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Aula Inaugural de Dermatologia aborda atendimento humano do médico

A necessidade de médicos que compreendam o sofrimento dos pacientes, e que apresentem princípios como humildade e respeito na forma de atendimento foi apontada pelo professor Celso Tavares Sodré, membro da Liga Acadêmica de Dermatologia, em aula inaugural da classe.  A apresentação ocorreu na manhã dessa segunda-feira, (11/8), no auditório Halley Pacheco, nas dependências do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ).

O professor recebeu os estudantes de maneira acolhedora, não apenas abordando a importância da Dermatologia na formação profissional, mas também o quão fundamentais são os valores que devem existir na relação entre médico e paciente. Segundo Celso Sodré a Dermatologia possui mais de 2500 diagnósticos possíveis, com variações e diferentes manifestações físicas, características que transparecem o tamanho e a complexidade da área. “Infelizmente, apesar da grandiosidade, essa é uma especialidade tida diversas vezes com pouco caso por outros profissionais. Porém, seu grau de utilidade na medicina é enorme”, relata Celso.    

O professor alertou para a Dermatologia na composição de um conhecimento médico completo, essencial para que haja uma avaliação global do paciente, o que é útil ao profissional de qualquer área, do ortopedista ao gastroenterologista. “Em qualquer especialidade, haverá a oportunidade de atender a problemas dermatológicos do paciente, pois sinais cutâneos advertem inúmeras doenças relacionadas a outras áreas, como por exemplo, o câncer. A dermatologia compõe o conhecimento básico do médico, independente da especialidade”, explica Celso.

Com o título “Aprendendo com as dificuldades”, o professor se propôs a falar de complicações que encontrou no exercício da medicina logo após concluir sua formação profissional, como uma forma de orientar os estudantes no início de carreira.  

De acordo com Celso Sodré, a consulta aprendida no hospital durante o período de estudo não proporciona momentos de privacidade com o paciente, devido ao grande número de médicos para um único atendido. Ele considera esta relação mais reservada como algo que norteia a vida do médico: “A privacidade é a possibilidade de estar cara-a-cara com o sujeito que te procurou em busca de ajuda, de socorro porque está sofrendo. O médico não vai tratá-lo apenas olhando para a pele, mas com muito aconchego e solidariedade para ouvi-lo. Este foi meu primeiro impacto no começo”, relata Sodré.

Para o professor, a humildade é essencial, principalmente ao médico novo, pois o paciente, ao detectar que está sendo atendido por um profissional recém-formado, pode desconfiar de sua capacidade. “O médico precisa assumir a condição de recém formado e dizer que está lá para ajudar. Outra grande humildade é reconhecer que a Medicina está muito longe de conhecer e saber tudo. Então, não temos todas as respostas, não por falha do médico, mas por falha da própria Medicina, que ainda não chegou lá”, constata Celso.

Sodré também chamou atenção para a necessidade do respeito ao horário do paciente. “Respeitar o horário do paciente é você ser o seu próprio paciente, ou seja, se colocar no lugar dele. Não podemos achar que somos deuses e o paciente tem que esperar. Nosso tempo não é mais precioso que o do paciente”, explica o especialista.

De acordo com o professor, é necessário que se dê tempo para que o paciente verbalize o motivo da consulta. “Apesar de nossa desvalorização, não podemos agir de forma desrespeitosa levando cinco minutos numa consulta que deveria durar meia hora. Existem duas situações: ou a pessoa fala de imediato seu problema, ou começa tentando esconder a realidade que o leva ao consultório. Um exemplo são as doenças sexualmente transmissíveis, que trazem uma idéia bíblica de pecado, transgressão. Deve-se dar espaço para que esse temor se manifeste e o médico ajude onde o paciente está pedindo” retrata Celso.

Segundo Sodré, o médico não deve omitir a verdade, mas saber dar a informação com cuidado, sabendo toda a carga de emoção e dor que o resultado do diagnóstico carrega junto. “Contudo, o paciente deve ter noção do seu caso para também não achar que vai chegar ao estágio mais avançado da doença, pois isso não ocorre necessariamente” aconselha Celso. O professor finalizou explicando sobre como devem ser os procedimentos do exame dermatológico.