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Dengue, número real de casos pode ser 30 vezes maior

Os números da epidemia da dengue no Rio de Janeiro são ainda maiores do que conhecemos. É o que afirma Edimilson Migowski, professor de Infectologia Pediátrica da UFRJ. Segundo o professor, o número real de casos é 30 vezes maior do que o notificado. Seriam em torno de um milhão e meio de casos no estado do Rio de Janeiro, sendo um milhão somente na cidade do Rio.

O infectologista explica, muitas vezes, a doença não chega a ser diagnosticada. E, após o diagnóstico, muitos casos não são notificados. “Apenas um terço dos infectados tem sinais e sintomas da doença. E, apenas 10% dos casos diagnosticados são notificados. Ou seja, para obter o número real de casos, deve-se multiplicar o número notificado por três e depois por dez. Isso dá um número 30 vezes maior”, explica Migowski.

O professor ressalta que tem feito levantamentos informais que estão de acordo com essa estimativa. “Em grandes empresas, pergunto quantas pessoas foram afastadas por dengue esse ano. O índice de afastamento é em torno de 10%; este número, comparativamente, aproxima-se do que eu imagino ser o número real para o Rio de Janeiro.”

O grande problema da notificação tem sido a demanda de tempo. Com os hospitais lotados, os médicos não conseguem encontrar condições para fazer a notificação dos casos. Segundo Migowski, em uma situação como essa, ou o médico atende ou notifica. “Notificar não é difícil, mas demanda tempo. Até que a gente começasse a falar e reclamar, o responsável pela notificação era o médico. Agora, existe um técnico encarregado desse serviço”, afirma o professor.

Migowski defende que o trabalho dos técnicos de saúde junto aos médicos é imprescindível. “Estamos vivendo uma situação de catástrofe, de grande impacto em termos de saúde pública. Então, nessa situação, o médico deve cuidar daquilo que só ele pode fazer: atender o paciente, avaliar o grupo de risco e prescrever a medicação. Verificar a pressão arterial, avaliar sinais vitais, tirar a temperatura, tudo isso deve ser feito por um técnico bem treinado. Ele vai andar pela fila identificando os casos de maior gravidade e pinçando aqueles que precisam ser atendidos de forma prioritária”, salienta o infectologista.

O professor reforçou que o problema da notificação não ocorre somente na rede pública, mas também nos hospitais privados. “Um paciente de um grande um grande hospital privado do Rio de Janeiro está demorando de quatro a cinco horas para ser atendido. Creio que o problema de notificação enfrentado é o mesmo, o médico está sem tempo. O que difere o hospital particular do público é que ele tem um assento melhor. Lá o paciente consegue beber mais água, ingerir mais soro”, compara Migowski.

Após a notificação de casos de dengue em um bairro, o professor defende uma estratégia de combate que mobilize a vizinhança. “A minha idéia é levar um carro de som até esse bairro, que passará pelas ruas dizendo Chegou o carro de combate de vetor! Já houve oito casos de dengue nessa redondeza, um óbito e um paciente internado. Nossos agentes estão chegando para ajudá-los no combate. Vamos lá, todo mundo que estiver nos ouvindo em casa deve se mobilizar, porque o Aedes aegypti é um assaltante silencioso".

Com isso, haveria uma participação da comunidade que minimizaria e até evitaria o perigo de novas contaminações. O infectologista declara que “a probabilidade de encontrar vetor nesses bairros em que houve notificação é enorme. E de mosquito contaminado maior ainda, porque se não houvesse mosquito contaminado, não haveria casos. Então, nessa situação é necessária a presença de um agente com o pulverizador portátil, entrando nas casas e pulverizando embaixo dos móveis. Essa será uma ação focada com resultado imediato".

Migowsky elogia a participação da Universidade no combate à epidemia. “Eu não estou aqui só para criticar, estou, sim, para criticar apontando caminhos. É bom ver ações realizadas depois que a UFRJ se pronunciou a respeito. Nós, professores da Universidade estamos aqui para ajudar e orientar nessa questão”, ressalta o professor.