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O ensino da Matemática e a realidade brasileira

Renomados estudiosos e pesquisadores do ensino de matemática de diferentes partes do mundo se reuniram em mesa redonda Formação de Professores  de Matemática que fez parte da programação do “IV Colóquio de História e Tecnologia no Ensino de Matemática” (HTEM) nessa quinta-feira, dia 8 de maio.

Problemas e novas formas de ensino foram discutidas e a conclusão é que o ensino da matemática não se resume a uma sala de aula com alunos e um professor, mas deve começar antes na formação de professores e depois continuar no aperfeiçoamento destes professores e em programações de aula adequadas.

A estudiosa Evelyne Barbin, da universidade de Nantes, na França, aposta na História da matemática para um melhor desempenho de alunos e professores da área. Acredita que a consciência histórica leva os professores a mudar a maneira de ver seus alunos. “A história da matemática é um instrumento para uma abordagem pluridisciplinar no treinamento de professores, ela promove uma reflexão sobre os métodos e conteúdo do ensino” disse Barbin que defende a leitura de textos originais da matemática em sala de aula.

Este material, segundo ela, contribuiria para que os professores desenvolvessem a percepção do impacto cultural sobre o saber e para que os alunos tivessem melhor compreensão dos procedimentos matemáticos. “O aprendizado do desenvolvimento histórico da matemática afeta o modo como se pensa tempo para a compreensão do conteúdo da disciplina por parte dos alunos. As respostas que os alunos dão a um problema ganham um novo caráter quando comparadas às respostas dadas pelos matemáticos ao longo do tempo”, declara Barbin.

— A idéia não é inventar um ensino que seja a cópia da história, não ensinar a História da Matemática, mas integrar a História ao ensino matemático. Dar datas não é o importante, mas sim explicar porque e como um conceito e noção foram introduzidos — disse a estudiosa que considera de extrema importância que alunos e professores possam ter referência sobre a história da matemática.

Masami Isoda da Universidade de Tsukuba, Japão, e Fidel Oteiza da Universidade de Santiago, Chile, também estavam presentes e falaram sobre os métodos de ensino e deficiências da educação em seus respectivos países. “Professores gostam de ter o controle” disse Masami se referindo aos professores que detém um conhecimento que é passado pronto para os alunos sem ser trabalhado em sala de aula. Para ele é necessário que os professores instiguem a curiosidade do aluno de modo que descubra as regras e respostas da matemática e por isso entenda-as melhor. “O professor deve habilitar os alunos a descobrirem as coisas sozinhos, não manipulá-los” falou o estudioso que vê como fundamental fazer planos de aula e reuniões com outros professores o aprimoramento do ensino.

Fidel falou sobre o ensino em seu país, onde o maior problema está educação elementar, o correspondente ao nosso primário. ”Está se tornando comum que os alunos cheguem a conclusões mais elaboradas que o professor. E o professor nem sequer percebe isso” disse sobre a fraca formação dos docentes. A origem do problema estaria na falta de comunicação entre os departamentos de matemática e educação. Existem no Chile dois extremos na formação de professores, ou estuda-se muita matemática sem nenhuma didática ou o oposto.

– Este problema não é exclusivo do nosso vizinho latino-americano, mas é uma realidade também no Brasil -, disse Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva, secretária de educação básica do Ministério da Educação (MEC).  “Só 8% dos professores da rede pública de São Paulo se formaram nas universidades públicas, por causa do distanciamento, dentro dos campos, entre os departamentos e as faculdades de educação. A universidade ainda não é a solução para a formação de professores, ela é parte do problema”.

Segundo a secretária, a ampliação das vagas em universidades públicas seria um fator decisivo para a melhoria do ensino no Brasil, pois é nas universidades que se formam os professores. Por isso destacou a importância da adesão da sociedade aos planos do MEC para melhoria da educação e criticou os alunos que são contra a reforma universitária do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI).

Maria do Pilar se disse espantada com a reação contrária ao aumento do número de vagas no ensino superior e, sobre os estudantes que acreditam que este aumento acarretaria em uma perda de qualidade no ensino. “No Brasil a gente não sabe conjugar qualidade com quantidade. A gente sabe fazer bem para poucos, mas quando é para todo mundo se faz mal feito porque é para pobre mesmo”, enfatizou a secretária.