As férteis terras, que fizeram brotar Caetano e Bethânia, geraram também um jornalista ávido por explorar um recém-descoberto dom: fotografar. O que antes era apenas um hobby na vida de Edmilson Silva ganhou reais dimensões com a bela e viva exposição “Imagens e Palavras”, localizada no hall da entrada principal do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ.
O baiano de Santo Amaro da Purificação não consegue esconder a felicidade de mostrar sua obra. Alegria maior ainda, é vê-la reconhecida pelas dezenas de nomes que enchem as linhas do caderno de visitas. E como não ficar contente, com tal reconhecimento em sua primeira exposição? Afinal, com a aprovação do público, o “debutante” da fotografia, como ele mesmo se define, ganha fôlego e incentivo para alçar vôos mais altos, como a concretização do livro ainda sem nome que o jornalista planeja lançar. A partir daí, ninguém consegue mais deter os sonhos do conterrâneo da centenária Dona Canô.
E pensar que não fossem os muitos pedidos de Eliana Gesteira, diretora do Centro Cultural do Hospital Universitário (CCHU) talvez o artista nunca mostrasse seu trabalho. Somente após anos de insistência da diretora formada em belas artes, Edmilson deixou o receio de lado e arriscou uma exposição no Hospital. E foi assim, que se tornou fotógrafo.
Mas aceitar o convite significava mais que longas horas de cansativa seleção de fotos, pois para isso ele contou com o bom gosto de amigos, esposa e da própria diretora do CCHU, significava assumir o compromisso de humanizar o gélido ambiente hospitalar. Um projeto que o centro cultural carrega com bastante empenho. E que sem dúvidas Edmilson está obtendo sucesso. Basta olhar para os cantinhos rabiscados do caderno de visitas para ver os agradecimentos dirigidos a ele por levar a arte ao lugar. E como diria o jornalista “A vida envolve todos os aspectos, desde a dor à poesia”. Está certo, Edmilson…
É claro que quem nasce para escrever, dificilmente perde o hábito. Quase como um desafio ao velho provérbio chinês “uma imagem vale por mil palavras”, há acompanhando a maioria das fotografias um texto, em poesia ou em prosa, contando uma história, não para dar sentido às imagens, mas para “colorir a memória”. Como uma tarde em Pedra de Guaratiba, remetendo à infância na terra natal do artista, quando as crianças saíam para defender “o de comer”, como se dizia, no mangue. É um mergulho no passado compartilhado com os visitantes. O cotidiano expresso em centenas de cores, da roda-gigante de um parque ao tênis displicentemente jogado na fiação elétrica. Cenas que às vezes passam despercebidas, mas que o fotógrafo faz questão de retratar.
Uma imagem favorita? O artista se encabula, pensa, clama pela ajuda da esposa. Realmente difícil, mas para quê decidir por uma. São tantos os lugares retratados Brasília, Ilha do Fundão, Tijuca. Muitos os tempos em foco. Deixa essa escolha para os apreciadores da obra, que não à toa aumentam em número a cada dia, Edmilson além de talentoso carrega muitos amigos do hospital, onde foi assessor de imprensa por oito anos. Esse carinho devotado a ele é perceptível nos apertados abraços que faz questão de retribuir enquanto caminha orgulhoso pela própria exposição.
É com o sotaque melódico de um baiano de Santo Amaro que Edmilson Silva deixa o convite a todos aqueles que puderem comparecer até o próximo dia 20 ao saguão do Hospital e compartilhar com ele “os momentos especiais que na pressa diária passam despercebidos”, mas que foram captados pelas lentes atentas do fotógrafo. E se possível, ainda aproveitar a visita para conhecer, o lugar de onde saiu a organização do “Imagens e Palavras”: o Centro Cultural do Hospital Universitário, localizado no subsolo e aberto das 9h às 16h, onde pode-se acessar um acervo de livros e divertir-se nas aulas de xadrez ministradas sempre em horário de almoço por jogadores mais experientes.