Na tarde desta quinta-feira (24 de julho), o XIV Congresso Latino-Americano de Estudantes de Engenharia Química (COLAEIQ) – sediado pela Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EQ/UFRJ) – promoveu uma mostra de Iniciação Científica. Os trabalhos expostos pertencem aos congressistas, que vieram de universidades espalhadas pelo Brasil e demais países latinos, tais como Venezuela, Colômbia, México e Argentina.
Pôsteres explicativos foram montados no hall do bloco A do Centro de Tecnologia (CT/UFRJ), na ilha da Cidade Universitária, onde os alunos puderam falar a respeito de seus estudos para os demais participantes que visitavam o local, além de serem avaliados. Em cada uma das nove áreas temáticas, elegeu-se o melhor trabalho e, logo após a mostra, houve a cerimônia de premiação dos vencedores.
O auditório Horta Barbosa (bloco A – CT) também recebeu as últimas palestras do evento, que se encerra no próximo sábado, dia 26. Na sexta-feira, ainda serão feitas visitas técnicas, com número de inscritos limitados. Para mais informações, visite a página eletrônica: http://www.aleiq.org/colaeiq/.
Desenvolvimento ético
O economista e autor da coluna “Empresa-Cidadã” (Jornal Monitor Mercantil), Paulo Márcio de Mello, que é professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), ministrou a palestra “Responsabilidade Social, Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável: cooperação ou conflito?” na tarde desta quinta.
Paulo Márcio, que trabalhou com o sociólogo e ativista Betinho no projeto Ação de Cidadania, propôs uma discussão sobre esses três assuntos, geralmente apresentados como sendo a mesma coisa, mas que, de acordo com ele, não são. “Será que a indústria pratica mesmo a sustentabilidade ambiental e a responsabilidade social? Será que as empresas querem mudar mesmo, ou isso é apenas para enfeitar o pavão?”, questionou.
Antes de discutir o tema, com uma apresentação bastante ilustrativa, o professor mostrou um histórico do que têm afetado, nos últimos anos, a vida das pessoas e a responsabilidade das empresas. Como exemplo, ele citou os movimentos de contestação à Guerra do Vietnã, as lutas pelos direitos civis, dos consumidores e das mulheres; a revolução cultural de maio de 68 e os movimentos pacifista, verde e de contracultura.
– Estas são coisas surgidas entre as décadas de 60 e 70 que geraram o ambiente de responsabilidade social como conhecemos hoje e que ainda está em processo de construção -, apontou Paulo.
A recente Globalização e os choques do petróleo de 1973 e 1979, nos quais os preços dos barris do produto triplicaram da noite para o dia, foram lembrados por Paulo como fatores importantes nas mudanças das políticas públicas e econômicas ocorridas em diversos países do mundo.
Segundo ele, entre a crise capitalista (década de 70) e os dias de hoje, surgiu como exemplo a delegação de responsabilidades a famílias, ONGs e empresas. Mas, afinal, o que é a tal responsabilidade social? O professor utilizou a definição da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para explicar: “É a relação ética e transparente da organização com todas as suas partes interessadas, visando ao desenvolvimento sustentável”.
– O primeiro passo para a responsabilidade social é este relacionamento transparente e ético com todas as partes interessadas da empresa, as quais a afetam ou são afetadas por ela, sejam fatores internos ou externos à organização – detalhou Paulo.
Ainda segundo ele, a responsabilidade social é um processo multi-estratégico e transversal no interior de uma empresa, que visa a alcançar resultados positivos dentro dos campos da sustentabilidade, cidadania, negócios, qualidade, disciplina ética, governança corporativa, entre outros.
Quanto à sustentabilidade, em específico, o professor definiu: “É uma forma de agregar valor à empresa junto aos fatores tradicionais de sucesso empresarial”. Em outras palavras, se antes as organizações olhavam para o conceito de sustentabilidade de forma reativa, hoje o vêem como uma estratégia para impulsionar os negócios.
Como exemplo, Paulo levou números de uma pesquisa inglesa, que mostram que 64% dos consumidores entrevistados pagariam até 5% a mais por um produto atrelado à responsabilidade social. Outros 20% pagariam até 10% a mais. Nos Estados Unidos, também segundo dados levados pelo palestrante, há um fundo de investimento socialmente sustentável de 2,3 trilhões de dólares, o qual procura empresas no mundo inteiro onde se possa investir nesse diferencial. Na Europa, o valor do fundo chega a 260 bilhões de dólares.
– É um jogo de gente grande, não é mais uma brincadeira – ressaltou o professor, que citou alguns indicadores de sustentabilidade, os quais prevêem que, em 2010, 1 milhão de carros híbridos serão vendidos e 23 bilhões de dólares serão investidos em equipamentos de geração de energia eólica.
Para finalizar, o palestrante chamou a atenção para o fato de que a definição de desenvolvimento sustentável, tal qual a conhecemos, “é apenas o primeiro período de um total de três páginas”. A definição, em sua totalidade, fala não apenas sobre a preservação dos bens de hoje em prol das gerações futuras, mas também de justiça social, mudanças nos padrões de consumo exacerbado, entre outros temas. É um processo de mudança que depende, sobretudo, de empenho político.
– O desenvolvimento sustentável e a responsabilidade social convergem para o desenvolvimento ético. Só este conhecimento pode efetivamente transformar a sociedade – afirmou Paulo, que criticou a visão tradicional de desenvolvimento econômico, o qual pratica a concentração de renda, valoriza a poupança e promove aumento de juros em prol de mais investimentos. Isto, como argumentou, não é bom nem socialmente justo.