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Memória

Setenta anos de energia

 Não há lugar melhor para comemorar o aniversário do que entre os amigos. Parece que o professor Leopoldo de Meis, fundador do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM), compartilha dessa idéia. Marcado por muita emoção, professores de diversos lugares do Brasil e do mundo marcaram presença na celebração dos 70 anos de De Meis. O evento, de título “A bioenergética e a energética de uma vida”, ocorreu no auditório Rodolpho Paulo Rocco, o “Quinhentão”, com previsão para durar dois dias.

Presentes na solenidade de abertura estavam Ângela Uller, pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa da UFRJ, representando o reitor Aloísio Teixeira, a decana em exercício do Centro de Ciências da Saúde, Maria Fernanda Quintela Nunes e Débora Foguel, diretora do IBqM. Além delas, compuseram a mesa Jerson Lima Silva, representando a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e a Academia Brasileira de Ciências e Paulo Beirão, em nome da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular.

Professor, amigo e mestre: os quatro ensinamentos
O primeiro discurso foi também o mais emocionado. Débora Foguel assumiu o microfone, com a intenção de lembrar um pouco dos ensinamentos absorvidos de Leopoldo de Meis. “O primeiro ensinamento e talvez o mais importante e sublime foi o de nos conscientizar de que a receita para curar um sonho é permitir-se sonhar mais, sonhos mais ousados e mais ambiciosos”, começou a diretora, ressaltando a importância de ousar para progredir.

— Leopoldo nos ensinou que quando a gente anseia muito uma coisa porque é boa para nós, para a Instituição e para a sociedade, não devemos nos intimidar com os obstáculos que aparecem, impondo-nos limites —, lembrou Foguel. Ela se refere a projetos como o do Centro Nacional de Ressonância Magnética Nuclear, inaugurado no ano passado e considerado referência na América Latina.

O segundo ensinamento lembrado por Débora Foguel foi o de espírito de equipe, para ela, fundamental para o crescimento da Instituição. “As portas dos laboratórios não podem representar empecilhos para compartilharmos tudo que eles contêm, fazendo uso de tudo de forma conjunta, com responsabilidade”, afirmou.

— Todos sabemos que, infelizmente, os recursos para infra-estrutura têm sido escassos, mas o espírito de equipe sempre nos fez crescer, desenvolvendo em cada um o sentido do coletivo, tão forte que tem nos projetado como uma instituição renomada de pesquisa, ensino e extensão —, completou a professora.

O terceiro ensinamento é também a marca registrada de Leopoldo de Meis. A valorização dos jovens hoje se concretiza na forte presença dos alunos nas atividades  do Instituto, além dos cursos de férias, criados pelo aniversariante. “Ele, certamente, atrai como um ímã os jovens que, em seguida, os impulsiona para vôos mais altos. Praticamos já nos nossos laboratórios esse terceiro ensinamento, que reza sobre o cuidado e carinho que precisamos dispensar aos nossos jovens”, destacou Débora Foguel.

A própria estrutura do Instituto é preparada para os jovens, em um sistema de orientação em cascata, em que alunos mais graduados orientam os mais jovens. O modelo já demonstra seus resultados, na prática. “Esse modelo levou o aumento de trabalhos de iniciação científica do Instituto que, por sua vez, resultou no aumento de pós-graduandos. Nossos estudantes de pós-graduação são, desde cedo, treinados para lecionar na graduação e até mesmo nos cursos de férias”, informou a diretora.

O quarto ensinamento se refere ao compromisso da Universidade para com a sociedade. Débora vê os cursos de férias como o símbolo maior desse princípio passado pelo professor. “É preciso um enorme esforço e criatividade para resgatar essa juventude desacreditada da escola, da leitura, que tem aversão a Matemática e, sequer, sabe o que é Ciência. Leopoldo, há quase 25 anos, tomou para si a responsabilidade de tentar reverter esse quadro, mesmo que fosse com uma gota cristalina num mar de lama”, declarou, já entre lágrimas, Foguel.

Débora acredita que os cursos de férias representam uma marca da sabedoria de Leopoldo de Meis, abrindo as portas da Universidade para o ensino básico. “Aqui aprendi que com muito pouco esforço e recursos, muito se pode fazer para darmos a nossa pequena parcela de contribuição para tentar reduzir a vergonha que sentimos em relação à nossa educação básica”, contou.

Para a professora, sempre haverá espaço para expandir esse projeto. “Eu ainda tenho um sonho, transformar nossa UFRJ, durante as férias, num grande parque de cursos de férias com todas as unidades para, quem sabe um dia, chegarmos às cifras de 40 mil alunos e 80 mil professores atendidos”, revelou. “Como aprendemos no primeiro ensinamento do mestre, sonhos se curam com mais sonhos”, finalizou a professora.

Após a solenidade, Leopoldo de Meis foi presenteado com uma peça artesanal, de acordo com a personalidade artística e sensível, destacada por todos os presentes. O evento conta, ainda, com uma programação de discussões e conferências científicas, amanhã, 14 de março, no mesmo horário, com o tema “Uma trajetória e muitas histórias”. As palestras de amanhã também ocorrem no “Quinhentão”.