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Aula Inaugural do IPUB tematiza o Transtorno Bipolar

 Nessa sexta-feira, dia 7 de março, o Instituto de Psiquiatria (IPUB) da UFRJ realizou sua Aula Inaugural no auditório Leme Lopes, no Campus da Praia Vermelha. O enfoque da palestra trouxe como tema “O tratamento farmacológico do Transtorno Bipolar: uma revisão crítica”, proferida pelo doutor Elie Cheniaux.

De acordo com o palestrante, o Transtorno Bipolar (TB) tem uma prevalência de 1,2% na sociedade; sendo que 0,8% da população possui TB do tipo 1, que inclui episódios de mania, e 0,5% possui TB do tipo 2, que apresenta depressão e hipomania. No entanto, alguns autores afirmam que o TB(2) é mais prevalente na população. Logo, Cheniaux acredita que o tratamento dessa doença mental seja fundamental, devido ao elevado número de casos na sociedade.

A faixa etária média de manifestação dos sintomas do TB, segundo o doutor, vai de 15 a 24 anos. Entretanto, mesmo que o paciente responda bem ao tratamento, o TB não tem cura. Com isso, a doença se torna mais preocupante, de acordo com Elie Cheniaux, pois em qualquer momento existe a possibilidade do indivíduo entrar em crise, o que pode até levá-lo ao suicídio: “De todos os pacientes com TB 25% tentam, 11% morrem”, revelou o palestrante.

O Lítio foi o primeiro medicamento utilizado no tratamento de TB. Porém, segundo Cheniaux, demorou muito para que essa substância fosse incluída na prática psiquiátrica, já que não houve interesse da indústria farmacêutica em comercializar o Lítio, que não pode ser patenteado por ser natural.

Segundo o doutor, o Lítio foi superior ao placebo em eficácia em quatro estudos realizados de forma inadequada. Entretanto, recentemente, foram feitos estudos controlados com a Lamotrigina, a Olanzapina mais a Fluoxetina, a Quetiapina e o Divalproato que obtiveram resultados satisfatórios.

Além de todos os problemas nos estudos envolvendo diretamente a medicação, existem outras complicações nos testes controlados como os impasses metodológicos nos estudos com psicofármacos. De acordo com Elie Cheniaux, os pacientes que manifestam o TB mais gravemente são excluídos da pesquisa por serem menos fáceis de lidar. Há também uma elevada taxa de abandono ao estudo, cerca de 50% em menos de três semanas. Porém em oito de 14 estudos como esses, cerca de 50% dos pacientes melhoram.

O doutor lamenta que o tratamento de TB(2) não seja estudado a fundo. Para ele, o diagnóstico de TB(2) é fator de exclusão para as pesquisas em depressão comum, assim como no caso de TB(2) os episódios de depressão são muito mais prevalentes, reduzindo muito a manifestação da mania: “Deve se estudar um caso de TB(2) como se fosse praticamente pura depressão”, lembra Cheniaux.

O palestrante afirma que a atuação do Lítio nos casos de depressão bipolar melhora 35% dos pacientes. Entretanto, mesmo que a utilização de antidepressivos na depressão do TB(2) seja superior ao placebo, eles podem intensificar a mania: “Logo, os antidepressivos para tratamento da depressão bipolar somente podem ser utilizados em associação com um estabilizador de humor”, lembra Elie Cheniaux. De acordo com ele, os possíveis estabilizadores são a Carbamazipina, o Divalproato e a Eletroconvulso terapia de manutenção.

Em 2006 foi publicado um estudo a propósito da evolução do TB, que reuniu 1.469 pacientes durante dois anos, com o melhor tratamento disponível. Segundo o palestrante, 58% dos indivíduos apresentaram remissão. Entre os recuperados, 48% tiveram recorrência. Portanto, mesmo com os melhores medicamentos, a resposta ao tratamento do TB é muito precária: “Claro que com o tratamento o indivíduo fica muito melhor e mais socializável, porém ainda não é o ideal”, lamenta Cheniaux.

Também existem testes quanto à eficácia da Eletroconvusoterapia (ECT) no tratamento de TB. Para episódios de mania, a ECT teve uma resposta de 50%. No entanto, politicamente ela é excluída como meio de tratamento, por haver uma polêmica quanto aos seus efeitos colaterais, como perda de memória: “Há alguns movimentos entre os profissionais de saúde mental que condenam a ECT alegando ser uma forma ultrapassada de tratamento, equiparando-a a tortura”, declara o doutor. Portanto não existem muitos estudos que aplicam a ECT: “Nenhum patrocinador quer investir nessa polêmica”, explicou Elie Cheniaux.