O barco brasileiro Copacabana terminou a Frisian Solar Challenge, na Holanda, em quarto lugar da classe A, fechando a competição apenas 3 minutos atrás do terceiro colocado. No ranking geral, a embarcação, projetada por uma equipe interdisciplinar da UFRJ, ficou em sétimo lugar, entre outras 48 equipes, todas européias.
Na última prova do rali, que aconteceu no sábado, 26/06, os participantes percorreram um trecho de 25km. Até o quilômetro 20, no qual havia uma parada, o Copacabana manteve a terceira posição. Nos cinco quilômetros finais, uma embarcação holandesa, de motor mais potente, passou a frente.
"Como estreantes, o nosso objetivo era terminar a competição. Por isso, optamos por projetar um barco seguro que, diferentemente dos demais, não quebrou em nenhum dos sete dias de prova, resistiu a um acidente, funcionou muito bem para as ‘pernas’ mais longas, mas não é tão veloz" explica Fernando Amorim, professor do Departamento de Engenharia Oceânica da Escola Politécnica (Poli) da UFRJ e coordenador do Pólo Náutico, laboratório no qual o Copacabana foi construído.
Além da boa classificação, a equipe trará experiências que poderão ser aplicadas em projetos de embarcações movidas à energia solar e de propulsão elétrica. Para Amorim, a competição representou "10 anos de aceleração" no trabalho que vem sendo desenvolvido na universidade. "Voltaremos com uma outra visão acerca da utilização da propulsão elétrica, abrimos uma fronteira de inovação tecnológica. Pudemos trocar informações não apenas sobre construção de embarcações, mas também sobre novos circuitos e motores. O Brasil tem todas as condições de entrar no cenário internacional de produção desse tipo de tecnologia, antes que se consolide como um cartel", opina o professor.
A equipe Copacabana – que chegou a ser definida como a "exótica" da competição – era a única representante de um país não europeu e, por isso, também foi a única que não pôde receber com antecedência e testar os painéis solares oferecidos a todos os participantes pela Sharp, uma das patrocinadoras da Frisian.
O uso de embarcações com motores de propulsão elétrica e sistema de energia alimentado por painéis solares, além de favorecer o meio-ambiente, também pode reduzir a zero os custos de transporte de passageiros e de carga, bem como ampliar serviços como o de coleta de lixo nas águas. A manutenção de motores elétricos é mais barata que os de combustão, a diesel ou gasolina, e os painéis solares têm durabilidade superior a 15 anos. Apesar das vantagens e dos altos níveis de irradiação solar em todo o Brasil, não há no país empresas que fabriquem esses painéis.
"Particularmente não vi na Europa nenhuma novidade em relação ao que trabalhamos na Engenharia Elétrica na UFRJ. Nosso trabalho é de ponta e podemos contribuir muito, seja qual for a aplicação desta tecnologia", afirma Marcos Dantas, engenheiro elétrico da UFRJ, membro da interdisciplinar equipe Copacabana. Dantas acrescenta que considera a Frisian uma oportunidade de troca entre as diferentes áreas de conhecimento: "os engenheiros navais muitas vezes são conservadores e não têm tanta noção das vantagens da propulsão elétrica".
A Frisian Solar Challenge é um rali holandês de barcos solares, projetados e construídos pelos próprios participantes. Caracteriza-se como uma forma de divulgar e popularizar fontes alternativas de energia para embarcações, que costumam utilizar motores de combustão.
O Copacabana foi projetado e construído no Pólo Náutico da UFRJ, por estudantes, profissionais e professores da UFRJ, das áreas de Engenharia Naval, Engenharia Elétrica e Desenho Industrial. Além do Pólo Náutico, estiveram envolvidos também outros laboratórios da instituição: o Laboratório de Mecânica da Turbulência (Mecturb), do Departamento de Engenharia Mecânica e do Laboratório de Fontes Alternativas de Energia (Lafae) Departamento de Engenharia Elétrica) da Poli; o Laboratório de Concepção e Análise do Design (Labcad) do Departamento de Desenho Industrial da Escola de Belas Artes (EBA); e do Laboratório do Programa de Planejamento Energético (PPE) do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) e o Pólo Náutico.
Patrocinaram o projeto a MPX Soluções Integradas de Energia, a Superintendência de Planejamento de Desenvolvimento da UFRJ, a Decania do Centro de Tecnologia da UFRJ e o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica da (Cepel) da Eletrobrás.