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Tratamento para déficit de atenção em adultos é possível

O Centro de Estudos do Instituto de Psiquiatria da UFRJ realizou nesta sexta-feira, dia 9 de maio, a palestra “Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade em adultos: uma categoria diagnóstica?”, proferida por Lílian Scheinkman, doutora e pesquisadora em psiquiatria pela UFRJ e professora convidada da Universidade de Miami.

Para a especialista, a importância de discutir o assunto deve-se ao pouco conhecimento de diagnóstico em adultos. “muitos pacientes chegam ao consultório com uma série de outros tratamentos medicamentosos, psicológicos e psicoterápicos, sem que o diagnóstico do déficit de atenção tenha sido feito. Isso acontece porque muitas vezes as pessoas têm a falsa idéia de que o TDAH está relacionado apenas a crianças. Além disso, o predomínio no adulto geralmente está relacionado a alterações da atenção, enquanto o comportamento agitado da criança, que corre, pula, fala todo o tempo, se percebe que é déficit de atenção”, explica Lílian.

O diagnóstico do TDAH é basicamente clínico, a partir da avaliação e do histórico do indivíduo, uma vez que está entre as doenças psiquiátricas com maior influência genética. Segundo Scheinkman, os grandes estudos neurobiológicos, através da análise de neuroimagens e utilizados apenas no nível de estudo, ainda não certificam o diagnóstico do déficit de atenção. “Nesse aspecto, alguns estudos indicam que pessoas com TDAH possuem as regiões cerebrais com menor volume, além das conexões cerebrais estabelecidas por determinadas atividades serem feitas por outros caminhos, com menor eficiência – desencadeando os problemas de concentração, agitação, entre outros”, descreve a psiquiatra, lembrando que a real avaliação depende do quanto essas características influem na vida do paciente, não necessariamente das características fisiológicas.

Adultos com TDAH apresentam características adaptativas ao transtorno, como escolha de profissões em que possa manifestar sua hiperatividade, comportamento metódico, workaholic. “Impulsividade, baixa tolerância a frustração, inconstância em relacionamentos, empregos, perda de controle, lentidão, baixa produtividade, estão também entre os sintomas. Eles levam a implicações e sofrimentos ao paciente, que não consegue ficar em casa, tirar férias, curtir os filhos, uma vez que os sintomas são mais sentidos e menos manifestos”, lista a professora.

Lílian explica que há uma dificuldade de reconhecimento do transtorno, pois o diagnóstico da doença (DSM-IV-TR) é baseado na avaliação de crianças, em quem as características são expressas de forma diferente em relação aos adultos. “Além dos mecanismos de adaptação que a pessoa desenvolve, mascarando o TDAH, em adultos vem acompanhada de outros distúrbios, como depressão, transtorno bipolar, e até mesmo do abuso de drogas”, conta.

– A maioria dos pacientes não sabe que tem. Embora se diga que o TDAH tem sido largamente diagnosticado, a realidade é o contrário. Muitos pacientes não estão sendo diagnosticados corretamente, não recebem o tratamento adequado -, lamenta a médica, que finaliza: “é uma doença muito importante, que acarreta grandes prejuízos, mas, uma vez diagnosticada, pode ser tratada através de medicamentos e psicoterapia. É muito interessante observar como o indivíduo se sente aliviado quando descobre que tem o TDAH, porque antes ele se responsabilizava por coisas que ele não consegue fazer, dedicando um esforço muito maior a determinadas tarefas. Isso torna essencial ao paciente entender que existem alguns aspectos que são diferentes para ele no exercício de algumas atividades”, alerta Lílian Scheinkman.