Como parte das comemorações dos 30 anos do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, uma conferência celebrará as também três décadas de outro acontecimento: o primeiro transplante de medula óssea no Brasil. Realizado no Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná, em 1978, foi um dos primeiros programas do gênero no mundo. Vinte anos antes, o médico George Mathé havia realizado o primeiro transplante de medula clínico no mundo, em seis físicos que foram expostos acidentalmente a doses muito altas de radiação.
No Brasil, os professores Ricardo Pasquini e Eurípedes Pereira foram os grandes pioneiros nesta modalidade. “Ainda hoje este procedimento não é considerado simples, mas naquela época as dificuldades eram ainda maiores. Não havia muitas drogas anti-rejeição, nem uma série de medicamentos que facilita o sucesso do procedimento. A mortalidade relacionada aos transplantes ainda era muito elevada”, afirma Ângelo Maiolino, professor adjunto de Hematologia e coordenador do programa de transplantes de medula óssea do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF).
Desde aquela época houve um aumento considerável do numero de centros de tratamento no país, chegando a mais de vinte. No entanto, os dez maiores concentram a realização de 80% dos procedimentos.
Transplantes na UFRJ
O programa de transplantes de medula óssea foi inaugurado no Hospital Universitário em 1994, sempre vinculado ao serviço de hematologia. “Desde essa época até hoje, realizamos mais de 500 transplantes. Hoje em dia realizamos cerca de 70 transplantes por ano, o que eleva nossa unidade a uma das dez maiores do Brasil em volume de pacientes”, atesta Ângelo.
Do início de 1994 até 2000, este programa realizava apenas transplantes do tipo autólogo, em que o doador era o próprio paciente. Esta modalidade serve para recuperar a medula óssea após doses extremamente elevadas de quimioterapia, necessárias no tratamento de cânceres como mieloma múltiplo ou do sistema linfático. “A quimio elevada leva à destruição da medula óssea. Por isso, antes do tratamento é importante retirar células-tronco da medula. O organismo é estimulado a produzir estas células, que passam a circular no sangue. Este material é filtrado e congelado, para que possa ser retransplantado no corpo do paciente após a quimioterapia”, explica o professor.
De 2000 para cá, iniciaram-se os transplantes alogênicos aparentados, em que o doador é alguém da família, geralmente um irmão. “Se o paciente possui leucemia, por exemplo, ele precisa receber a medula de um doador. Recorre-se, então, a algum membro próximo de sua família, para que a chance de compatibilidade seja maior”, diz Maiolino. Entre irmãos, esta possibilidade é de 30%.
Existe ainda um terceiro tipo de transplante, realizado entre doadores não aparentados (alogênicos não-aparentados). “Aqui no HU, estamos em fase de credenciamento desta modalidade, aguardando a manifestação do Ministério da Saúde. Talvez consigamos esta autorização anda este ano”, afirma o professor. Cerca de 80% dos transplantes de medula óssea realizados hoje no Hospital são autólogos. “Apesar dos avanços, este ainda é considerado um procedimento de risco. Quando falamos em transplantes entre doadores não-aparentados, as complicações aumentam de forma considerável, pelo risco de rejeição”, continua.
Melhorias no Hospital Universitário
Recentemente, o HUCFF recebeu um grande aporte do BNDES, para a construção da unidade de onco-hematologia. Os pacientes pré e pós-transplante passarão a ser atendidos nesta unidade, que ficará ao lado da radioterapia. “Não atenderemos apenas os pacientes de transplante, mas como um todo os da área de oncologia e hematologia”, afirma Maiolino. Hoje o Hospital possui oito quartos para transplante. Após a ampliação, espera-se aumentar este número para dez ou 12 quartos. O início da construção está previsto para este ano, e a entrega deve acontecer até 2010.
Medula óssea
A medula é um tecido gelatinoso que ocupa a cavidade interna de vários ossos, e é responsável pela fabricação de elementos do sangue como hemácias, leucócitos e plaquetas. Ou seja, esta estrutura trabalha de forma intensa para garantir a renovação constante das substâncias do sangue e mantê-lo saudável.
Qualquer doença que afete o trabalho da medula óssea representa um grave risco para a saúde do paciente, pois a fabricação das estruturas do sangue se prejudica. Isto enfraquece o transporte do oxigênio dos pulmões para as células do organismo (realizado pelas hemácias), compromete o sistema de defesa do organismo contra infecções e outras doenças (realizado pelos leucócitos), e debilitam a coagulação do sangue.
Doação
Qualquer pessoa entre 18 e 60 anos pode doar. Basta ir ao Hemocentro, colher uma amostra de sangue e se cadastrar. “Quando surgir a necessidade, você será convocado. A doação pode ser feita de duas formas: pela filtragem do sangue ou através de pulsões da própria fábrica do sangue, no osso da bacia. O procedimento é feito com anestesia geral”, explica Ângelo.
O transplante não é considerado um procedimento cirúrgico, pois o paciente recebe a medula em um quarto comum. Ela é infundida na veia do paciente, como em uma transfusão.
Informações sobre doação de sangue e medula: http://www.hemorio.rj.gov.br/
Informações sobre os 30 anos do Hospital Universitário a as conferências: http://www.angraeventos.com.br/hu30anos/