Categorias
Memória

Vida extraterrestre, você acredita ?

“A vida é um fenômeno comum no universo?” foi o tema desenvolvido pelo diretor e professor adjunto do Observatório do Valongo, Gustavo Mello, em palestra realizada dia 19 de março, no Instituto de Física (IF) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O palestrante falou sobre as condições necessárias para a formação da vida no universo, sobre as definições e propriedades de como essa é conhecida na Terra, além da probabilidade de existência da mesma em outros planetas e galáxias.

O que é a vida? O que é inteligência? O que é consciência? Para o professor, essas perguntas traduzem a história da humanidade e a eterna busca dessa pelo conhecimento. Definir inteligência e, principalmente, o que é a consciência seja talvez a fronteira final do conhecimento humano. “O que, no momento, somos capazes de conseguir é buscar algumas propriedades da vida, que é um sistema que se auto-reproduz, ou seja, que possui memória estrutural, ou morfogênese interna, como dizem os especialistas. Mais claramente, toda informação prognosticada pela vida está dentro dela própria”, explica Gustavo.

Outras características importantes são a Permanência, a Integralidade e o Não-equilíbrio. A primeira pode ser compreendida pelo instinto de sobrevivência, pois toda estrutura viva busca sua permanência, o que ganha precedência sobre todas outras considerações, até mesmo a reprodução. “A Integralidade, por sua vez, se refere à existência de sistemas complexos. Por exemplo, os organismos vivos possuem sistema nervoso, cardiovascular, respiratório, digestivo, ou seja, possuem subsistemas dentro de sistemas. E essa capacidade de uma estrutura complexa de possuir subsistemas e sub-subsistemas é uma medida da complexidade que é bastante exclusiva do sistema vivo. Já a característica de ausência de equilíbrio conduz à busca pelo mesmo. O sistema vivo está sempre oscilando entre um estado idealizado de equilíbrio que ele nunca vai atingir o que o coloca numa constante troca de matéria e energia com o meio”, afirma o atual diretor do Valongo.

Os organismos vivos possuem metabolismo, que nada mais é do que a capacidade de se auto-fabricar, chamada de autopoiese, conceito originado nos anos 80. Segundo ele, baseado numa biblioteca de informação, (RNA), os seres complexos trocam matéria e energia, estando constantemente se auto-fabricando, ou seja, se dando, trocando células. O que já não ocorre com o vírus, por exemplo, que não possui autopoiese e conseqüentemente, não se auto-fabrica, precisando invadir o mecanismo celular de uma célula, pervertendo-o, a fim de se autoduplicar. No entanto, quando a infecção viral acaba, todos os vírus morrem.

Segundo Gustavo, a vida é apenas um exemplo de sistema aberto que usa a energia desperdiçada pelo sol através de ligações nucleares gerando calor, onde localmente, viola a segunda lei da termodinâmica. “Ela não está se nivelando. Têm-se aqui um aumento de ordem e complexidade, às custas de um aumento muito maior de desordem do sol, transformando energia potencial nuclear em energia térmica, que é a mais desorganizada de todas as formas de energia”, explicou o professor.

Para ele, este século será de grandes avanços para as Biociências: “Da mesma maneira como vocês devem saber que o século XX foi de domínio da Física, principalmente a mecânica quântica, o século XXI vai ser de domínio das Biociências, da Biogenética e da Biotecnologia. Eu acho que perguntas como a da definição da vida podem encontrar uma solução nesse século. Vocês que são jovens têm uma boa chance, no seu tempo de vida, assistir a essa resposta, apostou Gustavo.

Existe vida em outros planetas? A grande questão
No universo, há cerca de cem bilhões de galáxias, cada uma com aproximadamente cem bilhões de estrelas, o que chegaria a um resultado aproximado de dez sextilhões de estrelas.  Admitindo que a nossa galáxia é típica, que a nossa estrela é típica e que o nosso planeta é típico, o argumento da Mediocridade diz que é muito provável haver outro planeta com vida, sendo uma proposta considerável.

Acerca dessa questão, dividem-se duas escolas principais: a dos otimistas, com símbolos como Giordano Bruno, Carl Sagan e Jell Sarter, e, em contrapartida, a dos pessimistas, onde destacam-se Peter Ward e Donald Brownlee.

Os primeiros argumentam dizendo que a química (CHON) e a energia necessária para a efetivação da vida são abundantes no universo, sendo especial o processo que realizam, a transformação da órbita inanimada de átomos com energia em estruturas complexas, auto-replicantes, com memória, integralidade e auto-coleta. Utilizam-se também do Argumento da Mediocridade como ênfase de sua tese.

Já os pessimistas se apropriam de evidências da dificuldade na evolução da vida complexa na Terra e de algumas particularidades na evolução da Terra como planeta. Além de se apoiarem no fracasso das escutas de rádio em detectar sinais inteligentes de civilizações extraterrestres. Para Gustavo, que disse fazer parte dessa corrente, “resultados recentes sugerem que o Sol não seja tão normal como parece, assim como a Terra, que talvez não seja não seja um planeta tão típico”.

O professor assumiu ser defensor das teses, mesmo que variem entre as otimistas e pessimistas, mas que não perdem seu fio condutor de realidade, de verossimilhança. Lembrando que os gregos jônicos alavancaram nas proposições sobre o universo, porém só não tinham como prová-las. “Há quem acredite na existência de seres interplanetários e, que os mesmos só não fazem contato conosco, devido a sermos inferiormente inteligentes, ou ao fato de que a Terra seja um laboratório de como não se prosseguir”, ironizou Gustavo, dizendo que essas não são umas das mais absurdas.

– Veja bem que o tema vida no universo não é novo, os gregos jônicos, há dois mil e quatro centos anos atrás especulavam que as estrelas que se viam no céu, eram outras estrelas, outros Sóis, que esses possuíam planetas, que por sua vez eram habitados por seres inteligentes. Pessoal, há dois mil e quatrocentos anos atrás, eles especularam numa direção correta, só não tinha dados concretos que comprovassem isso -, relembrou o mestre.