O Programa de Educação Tutorial da Escola de Comunicação da UFRJ (PET-ECO) promoveu na tarde desta sexta-feira, (8/8), uma mesa temática sobre Comunicação Ambiental que fez parte da II Semana de Integração do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da UFRJ. Estudiosos e pesquisadores da área reuniram-se para discutir as bases deste novo campo de investigação científica e refletir sobre suas implicações político-sociais.
Estiveram presentes no encontro diferentes gerações de estudiosos, dentre eles Manuela Andreoni, estudante do 4º período da Escola de Comunicação da UFRJ e bolsista do PET, que abriu as discussões da mesa com uma breve introdução à Comunicação Ambiental. Manuela ressaltou a importância desta comunicação no mundo atual que deve ser adotada, segundo ela, para produzir no público um impacto cognitivo. “A comunicação ambiental deve estimular a consciência crítica. Ela não se limita a questões técnicas, mas implica processos psicossociais como a constituição de sentidos na comunidade e identidade” disse a estudante, reforçando que o uso aleatório ou indefinido de noções e conceitos específicos pode gerar a distorção do processo comunicativo e por conseqüência a deturpação, intencional ou não, da sua finalidade política e social.
– A informação ambiental de qualidade deve apontar os fatos geradores da crise, para que o público tome consciência da totalidade do problema e possa atuar sobre as causas e não apenas sobre os efeitos -, argumentou Manuela que defende a tentativa de desenvolver a capacidade da sociedade de responder apropriadamente às mensagens ambientais relevantes ao bem estar tanto da civilização humana quanto dos ecossistemas do planeta.
A graduanda ressaltou ainda que a mídia e a academia têm o dever de educar, questionar e avaliar criticamente as prospostas de impacto ambiental defendidas ou subordinadas à elite e seus interesses. O papel delas seria tornar as representações do meio ambiente mais claras e acessíveis ao público de modo que aqueles afetados pelas ameaças à qualidade do seu meio ambiente possam participar das decisões. “A universidade deve permitir e incentivar o compartilhamento de experiências e a interação entre comunidades e com o mundo natural.”
O radialista Gustavo Barreto, responsável pela segunda comunicação do encontro, lembrou iniciativas da universidade para a melhor compreensão da comunicação ambiental. Apontou que o PET-ECO organizou a 1ª Semana Nacional de Comunicação Ambiental, reunindo especialistas da questão do meio ambiente, profissionais da imprensa especializada e militantes verdes para discutir a realidade desta comunicação. Além disto, o grupo PET-ECO também criou uma disciplina voltada especificamente ao tema, organizou um quadro reflexivo para debater a questão ao nível nacional e participa de pesquisas de campo relativa ao meio ambiente.
Um exemplo de pesquisa é o projeto Ressurgência, realizado pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) em parceria com a Petrobras. Trata-se de uma pesquisa de campo em torno da pesca extrativista que contou com a participação direta do grupo da ECO, o que possibilitou, segundo Gustavo, um amadurecimento de suas idéias sobre a questão.
Israel Oliveira, também integrante da mesa, expôs sua idéia de que o saber científico, base da definição da problemática ambiental, é muitas vezes usado para uma intervenção inteiramente instrumentalizada em determinado local que parece resolver um problema ambiental, mas cria outro problema. Um exemplo seria a criação de reservas ambientais que acabam por separar o ambiente em uma área de isolamento que deve ser protegida e outra área que é “o resto do mundo”. Então se cria o problema do destino que será dado às populações que já habitavam aquele território escolhido para a preservação.
— A comunicação ambiental deve ser entendida como um campo de interação entre o sujeito e o meio ambiente que o cerca, incluindo tanto a dimensão física e natural como também a social, cultural e subjetiva — disse Mohammed ElHajji, coordenador da pesquisa do PET-ECO intitulada Comunicação Ambiental para o Desenvolvemento Local que visa justamente o desenvolvimento de técnicas de comunicação ambiental que tornem as informações relativas ao meio-ambiente e suas implicações sociais e humanas, claras à população em geral.
Mohammed defendeu que a comunicação ambiental deve partir de uma centralidade local e comunitária, mas sem ignorar a necessidade de incentivar o sentimento de solidariedade global que une a espécie humana. O discurso científico deve, segundo ele e todos os comunicadores da mesa, ser adequado à realidade local dos grupos sociais. Para tal, a comunicação deve se usar dos hábitos culturais, do imaginário e das práticas simbólicas dos grupos. “As técnicas comunicativas devem estar enraizadas no cotidiano do público alvo, voltadas para seu desenvolvimento e abertas sobre o plano global de nossa condição moderna” concluiu o professor.