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Memória

Instituto de Psicologia faz homenagem a seu primeiro diretor

 Foi realizada na manhã dessa terça-feira (26/8), como parte da V Semana de Psicologia da UFRJ, uma celebração ao centenário do professor Jayme Grabois, primeiro diretor e fundador do Instituto de Psicologia da então Universidade do Brasil, hoje UFRJ, afastado do cargo por motivos políticos em 1947, período do governo Dutra. Na solenidade estiveram presentes o reitor Aloísio Teixeira, o professor emérito Antônio Gomes Penna, a vice-diretora do departamento de Psicologia Social do Instituto de Psicologia (IP), Virgínia Souza Drummond, o chefe do departamento de Psicologia Social, professor Francisco Portugal e um dos filhos de Jayme Grabois, Vitor Grabois.

Vitor Grabois, representando toda a família do professor homenageado, recebeu do reitor uma placa comemorativa ao centenário de seu pai, que segundo Francisco Portugal foi uma importante figura para a psicologia no Brasil ao formar aqueles que seriam os futuros professores dos cursos de psicologia quando a profissão fosse reconhecida por lei nos anos de 1960.

Jayme Grabois, nascido em Buenos Aires e de família judia, teve seu primeiro contato com a psicologia na década de 1920, quando se tornou assistente do professor Radecki, cientista polonês que chefiava o Laboratório de Psicologia da Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro. Segundo Antônio Gomes Penna, autor do livro História da Psicologia no Rio de Janeiro, foi a partir deste laboratório que se criou o Instituto de Psicologia, inicialmente vinculado ao Ministério da Saúde e, mais tarde, incorporado à Universidade do Brasil, como órgão suplementar.

Seu afastamento do cargo de diretor do IP foi oficialmente justificado pelo fato de que Grabois não era um professor catedrático, porém o seu envolvimento com o Partido Comunista, incentivado por seu irmão militante Maurício, parece ser a explicação mais plausível.

— Jayme foi o retrato vivo da perseguição e da discriminação que os comunistas sofreram e sofrem ainda hoje no Brasil, não só nas seguidas ditaduras, mas também no intervalo destas ditaduras. A elite brasileira sempre usou a palavra democracia para não praticá-la integralmente. Havia e há o risco de que esta incompatibilidade, orgânica e visceral, da elite em relação à democracia nos cause retrocesso. Foi esta mesma perseguição e discriminação que se abateu sobre o professor Jayme Grabois impedindo que ele, no auge de sua carreira acadêmica como pesquisador e cientista, pudesse continuar a conviver conosco na Universidade do Brasil — disse o reitor sobre o professor que, anistiado depois de sua morte, foi reintegrado in memoriam ao quadro da universidade.

O filho de Grabois fez um discurso em memória ao pai exaltando suas particularidades, hábitos cotidianos e vivência em família: “Papai transmitiu aos filhos, além do amor e carinho, valores ligados ao humanismo, à solidariedade, à gentileza e a importância do estudo.” Também destacou a forte relação de seu pai com o IP e sua contribuição para o futuro: “Por mais que ele tenha se dedicado à clínica a partir de 1947, sua paixão ficou aqui no Instituto de Psicologia, amor brutalmente interrompido sem explicações e injustamente. Homenageá-lo é resgatar a sua mágoa, mas não para queixarmos em nome dele e sim para que seu caso possa iluminar as gerações vindouras sobre a incompatibilidade do espírito científico, dedicação a coisa pública e prazer em ensinar com a existência de regimes autoritários calcados no pensamento único”.