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UFRJ discute Expressões da Questão Social no Brasil

 Começou nesta segunda-feira, dia 3 de março, a III Semana Acadêmica da Escola de Serviço Social (ESS) da UFRJ, que acontece na Praia Vermelha. A Semana conta com a apresentação de conferências, com a participação de professores da própria ESS e de palestrantes convidados, debates e minicursos, abertos a alunos de Serviço Social da UFRJ e de outras entidades.

A abertura do evento ficou por conta de Maria Magdala Araújo Silva, diretora da ESS, que defendeu a importância dessa iniciativa: “A Semana Acadêmica da Escola de Serviço Social da UFRJ é um espaço de grande relevância tanto para os profissionais já formados quanto para os alunos por permitir a troca de idéias e de conhecimento, além de também atuar na integração de alunos de diferentes períodos, professores e técnico-administrativos”, afirma a diretora, dando início à primeira conferência da Semana. A conferência sobre Expressões da Questão Social no Brasil, contou com a participação de Marildo Menegat, filósofo, e Giuseppe Cocco, cientista político, sob a coordenação de Cleusa Santos, todos professores de Serviço Social da UFRJ.

Segundo Menegat, esse tema apresenta uma perspectiva polêmica no que se refere à leitura sobre o objeto social, que é a própria sociedade. “O que existe é uma relação dialética: somos sujeitos e objetos no estudo da sociedade”, afirma o especialista, focando o papel que o Brasil assume para si na relação com as transformações ocorridas no mundo. “Desde sua origem, o Brasil não existe por si, mas pela atuação externa, como a colonização européia. A industrialização brasileira, abrupta e acelerada, seguiu os mesmos moldes, tencionando atingir o desenvolvimento dos países centrais. O problema é que quando o Brasil atingia a segunda modernização na década de 80, representada pelas máquinas, os países desenvolvidos já entravam na terceira revolução técnico-científica, da microeletrônica. Essa tecnologia trouxe além da adoção de novos materiais e formas de energia, não condizentes com as utilizadas no processo anterior de industrialização, a redução da mão-de-obra”, explica o professor, lembrando que ocorre então a imposição desses avanços tecnológicos sobre os países periféricos que, como o Brasil, apresentavam uma tecnologia sucateada, gerando altos níveis de desemprego crônico na sociedade.

Menegat destaca então a urbanidade caótica, pela acelerada industrialização, e o impacto dos avanços tecnológicos, acompanhado de um desemprego que não será recuperado como fatores marcantes de uma crise social, que atende apenas aos interesses de uma classe dominante. “O nível de desemprego no Brasil, atualmente em 8%, dificilmente irá diminuir; a maioria dos brasileiros trabalha sem carteira assinada, o que significa sem direitos elementares; existe uma massa de trabalhadores em funções exploradas. Enfim, os meios que a sociedade oferece para que o indivíduo se torne uma pessoa integrada à sociedade são parcos”, relaciona o conferencista, que ainda afirma: “a violência numa sociedade como a nossa é conseqüência da expressão deficitária dessa sociedade”.

Neste aspecto, Menegat acredita que existem técnicas de fazer com que determinadas vertentes da sociedade aceitem as conseqüências que desmoronam sobre elas. “a violência do Estado é um inibidor das manifestações de comunidades fora do sistema, assim como as técnicas de ações sociais, que vão desde o AfroReggae  até o Bolsa-família, que fazem com que elas se conformem”, afirma o professor, que finaliza sua fala: “É necessário olhar a realidade como ela é, indignando-se contra elas”.

Giuseppe Cocco, por sua vez, concorda em diversos pontos com Marildo Menegat. Entretanto, em relação às políticas de ação social, o cientista político discorda, por acreditar que elas atendem a duas vertentes: “as ações sociais podem também servir como estímulo ao enfrentamento social, apesar do caráter inibidor de muitos programas. As técnicas de regulação da população, baseadas em projetos sociais, são ao mesmo tempo meios de organização da luta social”, analisa.

Para o professor, esta não é uma crise do trabalho, mas salarial. “A exclusão é o primeiro momento da subordinação, sendo sua função interna fundamental, relacionada ao trabalho assalariado e ao capitalismo”, declara Cocco, que finaliza: “A miséria no Brasil não é só o desemprego, mas o salário mínimo”.

A III Semana Acadêmica de Serviço Social da UFRJ continua com a programação até sexta-feira, dia 7 de março, com a apresentação de mesas-redondas e de minicursos, que acontecem no Salão Dourado, do Fórum de Ciência e Cultura, a partir das 8h. O Fórum fica à Avenida Pasteur, nº250, campus UFRJ da Praia Vermelha.