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Memória

Celso Furtado na UFRJ

 O Fórum de Ciência e Cultura (FCC) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foi o lugar da pré-estréia de O longo amanhecer. O filme é uma cine biografia de Celso Furtado, economista que formulou as políticas de industrialização brasileira e de incremento regional e que defendeu o redirecionamento da economia do país em prol do desenvolvimento social.

Dirigido pelo cineasta José Mariani, o documentário investiga as análises e atitudes do “grande pensador do século XX” – assim nomeado pela economista e professora da UFRJ, Maria da Conceição Tavares – e registra a lucidez de quem reconhecia sua própria importância: “Meu forte era a capacidade de transformar o mundo real em exercício mental”, declarou Furtado durante a gravação.

Ao final da exibição de O longo amanhecer, a coordenadora do FCC da UFRJ, Beatriz Resende, convidou Mariani e Rosa Freire d’Aguiar Furtado, viúva de Celso Furtado, para a realização de um debate, iniciado com o esclarecimento sobre a idéia de se fazer o filme:

– A vontade partiu de “Cientistas Brasileiros”, biografia que fiz sobre dois físicos nucleares contemporâneos de Furtado. Eu queria continuar explorando esta geração pós-guerra, que sempre trazia novos projetos de desenvolvimento – esclareceu o diretor, que ainda falou da “experiência rica de conviver com pessoas brilhantes”.

A satisfação com o bom resultado foi declarada também por Rosa, ao reconhecer a abrangência da obra, realizada graças à insistência de Mariani diante da negativa de Furtado em relação às câmeras. “Trata-se de uma biografia e uma história do desenvolvimento do Brasil no século XX. Quem assiste, ganha uma carga de conhecimento sobre a teoria econômica do período”, destacou.

Quando questionada sobre por que Furtado havia retornado ao país, após ter vivido no exterior e ter alcançado prestígio acadêmico tão grande, a viúva ressaltou: “Ele nunca foi político propriamente; sempre foi intelectual, por isso voltou, para contribuir com a pátria”.

Esta vontade de contribuir, aliás, está refletida na mensagem que o economista deixou aos brasileiros na última cena do documentário, quando ele questiona: “Que país é este?”. A resposta, de acordo com Mariani, ainda está por ser descoberta: “Ao final, Celso passa o bastão e nos deixa a reflexão”, interpretou o diretor.

Quem foi Celso Furtado

O paraibano nascido em 1920, graduado em Direito e pós-graduado em Economia, foi autor de obras consagradas para o estudo do desenvolvimento do país, entre as quais está o livro “Formação Econômica do Brasil”. Além de escritor, a carreira pública lhe conferia autoridade para a análise, estando inserido em órgãos importantes do governo nacional e internacional, como a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL).

Sua linha principal de pensamento considera o subdesenvolvimento como uma forma de organização social no interior do sistema capitalista e não apenas como uma etapa para o desenvolvimento. Segundo Furtado, a industrialização indireta do país criou uma dependência em relação aos Estados desenvolvidos, que não poderia ser superada sem uma intervenção estatal e o redirecionamento dos excedentes para o setor produtivo.

Para disseminar a memória desta personalidade e as suas doutrinas, está sendo formulado o projeto do “Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento”, uma associação de interesse público, que visa à promoção de atividades acadêmicas relacionadas ao estudo do desenvolvimento econômico, social, regional e urbano.

Entre as atividades do Centro está a concessão de prêmios e bolsas de estudos a pesquisadores, a avaliação de políticas de desenvolvimento, e a oferta de acesso público à Biblioteca e aos arquivos de Celso Furtado. Para conferir, acesse o site www.centrocelsofurtado.org.br.