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Memória

Quando a ciência encontra a escola

 No segundo dia da celebração dos 70 anos de Leopoldo De Meis, fundador do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM – UFRJ), o tema central foi o já conhecido trabalho feito pelo aniversariante com os cursos de férias. Na última sexta-feira, 14 de março, foi a vez de professores de diversas partes do país falarem um pouco da experiência que tiveram com De Meis.

Para falar da interação ciência e escola realizada pelos cursos de férias, compareceu, de Florianópolis, João Batista Calixto, professor da Universidade Federal de Santa Catarina. Além dele, Cristovam Picanço, da Universidade Federal do Pará e João Batista da Rocha, da Universidade Federal de Santa Maria.

Calixto viajou ao passado e recordou como conheceu Leopoldo De Meis, dividindo em três momentos. O primeiro foi breve, quando ele assistiu a um experimento de De Meis, durante um curso. “Aquilo me marcou e nunca mais esqueci aquela experiência”, declarou.

O segundo momento, mais de 20 anos depois, se passa no comitê de ética do CNPq, quando João Batista Calixto foi eleito coordenador do comitê de ética da entidade. Ele afirmou que aprendeu a conviver com as divergências científicas e discussões do comitê, do qual Leopoldo também era integrante. “As discussões podiam ser intensas durante as reuniões, mas sempre depois de um jantar tudo voltava ao normal e todos se entendiam”, recordou.

O terceiro momento é o que Calixto considera o mais importante. “Quinze anos depois foi quando conheci a pessoa do Leopoldo. Foi o momento em que fui intimado a integrar o projeto de ciência e educação”, informou. O professor considera o projeto uma justa atenção à sociedade. “O cientista tem uma mania, eu inclusive, de olhar para o próprio umbigo. ‘Eu publico, eu faço, eu fico famoso, sou citado’. Mas, para a sociedade, é comum que se dê pouco valor” opinou. “Acho que Leopoldo é um dos poucos cientistas que tem um coração e uma visão social que, em geral, as universidades não têm”, continuou o professor, lembrando o famoso tripé sobre o qual a Universidade se sustenta. “O Brasil não vai melhorar apenas publicando trabalhos científicos. Isso é uma visão muito pequena. Leopoldo cumpriu as três etapas da universidade: ensino, pesquisa e extensão”, finalizou.

A manhã contou ainda com a apresentação de vídeos, durante a participação de Cristovam Picanço. Os presentes puderam ver o resultado direto dos cursos de férias, que levam a ciência prática para mais perto de estudantes de ensinos fundamental e médio. Declarações como ‘não gostava de Biologia, mas agora gosto’ ou ‘quero ser um cientista’ foram ouvidas de crianças de cidades do interior do Pará.

Participou, ainda, o professor João Batista Rocha, do Rio Grande do Sul. Ele foi mais um a considerar Leopoldo como um pai e lembrou como achou brilhante o trabalho científico de De Meis quando leu pela primeira vez. “Aquilo não era uma obra científica. Era uma poesia. E além de tudo era uma poesia revolucionária. Era uma coisa linda e maravilhosa”, declarou.

O professor gaúcho lembrou que há muitos desafios. Um deles é criar pós graduandos dispostos a enfrentar dificuldades. “Por exemplo, ciências biológicas dois está muito concentrada em São Paulo e Minas Gerais. No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina tem alguma coisa e região Centro-Oeste e Norte praticamente não temos nada”, avaliou  João Batista.

O trabalho de Leopoldo De Meis resultou no Prêmio Anísio Teixeira de Educação. O reconhecimento chegou pelas mãos do presidente Luís Inácio Lula da Silva, em 2006. Destaca-se, no trabalho, além da integração ciência-escola, a relação ente o projeto e a arte.

Por exemplo, no início do projeto, foi preparada uma peça teatral, na qual o próprio De Meis atuou, em apresentações em diversas Universidades do País. Humanização e sensibilidade parecem ser tônicas do trabalho de Leopoldo De Meis. Assim ele encerra seu artigo autobiográfico, distribuído no evento: “Honestamente… Tenho me divertido muito trabalhando com ciência e educação”