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Centro de estudos discute Alzheimer

 Há mais de 100 anos, pesquisadores têm se desdobrado para tentar entender a doença de Alzheimer. Descrita pelo neuropatologista alemão Alois Alzheimer, em 1906 e foi discutida hoje, 30 de abril, durante a sessão do Centro de Estudos do Serviço de Psiquiatria e Psicologia Médica do Hospital Clementino Fraga Filho (HUCFF) da UFRJ.

Para falar sobre o assunto, Sérgio Ferreira, professor titular do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM), foi convidado e falo sobre os mais recentes avanços no campo do diagnóstico da doença, que vem crescendo cada vez mais e se configurando uma causa de morte cada vez mais expressiva.

De acordo com o professor, no que diz respeito a avanços em pesquisas, até a década de 1980 não se evolui quase nada. O fato é que pouco se sabia sobre os motivos reais do desenvolvimento do Alzheimer e outras doenças. Por exemplo, o termo “esclerosado”, popularmente usado para se referir aos efeitos de demência em idosos, remonta a uma causa vascular, que corresponde à minoria das causas desse tipo de distúrbio, conforme explicou o especialista.

Segundo Sérgio Ferreira, o grupo de pesquisas de que participa estuda diversas doenças que, em princípio, parecem muito distintas. Muitas são do sistema nervoso, como a própria doença de Alzheimer, a doença de Parkinson e doenças de príon. Outras são de sistemas diferentes, como o diabetes tipo 2.

Classificadas como doenças amiloidogênicas, conforme explica o professor. “Essas doenças tem bastante a ver do ponto de vista da patogênese. Em todas elas, existem proteínas ou peptídeos que formam agregados desse tipo, criando uma rede de filamentes que se depositam nos tecidos encontrados em exames específicos”, detalhou o professor.

Diagnóstico e epidemiologia

Sérgio Ferreira lembrou que, quando Alzheimer conseguiu descrever a doença, só o fez a partir da análise do cérebro de uma paciente que havia acompanhado por cinco anos. Quando ela faleceu, o cientista alemão teve acesso a seu cérebro. “Interessante ressaltar que, até hoje, esse é o único instrumento de diagnóstico decisivo para identificar doença de Alzheimer. A única maneira de diagnosticar a doença claramente de pos-morten”, destacou o pesquisador.

No que diz respeito à epidemiologia, a doença apresenta um grupo de risco muito bem definido: os idosos. Segundo o professor, aos 85 anos, a chance de um indivíduo desenvolver a doença é de cerca 30%. “Além disso, a projeção é explosiva. As curvas de crescimento apontam que, daqui a 20 ou 30 anos, os pacientes de Alzheimer somarão mais de 10 milhões no mundo inteiro”, acrescenta o cientista.

No Brasil, temos hoje cerca de 800 mil e a previsão é aumentar, em função do envelhecimento da população. “Em breve, até 2025, vamos ter cerca de 34 milhões de brasileiros com mais de 60 anos, se o aumento da expectativa de vida se confirmar. Considerando que 5% desses desenvolvam a doença de Alzheimer, o número já será bastante expressivo”, avaliou o professor.

Sérgio Ferreira comparou essa projeção a problemas enfrentados com doenças infecciosas e parasitárias, como é o caso da dengue. “Seria uma epidemia de proporções aterradoras. Comparando-se aos 100 mil casos de dengue desse ano, multipliquemos por umas 10 vezes. Esse seria o tamanho do problema que teríamos”, analisou o professor.

Ele ressaltou que não é o caso para negligenciar as doenças infecciosas, mas é preciso se dedicar à pesquisas em doenças neurodegenerativas. “Entretanto, para uma doença desse tipo, não há saneamento público que resolva. Nesse caso, é necessário realmente entender o que está se passando nos cérebros dos pacientes e tentar desenvolver novas terapias”, completou Sérgio Ferreira, que apresentou a residentes e alunos da Faculdade de Medicina os detalhes da terapêutica da doença de Alzheimer.