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Depressão em idosos é tema de pesquisa na Europa

 O Centro de Estudos do Instituto de Psiquiatria (IPUB/UFRJ) realizou nessa sexta-feira, dia 4 de abril, a palestra Prevalência de Sintomas e Síndromes Depressivas na Idade Avançada em dez países Europeus: O estudo Share, apresentada por Carlos Augusto Mendonça Lima, membro do plano diretor da International Psychogeriatric Association e coordenador do departamento de Psiquiatria Geriátrica da Associação Psiquiátrica do Estado do Rio de Janeiro (APERJ).

O estudo Share foi desenvolvido a partir de 2001, com a proposta de compreender como os aspectos relacionados ao envelhecimento e à aposentadoria se passam entre os diversos países europeus. Segundo Mendonça Lima, a análise comparativa da incidência de depressão entre idosos, nas diversas culturas européias, surge da sugestão de um grupo de pesquisadores de Londres. “O continente apresenta uma grande variedade de culturas, o que nos leva a indagar como a depressão se manifesta em cada uma delas e se acontece com a mesma freqüência”, afirma o palestrante.

A metodologia empregada para a avaliação consiste num questionário feito nos lares de dez países, apresentando uma taxa de resposta média de 57,4%. Dinamarca, Suécia, Áustria, França, Alemanha, Suíça, Holanda, Espanha, Itália e Grécia participaram da pesquisa. “A partir do questionário, constatou-se que existe certa consonância entre sintomas depressivos e determinadas particularidades de cada nação”, relata o pesquisador, que divide as características depressivas em dois grupos de sintomas: sofrimento afetivo e perda de motivação.

– A depressão é causa de sofrimento não apenas para o paciente, mas também para a família. Ela contribui para a piora da qualidade de vida e mortalidade, uma vez que pessoas deprimidas tendem a morrer mais cedo – disse Carlos Augusto, defendendo a importância dessa pesquisa.

Segundo Mendonça Lima, os primeiros resultados da pesquisa constatam que há uma maior prevalência da depressão em idosos nos países latinos. “França, Itália e Espanha, respectivamente com índices de 33,1%, 29,7% e 28,3%, têm um predomínio maior de sintomas depressivos em comparação aos demais países europeus analisados”, afirma o palestrante.

Carlos Augusto lembra que a maior taxa de suicídio em países ao norte da Europa induzia o contrário. “Apesar desses dados sobre suicídio, os estudos comprovam que a depressão em países nórdicos e da Europa Central apresentam de fato menor taxa que nas regiões latinas do continente. É provável que a organização da sociedade escandinava, por exemplo, permita um apoio, uma qualidade de vida superior à dos países latinos. Por outro lado, devemos considerar que o indivíduo inserido na cultura latina costuma exprimir mais facilmente seus sentimentos depressivos, o que também pode estar influenciar nessa maior predominância de sintomas que estamos descobrindo”, pondera o pesquisador.

– A variação na prevalência dos sintomas e síndromes depressivas em idosos europeus, portanto, pode melhor ser compreendida em termos de diferenças etnoculturais. Isso evidencia um fator mais sensível a aspectos culturais, lingüísticos e talvez até religiosos, que será motivo para outros estudos ao longo deste ano – finaliza Mendonça Lima.