A ECO-Pós promoveu na terça-feira (19) a palestra “Silvino Santos: Imagem e Modernidade no Brasil”, ministrada pela professora Luciana Martins. Ela é responsável pela disciplina de Estudos Brasileiros no Birkbeck College, em Londres.
A professora inicialmente deu uma visão geral sobre a imagem e a modernidade no Brasil do início do século XX. Para isso, ela mostrou fotografias de indígenas, contextualizando com a época. A primeira imagem mostrada pode ser encontrada no Museu do Índio e uma rápida descrição de Luciana Martins aponta para uma índia “civilizada”, posando como datilógrafa, com o olhar para a câmera. Ao fundo, uma tela que faz uma alegoria da morte do poeta romântico Gonçalves Dias, que morreu num naufrágio. É interessante observar as entrelinhas que revelam uma inversão de cânones: “Aqui, em vez do indígena, é o poeta que perece na orla marítima. Segundo a doutrina positivista, indígenas não eram considerados como pertencentes a uma raça inferior, mas apenas como representantes de um estágio diferente, anterior, de evolução social”, destaca a Professora Luciana.
Luciana fala no poder das imagens. Como exemplo, cita o General Rondon, fundador e diretor do Serviço de Proteção ao Índio, afirmando ter sido ele um explorador das tecnologias visuais modernas. Ao exibir The Last of the Bororos, produzido em 1930 pela norte-americana Aloha Baker, podemos constatar uma das diversas formas de visualização do Brasil: “um cenário exótico, tropical, um território delineado no papel, uma população dócil, ingênua, imagens estas seguidas pelas da jornada para o ‘coração do continente’. Em linhas gerais, as cenas introdutórias do documentário de Baker são um convite para a exploração do território, com o endosso de seu mais importante desbravador, General Rondon”, afirma a professora, que considera mais interessantes cenas em que brasileiros aparecem mais à vontade diante das câmeras, demonstrando uma familiaridade com tecnologias modernas.
Outro ponto de destaque de Luciana é a pesquisa dos modos de visualização de fotografias, mapas e filmes, fazendo uma análise de como se dá não somente a representação da transformação do país, como também a participação ativa dessas iconografias em sua transformação. É neste contexto que se insere Silvino Santos. O cineasta pioneiro da Amazônia produziu em 1922 um de seus maiores sucessos, No Paiz das Amazonas. O foco que Silvino atribui à Amazônia difere de tudo documentado até então, porque deixa de lado a exibição de um povo e de uma região exótica, para ressignificar por meio do documentário uma outra Amazônia, como alguns reagiram na palestra. Isso acontece porque a temática se refere ao trabalho, capital e lucro da região.
Em 1923, Silvino Santos documentou também a cidade do Rio de Janeiro no filme A Terra Encantada. Pelo título já podemos ter uma idéia da visão do cineasta sobre os habitantes e as paisagens cariocas. A câmera passeia pela Baía de Guanabara, Praia de Copacabana, Rua do Ouvidor e até por um jogo de futebol. “A câmera de Silvino nos revela um lado mais ‘leve’, aberto aos prazeres da vida moderna. Ele representa uma visão deslumbrada da cidade num período conturbado de sua história”, declara Luciana, finalizando ao dizer que Silvino Santos fez imagens singulares do espaço brasileiro em transformação, ao explorar possibilidades fílmicas com certa liberdade.