O Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC) da UFRJ promoveu Aula Inaugural do curso de Mestrado em Saúde Coletiva na última quarta-feira, dia 19 de março. O evento, que aconteceu no auditório nobre do IESC, teve a presença do professor Kenneth Camargo, do Instituto de Medicina Social (IMS) da UERJ e de Jeannie Shoveller, professora do Department of Health Care & Epidemiology, Faculty of Medicine, University of British Columbia.
Com apresentação de tema “A economia política da produção e difusão do conhecimento biomédico”, o professor Kenneth Camargo considerou como um problema a interferência da indústria farmacêutica na produção de conhecimentos: “Boa parte dos testes de validação de novas drogas dependem quase que exclusivamente da indústria farmacêutica. Com isso, há uma interferência econômica na produção e circulação de conhecimento”.
Kenneth Camargo, que é editor da Phisis, revista internacional de Saúde Coletiva, afirmou que o aspecto mais problemático não é o financiamento dessas indústrias, mas o controle que elas exercem sobre os resultados. “Acontece desde a distorção de dados experimentais para produzir resultados favoráveis até o próprio controle da educação continuada”. O professor destacou ainda que as drogas que fazem sucesso comercial não são, necessariamente, as que dão conta dos problemas mais severos no que se trata do tradicional da saúde coletiva.
Jeannie Shoveller apresentou o tema “Grupos de risco, comportamentos de risco e pessoas de risco: discursos dominantes nas intervenções na saúde sexual no Canadá”. A professora afirmou que há uma tendência em classificar o sexo entre jovens como um perigo. “Começam a se formar as noções de pessoas de risco, grupos de risco e comportamentos de risco.”
A professora fez um breve histórico dos impactos da revolução sexual no Canadá e o freio imposto pela epidemia da Aids na década de 80. O pânico gerado por essa epidemia construiu uma série de discursos que Jeannie Shoveller procurou observar por outras perspectivas, como o do “jovem perigo”. A professora procurou alternativas para promover a saúde sexual da juventude, não por meio de pânico moral, mas pelo respeito aos direitos desses jovens e pela promoção de modificações em comportamentos de risco.
O conhecimento foi outro tema destacado pelos palestrantes como fundamental no campo da saúde. O professor Kenneth Camargo salientou que o médico precisa atualizar-se continuamente e declarou que “o conhecimento é um insumo essencial da Saúde Coletiva e deveria ser tratado como tal. Assim como tem cuidado para estocar uma vacina, deveria haver o mesmo com o conhecimento. A produção e a circulação do conhecimento deveriam estar desvinculadas dos interesses comerciais”.