Duas novas tecnologias para transmissão de energia elétrica a longas distâncias, entre 2000Km e 3000Km, foram apresentadas hoje (21/07) pelos professores Alquindar Pedroso e Carlos Portela no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ). Jerson Kelman, diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) proferiu a palestra “Características do Potencial hidroenergético da Amazônia”, onde abordou as fontes alternativas e dados estatísticos das expectativas de demanda de energia para 2030, que segundo informou, deve ser maior do que toda a energia utilizada desde o século XIX.
Durante a palestra foram apresentadas ainda as principais restrições ambientais para instalação de usinas na Amazônia, região responsável por 43% do potencial hidroelétrico brasileiro de acordo com dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) de 2006. Entre elas, estão a presença de áreas indígenas e unidades de conservação federal na região. “A grande concentração de geradoras de energia elétrica no norte do país justifica a importância em se desenvolver tecnologias de transmissão a longas distâncias, visto que os principais centros consumidores estão localizados nas demais regiões, e, portanto distantes. Acho que as empresas do setor elétrico poderiam dar margem ao que fosse necessário para o aprofundamento de pesquisas nessa área de transmissão”, declarou Jerson Kelman.
Embora existam fontes alternativas como diesel, energia solar e gás natural, elas são demasiado caras para serem implementadas em larga escala. De acordo com o diretor-geral da Aneel, as expectativas giram em torno do uso de biomassa. “É muito importante que a energia proveniente da biomassa esteja disponível já em 2010. Há dois ambientes para as novas usinas que vão queimar ou as antigas que vão mudar de fronteira para poder queimar cana-de-açúcar e produzir energia elétrica. É o caso de São Paulo, que já possui usinas mas é preciso decidir como serão feitas as ligações para transmissão e as novas usinas nas fronteiras agrícolas, em Mato Grosso e Goiás, que representam na verdade o grande problema. É preciso planejamento e conexão dessas usinas à grande massa consumidora e isso ainda precisa ser estudado. Qualquer decisão que se tome em relação ao Rio Madeira, na Amazônia, será a médio prazo. Devemos estar preparados para que nas próximas usinas o assunto de transmissão já esteja amadurecido, declarou o diretor-geral da Aneel.
Pesquisas
De acordo com os dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), mais de 70% de toda energia utilizada no Brasil provém da hidroeletricidade. No entanto, as principais Usinas Hidroelétricas encontram-se afastadas dos grandes centros consumidores, o que dificulta a transmissão. Foi pensando nisso que Alquindar Pedroso e Carlos Portela desenvolveram respectivamente, “Sistemas de Transmissão segmentados”, e “Sistemas de Transmissão de energia de pouco mais de meio comprimento de onda”.
– Os planos nacionais elaborados pelo EPE apontam para cenários de expansão com hidroelétricas a partir da exploração dos potenciais das bacias da Região Amazônica. É preciso uma estratégia de expansão com ênfase na integração desse potencial com confiabilidade, flexibilidade e se possível com custo mínimo. Foi pensando nisso que desenvolvemos uma nova estrutura baseada na segmentação, informou Alquindar Pedroso.
O projeto apresentado pelo professor Pedroso consiste na realização de cortes nas linhas de transmissão, ao que chamou de back-to-back. “Ao realizar essa operação, é possível eliminar eventuais restrições de estabilidade entre gerador (usina) e recebedor (consumidor). A linha é cortada em secções por conversores eletrônicos de potência (dispositivos eletrônicos responsáveis por fornecer as correntes e tensões suficientes para melhorar a transmissão de energia). As secções de um lado do conversor operam assincronamente com as secções do outro lado, ou seja, com freqüência independente, o que significa que um problema que ocorreu em um sistema não afeta mais a rede por completo.”
Entre as vantagens fornecidas pelo sistema estão a maior estabilidade e controle sobre as tensões (força que movimenta os elétrons, partículas responsáveis pela geração da corrente elétrica e geração de energia) geradas nas usinas e poderia ser aplicado nas atuais hidroelétricas existentes no país, como Santo Antônio no Amazonas.
Alquindar Barroso apresentou outras pesquisas realizadas nos demais países e mostrou ainda como o foco de atenção para construção de uma usina mudou com o passar dos anos. “Antes, o que vinha em primeiro lugar eram os aspectos técnicos e depois a questão financeira. Meio ambiente nem importava muito. Hoje em dia, a situação se inverteu e o primeiro aspecto a ser levado em consideração é o meio ambiente em conjunto com as decisões políticas”.
Já a pesquisa apresentada pelo professor Carlos Portela consiste em um novo modo de operação das linhas de transmissão, mais eficaz, e com custos mais baixos. O sistema permite o uso de reatores (circuitos que proporcionam uma corrente de alta freqüência, menos perigosa) como uma solução barata para resolver problemas de sobrecarga na transmissão. As possíveis configurações a serem usadas variam de acordo com as condições climáticas da região como chuvas e ventos fortes.
Carlos Portela apresentou dados estatísticos sobre as causas dos curtos-circuitos que afetam as transmissões, e entre as principais estão as descargas atmosféricas, quedas de estruturas e queimadas. “A tecnologia de pouco mais de meia onda (termo técnico usado para se referir ao tamanho da linha de transmissão) permite reduzir os curtos-circuitos e assim, os seus efeitos prejudiciais”, concluiu o professor.