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Terapia celular ganha reforço da Faperj

 O programa de Treinamento e Capacitação Técnica (TCT) da Faperj contemplou 32 dos 100 projetos que foram inscritos pela UFRJ. Destes, 22 foram do Centro de Ciências da Saúde (CCS). O TCT se destina a treinar e aperfeiçoar técnicos de nível fundamental, médio e superior que participem de atividades de apoio a projetos financiados pela Faperj. O programa visa valorizar a formação obtida e facilitar o posterior ingresso dessa mão-de-obra ao mercado de trabalho.

Um dos projetos contemplados no CCS foi o da professora Rosália Mendez Otero, chefe do laboratório de Neurobiologia Celular e Molecular do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF). Rosália, que vem trabalhando com terapia celular há seis anos, diz que o projeto submetido a Faperj: “Treinamento e Capacitação Técnica em Pesquisa com Modelos Animais de Doenças Neurológicas”, sob sua responsabilidade, é uma continuação de outros já em andamento em seu laboratório há bastante tempo.

Segundo a professora, a importância de seu trabalho se encontra no fato de abordar células-tronco e terapia celular, área do conhecimento considerada extremamente nova, não apenas no Brasil, mas em âmbito mundial. Sendo assim, não existem muitos profissionais experientes no assunto, havendo uma necessidade de aumentar este contingente. “Montar recursos humanos é uma grande preocupação, precisamos de pessoas treinadas para separar e cultivar as células, pois se imagina que um dia isto se tornará uma terapia”, afirma a professora.

Procedimentos do laboratório

No laboratório de Rosália Otero a área de interesse é a de doenças neurológicas. Lá existem pesquisas básicas, modelos pré-clínicos, e também há a realização de um estudo clínico em parceria com o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFFJ). “Na parte básica trabalhamos com células-tronco embrionárias de camundongos, células de medula óssea, células de cordão umbilical e células-tronco do sistema nervoso. Temos modelos animais de várias doenças neurológicas na parte pré-clínica” relata a professora.

De acordo com Rosália, antes da aplicação de qualquer terapia a um paciente, é necessário que haja um teste num modelo pré-clínico. Tenta-se reproduzir num animal, em geral rato ou camundongo, a doença humana, uma vez que estes não possuem as mesmas doenças que os seres humanos. “Se não for provado através do modelo animal que uma terapia é segura e eficaz, não haverá autorização dos Comitês de Pesquisa para que ela seja aplicada em pacientes”, observa Rosália.

Segundo a pesquisadora, qualquer medicação ou vacina só pode chegar ao paciente se for realmente segura, não tóxica, e não induzir malefícios. Da mesma forma ocorre com as células-tronco, que precisam ser estudadas no modelo animal. “De milhares de substâncias, drogas, vacinas que são testadas em modelo animal, uma chega ao paciente, pois várias delas não passam neste teste”, afirma Rosália.

Experimentos

O laboratório possui diversos modelos de pesquisa: acidente vascular cerebral (AVC), doença de Hungtinton (enfermidade degenerativa do sistema nervoso central), doença de Alzheimer, lesão de nervo óptico e lesão de nervo periférico. Há também o modelo de hipófise isquemia neonatal, doença que ocorre em crianças que tiveram problemas de respiração durante o parto e sofreram paralisia cerebral. Isso faz com que algumas células do sistema nervoso morram e a criança tenha problemas motores ao decorrer da vida.

Estes modelos animais são tratados com células-tronco, para que se observe caso haja melhora nas funções perdidas devido às lesões. “Em vários dos modelos já tivemos evidências de que houve uma melhora funcional. Um exemplo é o do AVC, em que as células-tronco de medula óssea do próprio animal melhoraram sua perda. Isto serve de base para um protocolo clínico”, aponta Otero.

Com esse protocolo, testa-se o tratamento em pacientes que realmente tiveram AVC. De acordo com a pesquisadora, no procedimento retira-se a célula-tronco da medula óssea e, com cateterismo, ela é colocada na artéria cerebral média, que é a que sofreu o AVC. É necessária a aprovação dos Comitês de Ética para realizar o estudo no hospital. O trabalho ocorre em paralelo com o departamento de Neurologia do HUCFF.

Bolsista

– O profissional precisa saber lidar com as células sem que elas se contaminem ou sejam destruídas. É preciso um treinamento bastante específico e bem feito, pois o paciente terá problemas caso as células reintroduzidas estejam contaminadas. Isto envolve uma grande complexidade, e a prática necessária leva tempo para ser adquirida – explica Rosália Otero.

Suelen Soares Sério, bolsista graduada em biologia selecionada para o projeto, será treinada em todos os processos que estão em andamento no laboratório. “A Suelen como técnica vai aprender a fazer cultura de célula embrionária, separar as células e injetar. Ela terá um treinamento e saberá como trabalhar com células-tronco, sejam elas embrionárias, ou adultas, e inclusive com as humanas que já estão sendo usadas em terapias”, relata a professora. Espera-se, numa média de dois anos, que a bolsista já domine conhecimento suficiente sobre células-tronco para trabalhar em um projeto clínico.