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Saúde e História no debate sobre os 200 anos da Medicina no IFCS

 Em 2008, a Faculdade de Medicina da UFRJ comemora 200 anos. A celebração dessa data, contudo, vai além dos muros do Centro de Ciências da Saúde (CCS) e se confirma como um momento importante para toda a Universidade. Por isso, o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS/UFRJ), realizou nesta quinta-feira, 5 de junho, um seminário, reunindo o fazer histórico com a conjuntura da saúde durante a chegada da família real no Brasil em 1808.

“Reflexões sobre as práticas e saberes médicos no Brasil: da Escola de Anatomia, Medicina e Cirurgia à Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1808-2008)” foi o título do evento, coordenado por Maria Aparecida Rezende Mota, professora do IFCS.

Durante a abertura, Jessie Jane, diretora do Instituto, destacou o caráter interdisciplinar do encontro. “O momento é uma oportunidade de construir uma relação de transdisciplinaridade, travando um diálogo com nossos colegas da Medicina e de toda a área de saúde, durante essa homenagem aos 200 anos da FM”, comentou a professora.

Para a primeira exposição, Marcelo Ferreira de Assis, mestre em História Social pelo Programa de Pós-graduação em História Social (PPGHIS), do departamento de História da UFRJ, apresentou o trabalho que vem desenvolvendo em seu doutorado sobre o impacto da transferência da família real para o Brasil na saúde dos africanos.

O estudo de Marcelo Ferreira foi feito a partir da análise de inventários pós-morten dos senhores de escravos, que revelavam que cerca de 16% dos negros tinham alguma doença ou mal. Esses dados foram recolhidos entre os anos de 1750 e 1850, acumulando cerca de 100 mil registros.

O tráfico de escravos

Segundo Marcelo Ferreira, os movimentos migratórios estão relacionados ao perigo de crises epidêmicas. “Uma população absolutamente aberta à migração é extremamente sujeita a tempestuosos surtos epidêmicos de bactérias distintas de seu ambiente natural”, avaliou.

De acordo com o pesquisador, em 1830, quando o tráfico de escravos foi proibido, o impacto desses males diminuiu sobre a população, apesar de não cessar. As análises indicam que a alta nos preços dos escravos foi um fator importante, que incentivou uma preocupação maior com as ‘mercadorias’.

O historiador considera o período compreendido entre 1810 e 1830 fundamental para a análise da saúde dos escravos e da população como um todo. O que se percebe é um aumento excessivo na entrada do número de escravos entre esse período, o que gerou seus impactos. “Isso vai gerar, por exemplo, mudanças radicais em termos de tipos de doenças, tipos de doenças que matam, que aparecem nos inventários principalmente a partir de 1810, quando a entrada de escravos africanos aumenta significativamente”, observou o professor.

O encontro contou ainda com a participação de Henrique Fortuna Cairus, professor da Faculdade de Letras, que destacou a importância do arquivo de publicações e exemplares raros, encontrado na UFRJ. Trata-se de uma biblioteca, preservada no subsolo do Centro de Ciências da Saúde, que representa um valioso acervo, de acordo com o professor.

A biblioteca funciona sob responsabilidade de Diana Maul de Carvalho, professora da Faculdade de Medicina, que estava presente no evento e proferiu a conferência de encerramento, ao final do seminário.