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Palácio Universitário da UFRJ revive a loucura de Lima Barreto

 Hoje, quinta-feira (08/05), é o último dia de apresentação da peça teatral “Estação Terminal” no Palácio Universitário da UFRJ. Os interessados em assistir devem comparecer à sala 208 do Fórum de Ciência e Cultura (FCC) da universidade e pegar senha, que será distribuída até as 19h30. O espetáculo, gratuito para a comunidade acadêmica, está marcado para às 20h30, na Avenida Pasteur, 250, Praia Vermelha.

Com mistura de artes plásticas e teatro, “Estação Terminal” – que dá voz aos textos “Cemitério dos Vivos” e “Diário de Hospício”, de Lima Barreto – ganha um significado especial no átrio, na capela, no salão e nas escadarias do Palácio Universitário, onde as obras foram compostas, em 1919, quando o prédio era um hospício de alienados e abrigava o consagrado escritor brasileiro.

– Depois de passar por Londres e pelo Riocenacontemporâneo, apresentar o espetáculo aqui é completamente diferente, porque a relação com o espaço do nosso trabalho é muito concreta e este lugar tem uma carga de história fantástica – revela Tuca Moraes, a atriz que interpreta o personagem central.

A importância do lugar é potencializada pela característica da peça, que estabelece uma relação com o público diferente das que existem no teatro tradicional: ela faz as pessoas se movimentarem e compartilharem as cenas, com as sensações e emoções passadas pela atriz. Para o espectador Alexandre Dias, professor de História da Associação Educacional de Niterói, o propósito de envolver as pessoas e torná-las personagens foi cumprido:

– As peças que envolvem a platéia sempre são assustadoras no início. Fiquei impressionado com a primeira parte, em que Lima conta sua história. Tem um clima pesado e um jogo de luzes que te fazem sentir mesmo em um hospício. Com o roteiro, as palavras da atriz enquanto ela está segurando a vela, você começa a imaginar se aquelas angústias não te levariam ao manicômio também.

Além de compartilhar a narrativa angustiante, Alexandre experimentou a loucura de Lima Barreto quando foi convidado a entrar em um inflável vermelho de oito metros, que compõe o cenário. Ele afirma que, naquele momento, angústia e graça caminharam juntas: “Foi divertido entrar na bolha, mas quando a atriz gritou para quem está fora, eu pensei: estou dentro de uma bolha, a esta hora da noite, separado dos outros. Será que não sou um pouco louco?”, indaga o espectador.

Para Edvaldo Cafezeiro, professor aposentado da UFRJ e freqüentador assíduo da programação cultural do Fórum, a obra encenada ultrapassa a loucura de Lima Barreto e denuncia questões centrais da sociedade da época, as quais se mantêm latentes nos dias de hoje. “Conhecemos bastante sobre a loucura, mas temos muito ainda a estudar sobre a miséria, a desgraça, a exclusão que a sociedade faz de elementos como Lima. Esta obra, bela e com texto maravilhoso, precisa ser lida no Brasil inteiro”.

Depois da Praia Vermelha, o espetáculo “Estação Terminal” segue em cartaz pela Cidade Universitária da UFRJ – no campus do Fundão. No entanto, o Palácio Universitário vai deixar saudades, conforme justificou o diretor da peça e da Companhia Ensaio Aberto, Luiz Fernando Lobo: “Nós começamos a companhia há quinze anos aqui neste prédio, com este mesmo texto. Na época, optamos por fazer aqui por ser onde Lima Barreto tinha sido interno por três vezes como alcoólatra e onde ele escreveu. Agora voltamos. Este lugar tem importância”.