Raimundo Rocha dos Santos, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), realizou no último dia 28, no Instituto de Física (IF), palestra sobre a carreira de Físico Pesquisador. O objetivo foi de proporcionar aos alunos que estão chegando no IF uma visão mais realista da Física. Segundo o professor, os alunos possuem visão idealizada do físico profissional, sendo necessário desmistificá-la e alertá-los sobre as dificuldades da carreira.
Para ele, é preciso desvincular a idéia de que o físico, como Newnton, é a pessoa que fica embaixo de uma árvore esperando que uma maça caia e, que a partir disso, se inspira e cria uma teoria. Deve-se mostrar que existem os gênios da Ciência, mas que a evolução dessa é constante, de forma que os trabalhos atuais partem de conhecimentos já obtidos, não do isolamento. Além disso, chamou atenção para a necessidade da dedicação que os alunos devem ter com os estudos, a fim de obterem êxito na carreira.
– A Física funciona partindo de quatro leis fundamentais, que são as interações fundamentais da natureza. A partir daí desenvolvem-se todas as aplicações e conceitos. O trabalho que o físico realiza é estudar como trabalhar com essas leis, às vezes ele tenta unificá-las, às vezes tenta aplicá-las em diferentes situações -, disse Raimundo. Segundo ele, o desenvolvimento científico pode ser obtido pelo avanço do conhecimento que se torna uma aplicação tecnológica de avanço tremendo. No entanto, essa não deve ser a motivação da maioria das pessoas.
Uma das principais características do curso é a grande evasão. Forma-se por ano, cerca de 10 à 15% do total de iniciados no curso, que é de aproximadamente 120 alunos. O professor advertiu que esse é um problema da carreira, segundo ele não há espaço no mercado para absorver esse total. Tendo esse problema em vista, acentuou a importância da busca pela qualificação, citando a Pós-graduação como um caminho a seguir na busca pelo aprimoramento profissional. “Sem dedicação, sem estudo, não tem jeito”, profetizou.
Para o professor, o curso de Física tem uma importância fundamental não apenas pelo conteúdo em si, de conhecimento, mas pelo fato de que ele treina os alunos a aprenderem a aprender. “Um estudante de física é capaz de aprender qualquer coisa depois. Ele foi treinado, mesmo sem ter consciência disso, a construir toda uma coisa robusta a partir de conhecimentos fragmentados. De onde quer que ele parta, vai sempre conseguir agregar conhecimento, devido a sua formação”, defendeu Raimundo. Alertou também que a construção de um prédio novo vai dar uma melhorada qualitativa nas atividades do instituto.
Rumos das pesquisas e projetos em Física
O professor Raimundo atualmente exerce atividades no Departamento de Física dos Sólidos no IF. Realiza pesquisas e teorias em remodelagem de materiais, supercondutores e materiais magnéticos. Sua linha de pesquisa abrange os semicondutores magnéticos diluídos que são materiais que tem potencial de aplicação na eletrônica do futuro, que lida não apenas com a carga, mas também com o magnetismo dos elétrons e a supercondutividade. Segundo ele, essa parte da Física que estuda os supercondutores de alta temperatura tem uma possibilidade de aplicação mais imediata. No entanto, afirmou não se preocupar com essa conseqüência.
Abordou que as pesquisas estão caminhando nas diferentes áreas, com a aparição de novas idéias e de novos conceitos. Em resposta a rumores de que a Física esteja se limitando disse: “Sempre que alguém diz que a Física está morrendo, o tempo se encarrega em mostrar que isso é uma loucura. Ela continua avançando cada vez mais, fazendo coisas interessantes”.
Segundo ele, a tendência atual das Ciências é de se interligarem cada vez mais. Citou a disposição de técnicas de crescimento e manipulação de materiais, que formam o arcabouço instrumental da área de Nanociência, que engloba conhecimentos de Física, Biologia, Química, Engenharia, sendo um ramo multidisciplinar extremamente interessante.