discurso que circulam no ambiente público e as alterações na autenticação das fontes utilizadas pelos jornalistas. 

Outra conseqüência do surgimento de novos dispositivos técnicos na comunicação analisada pelo professor Muniz Sodré foi o processo de hibridização da cidade e de sua organização com os meios de comunicação, que por sua vez acarretou num novo olhar sobre o tempo e o espaço, agora interligados, criando a idéia de “tempo real”. “Nessa nova concepção de tempo, o imediatismo se impôs sobre a memória, ao não permitir a existência de uma “espessura temporal”, de um momento de reflexão sobre os elementos e acontecimentos que nos cercam. Podemos observar isso na distinção entre trabalho e diversão, que agora não existe mais.” – comentou Muniz Sodré. 

As atividades do “Meio a Meios” irão até quinta-feira. A programação e a relação de palestrantes está disponível no site www.meioameios.com.