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Aula Inaugural da Eco-Pós com Randal Johnson

O professor Randal Johnson, diretor do Instituto Latino Americano da Universidade da Califórnia (UCLA), esteve nesta quarta-feira (20) no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ. Ele ministrou a aula inaugural intitulada “A Tela Distante” do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFRJ (PPGCOM). A palestra foi mediada por Micael Herschmann, coordenador do PPGCOM.

Randal Johnson se comprometeu em abordar o olhar de estadunidenses sobre o cinema brasileiro, numa análise detalhada de reações a filmes nacionais relevantes. Dentre eles os aclamados Cidade de Deus, Central do Brasil, Carandiru, Ônibus 174 e os mais recentes O ano em que meus pais saíram de férias e A Casa de Alice. “Esses filmes dão o perfil do cinema brasileiro nos Estados Unidos”, afirmou Johnson.

Filmes que tem a violência como tema são os que mais se popularizam, tanto aqui no Brasil, como nos EUA. E na maioria dos casos não há grandes surpresas nas avaliações de críticos norte-americanos quanto a estes filmes, pois o público os recebe bem, atribuindo a eles adjetivos positivos. Podemos citar o exemplo de Cidade de Deus, que nos EUA foi considerado um filme devastador, brilhante, que “pulsa com atmosfera e vibra com autenticidade” — palavras de críticos que Johnson usa como exemplo. “Outras pessoas confundem o filme com realidade. O que tem diminuído um pouco a venda de passagens aéreas para o Rio”, diz o professor, provocando risadas dos presentes na aula inaugural.

Lançado em 2007, A Casa de Alice conta o cotidiano problemático da manicure Alice, moradora de periferia em São Paulo. A alta avaliação entre críticos norte-americanos ao A Casa de Alice, um drama considerado filme de arte, e que se diferencia dentre o quadro de filmes brasileiros mais aplaudidos, surpreende o Prof. Randal Johnson: “Em maioria, não há grandes surpresas. Mas no caso de A Casa de Alice talvez seja surpreendente. É muito bom filmes como esses”.

O cinema brasileiro na universidade

O Prof. Randal Johnson comenta os departamentos que lecionam cinema em diferentes universidades norte-americanas. Com isso, ele revela departamentos que não ensinam sobre o cinema brasileiro, como os de Cinema e Cinema e TV. Acaba por ocorrer uma segmentação fortemente questionada por Johnson, pois filmes brasileiros aparecem apenas em disciplinas denominadas Cinema de Terceiro Mundo e Cinema Não-Ocidental.

Apesar disso, há em outras universidades departamentos comprometidos em fazer abordagens teóricas sobre a cultura do cinema brasileiro, alegorias do subdesenvolvimento, questões identitárias, além de darem ênfase ao contexto cultural.

Ainda no âmbito acadêmico, Prof. Johnson expõe uma extensa lista de obras produzidas nos EUA que têm o cinema brasileiro como tema principal. São estudos com embasamento sociológico, comparação e análise cultural comparada.

Estudar como as produções cinematográficas brasileiras são vistas e avaliadas pela potência norte-americana também reflete no modo de se fazer cinema aqui. Por isso, o Prof. Randal Johnson, antes de finalizar, alertou quem pensa em fazer cinema no Brasil, dadas as dificuldades de exibição e distribuição: “Não tentar ser Tarantino, não tentar ser como os americanos”.