O Jornalismo em Pauta – evento que debateu a obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão – ocorreu ontem, dia 11 de setembro, na sala Oduvaldo Vianna Filho da Escola de Comunicação da UFRJ (ECO) e contou com Suzana Blass, presidente do Sindicato dos Jornalistas, e Ivana Bentes, diretora da ECO, como debatedoras, além de Ana Paula Goulart, coordenadora do curso de Jornalismo da ECO, como mediadora.
A questão, já diversas vezes discutida, ressurgiu com a decisão do Supremo Tribunal Federal em aceitar uma ação que questiona a obrigatoriedade de diploma para jornalistas. Um assunto concernente a uma categoria tornou-se, contudo, questão nacional “por interesse e pressão dos meios de comunicação”, declara Blass. A presidente do Sindicato afirma ainda que toda a discussão acerca do diploma de jornalismo tange apenas um ponto da questão e o que está em jogo é, na verdade, a regulamentação da profissão como um todo, que tais grupos desejam acabar.
Outra crítica à obrigatoriedade trazida e refutada por Suzana Blass é a de ferir o princípio de liberdade de expressão. É falso, segundo ela, pelo fato do jornalista dar voz a várias pessoas e profissionais, agindo como mediador entre a produção de informação e a sociedade. A atuação do jornalista permite também maior abrangência, afirma Blass, ao compará-lo a especialistas que atuam no meio jornalístico: “o que me garante que um especialista em economia vai ter uma visão particular e não vai dar mais informação que um jornalista que irá consultar três profissionais da área?”.
Suzana termina seu discurso afirmando que, apesar de em tese o diploma não parecer importante, na prática ele o é porque forma uma unidade profissional numa profissão que exige grande responsabilidade social. E atenta ainda que supor especialistas trabalhando na redação é um pensamento hipotético já que a não-obrigatoriedade do diploma irá permitir que qualquer um, independente de formação superior, exerça a profissão.
“Acho que essa questão da manutenção do diploma de jornalista hoje chega atrasada em 10 ou 20 anos”, começa Ivana Bentes, com discurso completamente contrário ao de Blass. A diretora da ECO lembra de discussão travada, no começo da década de 1990, em torno da informatização das redações de jornal: “o sindicato e as corporações às vezes tem uma visão muito curta, pois nesse momento crucial, quando chegava uma nova tecnologia para mudar completamente a produção intelectual no campo da informação, o sindicato se preocupava com o fim do copy desk. Parece-me, então, que essa discussão da manutenção do diploma hoje é o mesmo tipo de cegueira diante de um panorama de transformações que estão acontecendo”, critica Bentes.
A diretora questionou a excepcionalidade da exigência do diploma de jornalismo frente às outras carreiras de comunicação livres dessa obrigatoriedade – como as de locutores, radialistas, publicitários, designers, exemplifica – e que, contudo, não deixam de ter formação de ensino superior, ética e pensamento crítico.
– Quando um aluno da Escola de Comunicação (ECO/UFRJ) recebe o diploma de comunicação social, o que vem carimbado timidamente atrás é a habilitação – radialismo, publicidade, jornalismo ou produção editorial. E esse carimbo vai decidir que funções vocês irão poder exercer ou não. O que me parece absolutamente injusto com todas as outras habilitações, ressalta.
Ao final, Bentes afirmou ainda que no amplo contexto de mudança social, tecnológica e em diversos níveis que vivemos, em que a sociedade tem acesso aos meios de produção, distribuição e circulação da informação, o consumidor não precisaria mais de um “guardião” ou “filtro” da informação. O que significaria, para ela, uma busca por novas formas de mediação pelo jornalista do século XXI.