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Memória

Células embrionárias podem ajudar pesquisas médicas

Aprovação da Lei de Biossegurança, que permite a utilização de células-tronco em pesquisas, é celebrada por cientistas.

Ontem, 29 de maio, foi um dia importante para a ciência brasileira. Em debate desde 2005, o uso de células tronco embrionárias para pesquisa foi, enfim, aprovado pelo Supremo Tribunal Federal. Sob fortes críticas de entidades mais conservadoras como a Igreja Católica, o uso desse tipo de célula está finalmente autorizado. Falta definir, entretanto, como será o perfil de regulamentação ética para a utilização. De qualquer forma, o consenso entre a comunidade científica é de que se trata de um passo importante para o avanço das pesquisas.

É também o que acha Franklin Rumjanek, professor do Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular de Schistossoma Mansoni e Câncer, do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ. Franklin lembra que algumas pesquisas já utilizam métodos semelhantes, com células tronco da medula óssea, porém esse tipo de célula não apresentam ação tão eficaz. “Essas células, além de serem mais escassas, também não respondem tão bem à programação de diferenciação como ocorre com a célula embrionária”, explica o pesquisador.

Para o Franklin, que é geneticista, além das pesquisas aplicadas à medicina – ponto forte da luta pela aprovação – a célula tronco apresenta uma característica importante para a pesquisa básica. “Na área de genética, se o pesquisador quiser se dedicar a descobrir como funciona o processo de diferenciação de uma célula em um determinado tecido, ele poderá se dedicar melhor, como nos principais laboratórios do mundo”, afirma o Rumjanek, ressaltando, porém, que o que chama mais a atenção no momento é a parte de pesquisa aplicada.

Regulamentação

Depois de aprovado o uso das embrionárias, o STF presenciou mais uma discussão. O principal motivo era a imposição de normas mais rígidas para regulação das pesquisas. De acordo com Franklin Rumjanek, esse tipo de discussão é redundante com relação a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). “É natural que os legisladores queiram tomar as medidas de cautela, porém a Conep já se encarrega de exercer uma fiscalização, que já envolve quaisquer trabalhos com humanos”, aponta o professor. “Além disso, de uma forma geral, os cientistas são pessoas éticas. A figura do ‘cientista louco’ só existe no imaginário popular”, complementa.

A pesquisa aplicada

Para aqueles que estão nas filas de transplantes ou sofrem com as seqüelas das doenças neurodegenerativas, a regulamentação das pesquisas com as embrionárias pode representar um pouco de esperança. Segundo o professor, a contribuição imediata vai ser no campo dos trabalhos que envolvem tecidos que não se regeneram. “Por exemplo, o músculo cardíaco não se regenera. No caso de um infarto, o tecido se transforma em um tecido cicatricial, que não contribui para o funcionamento do órgão. Nesse sentido, podemos imaginar que qualquer patologia e situação que envolva o coração vai ser o principal alvo”, analisa Rumjanek. Além dos tecidos cardíacos, o cientista destaca o tecido do sistema nervoso, que também não se regenera.

Apesar de serem possibilidades para um futuro, precisar quando a população vai colher os frutos dessas pesquisas pe inviável, de acordo com o professor. “Isso é impossível fazer, porque mesmo em pesquisa que não envolva aplicação médica, como as pesquisas básicas, é muito difícil prever em quanto tempo resultados serão alcançados, por causa dos imprevistos mais variados, desde falta de luz e água até compra de material”, esclarece.

Futuro

Segundo o pesquisador, ainda é cedo para pensar em passos mais ousados, como a clonagem terapêutica. “Acho que precisamos caminhar por etapas, e o governo parece concordar com isso. É claro que um cientista tem idéias por minuto, portanto nada impede que isso caminhe para fins os mais variados, incluindo clonagem para fins terapêuticos”, avalia o professor. “O fato é que a Ciência caminha de acordo com a imaginação e a curiosidade do cientista. Em última análise, é a sociedade que vai endossar ou não o tipo de pesquisa que será feito”, conclui.

  Assista aqui à matéria da WebTV sobre as células-tronco