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Memória

“É mais fácil se formar em Harvard”

 Período letivo da Pós-graduação do Instituto de Química (IQ) da Universidade Federal do Rio de Janeiro foi oficialmente iniciado ontem, dia 6, com palestra do ex-diretor e professor titular do Instituto, Ângelo da Cunha Pinto. O tema girou em torno da origem, atualidade e perspectivas da Pós-graduação em Química no Brasil. Conhecido pelo seu olhar criativo e aguçado, como fora descrito pela atual diretora do IQ, professora Cássia, o membro da Academia Brasileira de Ciência defendeu a visão histórica, de forma que para se entender a atual situação e problemas do curso e, assim, modificá-lo deva-se compreender seu processo de instauração no país.

A aula foi iniciada com uma frase que a caracterizaria até o fim: “É claro que como não sou provocador, não farei nenhuma provocação nessa apresentação”, ironizou o professor.

Com seus ditos polêmicos, ele que iniciou suas orientações de Pós-graduação sem ter o título de doutor, o que na época era possível, argumentou contra a realização do mestrado, defendendo a incidência direta no doutorado e defendendo maior interdisciplinaridade entre os cursos, que cada vez mais se limitam.

A fim de solucionar alguns problemas como a impermeabilização do corpo docente de algumas universidades e a pouca procura por renovação das bolsas e número restrito de profissionais formados no RJ, Ângelo resgatou o cumprimento de medidas como uma política de contratação efetiva, convênios entre os cursos de Pós das diferentes regiões, de forma a interligá-los.

A respeito do conservadorismo no RJ, que só teve o credenciamento do Doutorado reconhecido nos anos 90, após décadas de pesquisa, brincou:
“É mais fácil se formar em Harvard.”

Visão histórica
Criando uma cronologia, o professor retomou à criação do Ministério da Educação e Saúde, em 1931, no Governo Vargas, primeira vez que a educação aparece com estatuto de Ministério, e  do Fundo de Desenvolvimento Técnico-Científico (FUNTEC) a ser administrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Científico e Social (BNDES). Tal proposta, idealizada por José Belúcio Ferreira, separava 40% das verbas públicas para atender os cursos de Pós-graduação, nas áreas de Física, Química e Engenharias ( Metalúrgica, Mecânica e Elétrica) e 60% para pesquisas técnico-científicas, tendo grande efetivação no Governo Militar, responsável por impulsionar o quadro científico nacional.

Outro fator lembrado foi a criação do Curso de Filosofia, Ciências e Letras pela Universidade de São Paulo, USP que importou grandes pesquisadores europeus, entre eles Heinrich Reinboldt e Heinrich Hauptmann, responsáveis pela formação dos primeiros doutores no Brasil.

Em todos os exemplos, ficou clara a importância dada à educação e ao fator incisivo que a mesma exerce na construção de um futuro que, para Ângelo, é uma tarefa coletiva.