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UFRJ debate as grandes questões da Economia brasileira

Na última sexta-feira, dia 22 de agosto, os professores do Instituto de Economia (IE) da UFRJ Reinaldo Gonçalves e Ernani Teixeira Torres Filho reuniram-se no auditório Pedro Calmon para discutir A grande deterioração recente das contas externas do país. Esse foi o quarto encontro do ciclo de debates “Grandes Questões da Economia Brasileira”, promovido pelo IE, que tem como proposta focalizar assuntos atuais e relevantes para a economia brasileira.

Reinaldo Gonçalves, o primeiro a proferir seu discurso, defendeu a tese de que a vulnerabilidade externa é a grande vilã da deterioração das contas externas brasileiras. O professor tomou como referência seu livro A Economia Política do Governo Lula, escrito juntamente com Luiz Filgueiras. De acordo com ele, a vulnerabilidade externa divide-se em três diferentes âmbitos: conjuntural, comparada e estrutural. E através de gráficos explicativos, justificou suas teses, dividindo a exposição em dois períodos: de 2003 a 2006 e de 2007 a 2009.

Gonçalves analisou, assim, que a vulnerabilidade conjuntural – diz respeito a uma análise de curto prazo e é determinada pelas opções e custos do processo de ajuste externo – melhorou no primeiro período (2003-06) graças ao bom comportamento da economia mundial, “apesar dos erros governamentais”, salientou. Já a partir de 2007, há uma forte tendência à deterioração causada, segundo ele, pela queda do saldo comercial e pela perda do fôlego do dinamismo de exportação. Já no âmbito da vulnerabilidade comparada – desempenho brasileiro frente ao mundial – o professor declarou que não se alterou no período 2003-06 em relação ao governo anterior, apesar da conjuntura internacional favorável, mas salientou que o saldo de transações correntes do balanço de pagamentos melhorou muito no governo Lula. O professor afirmou ainda que a partir de 2007 o país passa por um processo de deterioração nesse contexto, com projeções pelo FMI de que o déficit de transações correntes vai piorar.

Finalizando, o professor explicou que nossa vulnerabilidade estrutural tende a piorar frente a pressões de fatores desestabilizadores externos. De acordo com Gonçalves, houve deterioração nos dois períodos analisados motivada principalmente pela crescente liberalização das esferas (comercial, produtivo-real, monetário-financeiro e tecnológica) que potencializou os riscos de crise.  O professor, ao final, ainda ressaltou o cuidado que se deve ter com os indicadores oficiais, pois há desvio do ponto de vista técnico. E termina de forma pessimista, ao falar das perspectivas econômicas brasileiras no período 2008-09: “Pior dos mundos”.

Ernani Teixeira Torres Filho, que também é chefe da secretaria de Assuntos Econômicos do BNDES, realizou um discurso bem mais otimista, porém com algumas ressalvas. Ernani falou sobre a evolução recente e as perspectivas para as Contas Externas brasileiras. De acordo com ele, de 1980 até 2003, o Brasil apenas administrou crises, mas a partir de 2004 o país acompanhou o crescimento mundial, com aceleração da taxa de investimento. O professor ressaltou que a taxa de investimento está crescendo duas vezes mais que o produto e que o investimento cresce acima do PIB há 12 trimestres. Há uma previsão, a partir de estudos do BNDES, que essa taxa deva alcançar 21% do PIB em 2010.

O economista declarou ainda que o superávit em transações correntes sustentou o crescimento econômico e permitiu que a dívida externa acabasse, reduzindo a fragilidade das empresas. As contas externas, contudo, deterioram-se em grande velocidade provocada essencialmente pela diminuição do saldo comercial – a redução da taxa cambial provocou um salto de demanda – e pela remessa de lucros. Ernani salienta ainda que o canal obscuro da crise foi a queda, desde de junho de 2008, dos commodities agrícolas. E se pergunta: “O Brasil pode absorver a redução nos preços das matérias-primas?”. Finaliza seu discurso fazendo as seguintes observações: a crise internacional tende a ser longa e levará a um baixo crescimento; o Brasil vai crescer menos do que o esperado, mas o ciclo de investimento pode ser mantido.

 O ciclo de debates “Grandes Questões da Economia Brasileira” é voltado principalmente aos alunos do curso de Economia, mas é aberto a todo o público. Novos debates estão previstos para setembro e outubro, e o próximo tema será sobre o aumento da inflação. Não perca!