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Instituto de Economia discute Agenda Civilizatória

 O Instituto de Economia (IE), do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE) da UFRJ, realizou nessa sexta-feira, 14 de março, a Aula Inaugural do curso de 2008. Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) do Governo Federal, foi o palestrante convidado para a conferência.

Segundo o especialista o Brasil está vivendo um momento muito interessante. Para ele o país finalmente visa o futuro, após 25 anos de preocupações e projetos de curto prazo. Pochmann afirma que as gerações dos anos 1950 e 60 foram a essência de todas as mudanças.

O presidente explica que o Ipea tem a responsabilidade ímpar de pensar o país através de seu compromisso com as políticas públicas: “Estamos muito envolvidos na gestão pública do conhecimento”, declarou Pochmann. De acordo com ele, uma das missões do Ipea é mobilizar a inteligência dos jovens economistas, através da oferta de bolsas de estudo e abertura de concursos. A maioria dos brasileiros está aquém do seu real potencial produtivo e intelectual, o que para o palestrante se deve a um mal planejamento público.

O modelo fordista emergente de desenvolvimento do Brasil, com alto padrão de produção para um alto padrão de consumo, somente deu certo em aproximadamente 15 países, de acordo com Pochmann: “O restante dos países com esse modelo caminhou para o subdesenvolvimento, entre eles o Brasil”, lamentou o presidente. Segundo o especialista, um país central possui moeda de curso internacional, produção e difusão de tecnologia e força armada capaz de proteger o território, diferentemente dos países emergentes, que na maioria das vezes são dependentes de outras economias.

No Brasil, para que houvesse um aumento considerável do consumo de bens de valor unitário, gerou-se uma enorme concentração de renda. Porém, Pochmann explica que se os brasileiros tivessem o mesmo poder de compra e padrão de vida que há nos Estados Unidos, haveria três vezes mais carros nas estradas. Portanto, o especialista evidencia que o caminho não é simplesmente universalizar o padrão de consumo, e sim planejar como essa adaptação será feita e conscientizar a população de que o consumo não pode ser desenfreado.

O Brasil está vivendo uma modificação das organizações do trabalho. Segundo Pochmann esse fenômeno se deve à concentração de capital causada pela fusão de empresas, o que gera, de acordo com ele, um desequilíbrio na governança do mundo diante da fragilidade das organizações multilaterais. “A China tem 150 das 500 maiores empresas do mundo, o Brasil tem cinco”, declarou o palestrante, ao evidenciar o abismo que há entre o desenvolvimento brasileiro e os países centrais.

Marcio Pochmann garante que a solução para o Brasil é a formulação de uma Agenda Civilizatória, assim como a que foi usada na transição da sociedade agrária para a urbana. Segundo o presidente, no século XIX viver era sinônimo da carga horária para o trabalho. Ao chegar à Agenda Civilizatória do século XX houve grande estranhamento, devido à mudança radical das relações de trabalho que ela previa.

No século XX, viver não equivalia à jornada de trabalho, porém as relações tomaram outro rumo. De acordo com Pochmann, a carga horária diminuiu, no entanto o trabalho só aumentou: “No século XX passou a se trabalhar de forma extensiva, heterônima”, observou o especialista. Para ele, cada vez mais o trabalho era caracterizado por salários variáveis, em uma espécie de sociedade comissionada. Todas essas manisfestações permitem a formulação de uma nova agenda: “Não há razão para se trabalhar mais do que quatro horas por dia”, declarou Pochmann, veementemente. Uma afirmação dessas, de acordo com o palestrante, causa estranhamento, da mesma forma como causou a Agenda Civilizatória do século XX. Entretanto, o presidente afirma que a nova agenda libertará o homem do trabalho heterônomo.

Para Pochmann, um grande motivo de não haver lutas e reações contra a situação de trabalho atual no Brasil é a desestruturação familiar: “Cada vez mais os membros de uma mesma família são individuais”, afirmou. É papel do Estado, segundo o palestrante, reconstruir a sociabilidade entre os familiares, assim como abolir a idéia de educação estanque para crianças e adolescentes.

Marcio Pochmann destaca que o estudo deve ser praticado por todas as fixas etárias, porém há um fracasso na visão de especialização do conhecimento: “Se especializar quer dizer saber mais de cada vez menos”, observou o presidente. Para ele o estudo deve ser variado, justamente para atender o mercado que recorrentemente exige um conhecimento geral do funcionário.

O palestrante afirma que a reforma partidária seria um excelente passo na formulação da agenda. Segundo ele, atualmente faltam idéias, porém sobram partidos. Para o Brasil que, de acordo com o especialista, não possui uma cultura democratizada, uma reforma profunda é o caminho para uma república democrática consolidada: “Fico feliz de participar do projeto da Agenda Civilizatória do século XXI e espero que alcancemos os nossos objetivos”, declarou Marcio Pochmann.