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UFRJ recebe da Caravana da UNE

 Depois de fechar acordos com os Ministérios da Saúde e da Educação, a União Nacional dos Estudantes deu início à Caravana da UNE. A caminhada, que deve passar por mais de 40 universidades em todo o Brasil, deu o primeiro passo com um debate na UFRJ, ontem, 13 de agosto. Representantes da UNE, com o apoio do grupo de atores “Tá na Rua”, artistas plásticos e circenses, se reuniram no Centro de Ciências da Saúde da Universidade para discutir os temas que dão o tom do ciclo de visitas que deve durar cerca de quatro meses: saúde, educação e cultura.

Como é de se esperar, temas dessa abrangência deram margem para as mais diversas reflexões sobre o Brasil e os papéis que a sociedade deve desempenhar para alcançar os objetivos propostos. Para ajudar nessa conversa, o Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (Cebes) disponibiliza um representante por estado visitado, que fica incumbido de participar das mesas redondas organizadas pelo grupo. No Rio de Janeiro, a responsável do Cebes é Ligia Bahia, que além de integrante do Centro é também professora do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC).

Antes dos temas propostos, um assunto foi inevitável: era flagrante a ausência dos alunos à mobilização. A falta de envolvimento dos estudantes com o debate despertou discussões sobre o que fazer com o movimento estudantil no Brasil. “Participei das mobilizações da UNE, apanhando da polícia nos meus tempos de militância. A UNE foi criada a partir de mobilização e não é mais isso o que está acontecendo hoje. Precisamos nos perguntar se essa é a melhor forma de mobilizar o Brasil”, opinou a professora, referindo-se aos anos em que o movimento estudantil era duramente reprimido pela ditadura militar.

Para Flávia Calé da Silva, diretora de Universidades Públicas da UNE e estudante de História da UFRJ, a idéia é trazer, com a nova política da UNE, uma proposta de renovação, que aprenda a dialogar mais com a juventude. “Com a Caravana, nos propomos a ouvir o que pensa a juventude brasileira e formar nossa pauta a partir daí. O espaço da cultura ajuda a pensar novas linguagens para melhorar a comunicação e o diálogo”, destacou a estudante, se referindo à parceria com grupos artísticos como o “Tá na Rua”.

Caravana e saúde

A professora acredita que os desafios enfrentados pelo Brasil devem ser resolvidos com uma ampla modificação de toda uma cultura e senso comum. Com a saúde não é diferente. O tema, novidade entre os debates mais freqüentes da UNE, é um dos pontos fortes da Caravana. Na visão de Lígia Bahia, essa é uma área em que a mobilização também é fundamental. A professora destacou o desinteresse da população pela luta por uma sociedade mais igualitária. “Não há uma grande pressão na sociedade para que os direitos sejam iguais para todos. Pelo contrário, hoje há uma pressão na sociedade brasileira para que os direitos sejam cada vez mais diferenciados”, observa a docente.

Para Bahia, apesar da importância do diálogo sobre bons hábitos de saúde, a Caravana da UNE e a relação entre os integrantes do Cebes com a juventude deve resultar em algo mais abrangente. “É evidente que é muito importante falar aos jovens sobre o uso da camisinha e do perigo em misturar álcool e direção, por exemplo, mas é importante dizer também que só isso não os tornará saudáveis. Vocês serão muito saudáveis se vocês participarem da sociedade, com projetos sociais. Vocês serão muito mais saudáveis se acreditarem que o Brasil pode deixar de ser um país de periferia do capitalismo”, aconselhou a professora.

Próximas paradas

Ainda no Rio de Janeiro, a programação previa, para hoje, 14 de agosto, a visita da Caravana à Universidade Estácio de Sá. Nos próximos dias, o grupo parte para Espírito Santo e em seguida para Minas Gerais, passando por instituições de destaque com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a USP. Para a empreitada, a UNE conta com o apoio do Ministério da Saúde, que repassou cerca de R$ 2,8 milhões para o projeto.