Aconteceu nesta quarta-feira, dia 5 de março, a palestra Políticas de Comunicação: a interface entre a Sociedade Civil e a Interface, que integrou o ECOmeço, semana de abertura do primeiro semestre de 2008 da Escola de Comunicação da UFRJ. Para o evento, foram convidados os palestrantes Gustavo Gindre, jornalista e integrante do Intervozes: Coletivo Brasil de Comunicação Social, e Henrique Antoun, professor da ECO.
Gindre explica que o Intervozes é uma organização que assume uma luta embasada no princípio de que a comunicação é um direito humano e que reúne atualmente por volta de 60 pessoas em todo o Brasil, chamando os calouros de Comunicação a aderirem a esta causa. “É possível fazer a diferença estando na Universidade, sendo ainda estudantes. Noventa por cento das pessoas que estão hoje no Intervozes passaram em algum momento pelo movimento estudantil da Comunicação. É importante aproveitar a oportunidade que a Universidade oferece de conhecer outras culturas de nosso próprio país, que muitas vezes são negligenciadas, inserindo nesse contexto a luta pelo direito à comunicação, que é o objetivo final da luta do Intervozes”, afirma o especialista.
O jornalista defende a ampliação do conceito de que a comunicação é um direito humano inalienável. “O que nos diferencia como espécie é a capacidade de construir e transmitir conhecimento; aquilo que nos constitui como sociedade democrática é a possibilidade que esse conhecimento circule livremente. Acontece que em sociedades de massa como a que nós vivemos não basta mais que esse conhecimento circule livremente num contato interpessoal, no contato de um com o outro”, disse Gustavo Gindre, afirmando que ainda vivemos num contexto de enorme concentração das mídias de comunicação. “No caso do Brasil, há uma coincidência muito grande entre as concessões de rádio e televisão e as oligarquias regionais. Esse grande oligopólio da mídia estende seus braços e tentáculos para a política constitucional, com uma presença muito grande no congresso e no governo”.
O especialista conta ainda que este quadro está mudando, a partir da introdução da Internet, uma mídia caracterizada por ele como diferente por permitir a interatividade. “Ao contrário do rádio e da televisão, a internet não atua numa posição passiva, pois o indivíduo passa a ser, além de consumidor, um produtor de informação. Esse processo de convergência nos coloca em outro contexto”, defende o jornalista, ressaltando que o cenário antigo não é abandonado, visto que 92% dos lares no Brasil continuam a ter TV aberta e que, além de novas facilidades, esse novo mecanismo também carrega novos problemas e dificuldades.
Gindre então destaca como os primeiros impasses à garantia de que todos tenham acesso a esse meio de comunicação interativo e por um custo acessível para a maior parte da população. “Temos uma penetração de banda larga de aproximadamente 7% das residências, e cerca de 5000 municípios não tem acesso a banda larga no Brasil. Em mais de 2000 municípios é necessário fazer interurbano para conexão discada, pois não possuem pontos de chegada do acesso à internet”, enumera.
Outros problemas que o jornalista aponta é que a Internet apresenta uma face extremamente centralizada, por causa do controle da tabela de endereços IP pelo Departamento de Comércio Norte-Americano, e a questão do conteúdo, pela inexistência de uma legislação internacional para a rede.
Já para Henrique Antoun, a internet é “em parte especulativa por se referir a uma potência que é algo discutível e não um real efetivo”, isto é, há uma gama de possibilidades, porém as mesmas dependem de uma potência e uma força que a impulsione.
Segundo professor, a Internet tem um modelo diferenciado de comunicação, por apresentar o pólo de emissão aberto. “Ela é interativa no sentido pleno. Permite interagir diretamente e produzir. O que se gera é toda uma facilidade de interação e produção própria. Esta é a chave do potencial da internet, chamada capital social”, explica Antoun, caracterizando este último como o poder das pessoas se reunirem em comunidade, em realizações compartilhadas.
O professor esclarece então que a organização social dá um salto qualitativo a partir das redes de comunicação distribuídas. “Nesta, o valor é o número de comunidades, ou seja, a quantidade de atividade que aquilo é capaz de gerar. A própria participação do público acaba definindo o que seria o perfil de uma tecnologia do que interessa. E essas tecnologias que investem nesse potencial social, que investem nesse poder de reiteração, é que tem crescido, pois já nasceram no bojo da luta contra as tecnologias de massa. O que povoou a internet foi essa atividade disseminada, difusa e não caracterizada, que inventou o uso de e-mails, grupos de discussão e tantos outros recursos. A potência passa por essa necessidade de se descobrir o que se fazer com as ferramentas que temos em mãos. E a internet é basicamente isso, com um grande e possível potencial”, finaliza Henrique Antoun.