Em meio à epidemia de dengue na cidade do Rio de Janeiro, muitas ações são apontadas para prevenir ou tratar a doença. As vendas de repelente crescem e até mesmo o uso de calças compridas é recomendado para tentar evitar a picada do mosquito Aedes Aegypti. No âmbito da prevenção e do tratamento da doença, a alimentação também é pauta das discussões. Além da orientação médica de uma alimentação balanceada, alimentos específicos têm sido destacados por possuírem propriedades específicas que atuariam objetivamente em caso de dengue.
Um desses alimentos é o inhame. Esse tubérculo possui benefícios como a propriedade de manter a boa flora intestinal, o baixo índice glicêmico, que o torna um bom alimento para diabéticos e a capacidade de reduzir a absorção de colesterol. Mas, além disso, informações de que a ingestão de inhame seria recomendada para tratar infectados por dengue têm circulado na internet. Entretanto, a nutricionista e doutoranda em Nutrição pela UFRJ, Ana Luisa Faller afirma que não há nada específico que explique a recomendação do inhame em casos de dengue. O que há de concreto são propriedades desse alimento que poderiam ter relações indiretas com o quadro da dengue.
“O inhame possui vitaminas do complexo B. Uma pessoa que realize uma boa ingestão dessas vitaminas exala um odor que o mosquito sente e ele tende a não picar essa pessoa. Mas, o inhame não tem uma concentração tão elevada que justifique isso”, ressalta a nutricionista, que explica a recomendação de complexo B de forma preventiva provavelmente só seria atingida na forma de suplemento alimentar, encontrado nas farmácias.
Outro benefício do inhame é o fortalecimento do sistema imunológico. “O inhame tem uma quantidade boa de vitamina A, importante para o sistema imunológico e para a integridade das mucosas. Em recentes trabalhos, tem sido estudado que o inhame, como um tubérculo, possui também uma proteína capaz de estimular o sistema imunológico, aumentando a fagocitose, a resposta das nossas células para incorporar as bactérias ou vírus que estão atacando o organismo para destruir uma infecção”. Ana Luisa Faller emenda que isso não justifica a afirmação de que comer inhame previne uma possível infecção.
A doutoranda reforça a importância de uma boa alimentação. “O mais provável é que uma pessoa saudável, com alimentação variada, com vários desses nutrientes que estimulam o sistema imunológico, por mais que se infecte com o vírus, possivelmente não desenvolverá os sintomas de forma tão avassaladora, porque seu combate será mais ativo.” Ana Luiza Faller destaca outros alimentos fortalecedores do sistema imunológico como os que são fontes de zinco, vitamina A, ferro e ácido fólico. A lista engloba cogumelos, carnes, frutos do mar, leite e derivados, hortaliças, vegetais folhosos e alimentos ricos em beta caroteno, como cenoura, abóbora e milho.
Segundo Ana Luisa Faller, uma pessoa com alimentação balanceada provavelmente tem as mesmas chances de pegar a dengue, mas “pode haver diferença em como ela vai manifestar os sintomas da doença. Quanto mais debilitada é a pessoa, pior é o desenvolvimento da doença. Por isso, as crianças são mais afetadas e representam maioria dos casos de dengue hemorrágica e de morte. Então, os sintomas são menos graves, menos exacerbados se há uma linha de defesa, um sistema imunológico respondendo adequadamente à doença”.
Em relação à dieta específica para o infectado por dengue, a nutricionista recomenda uma alimentação saudável. “A pessoa deve ser o mais saudável e natural possível, consumir arroz, feijão, frutas, hortaliças e tentar comer o máximo que conseguir. Como a pessoa com dengue fica sem vontade de comer, deve-se maximizar cada refeição, fazendo com que as porções ingeridas sejam ricas em nutrientes. Por a pessoa já estar mais fraca e, provavelmente, ingerir porções menores, deve-se primar mais ainda pela qualidade”. Ana Luiza Faller ressalta que a hidratação é fundamental no tratamento da doença.