Segundo Antônio José Barbosa de Oliveira, historiador e pesquisador do Projeto Memória, do Sistema de Bibliotecas e Informação (SiBI) da UFRJ, a proibição intentava impedir que se desenvolvesse na colônia uma elite capaz de desenvolver um pensamento destoante do pensamento metropolitano.
Com a transferência da metrópole portuguesa para o Rio de Janeiro, tornou-se necessário implementar condições mínimas de infra-estrutura para um contingente de, aproximadamente, 15 mil pessoas que chegaram com a corte, como relata a professora Francisca Nogueira, do departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS): “Entre as medidas imediatas para o desenvolvimento do Brasil, que se torna Reino Unido de Portugal e Algarves, D. João VI cria a Faculdade de Medicina da Bahia em fevereiro de 1808, durante sua rápida passagem pela região, e em novembro do mesmo ano funda a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, logo após a sua chegada”, explica.
A Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica do Rio de Janeiro, como veio a se chamar, funcionou nas dependências do Real Hospital Militar no Morro do Castelo até 1813, empenhando-se na formação de cirurgiões civis e militares. A importância dessas instituições se deve à urgência do desenvolvimento de remédios e de tratamentos às doenças tropicais, ainda desconhecidas, às quais o grupo recém-chegado à América Portuguesa não tinha resistência.
– Em 1° de abril de 1813, um novo decreto reorganiza o ensino médico e a Escola passa a denominar-se Academia Médico Cirúrgica do Rio de Janeiro. Em 1832, profunda reforma marca a fundação das Faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e da Bahia, e a do Rio de Janeiro passa a ministrar, além do curso médico, os cursos de Farmácia e de Obstetrícia – destaca Diana Maul, coordenadora da Comissão dos 200 anos da Faculdade de Medicina.
A primeira universidade, no entanto, só seria criada em 1920, quando a Universidade do Rio de Janeiro, uma justaposição das Faculdades de Medicina, Direito e Engenharia, foi fundada.
Comemorações
A Faculdade de Medicina está programando uma série de eventos para comemorar seus 200 anos de existência. As celebrações, no entanto, não serão restritas à esfera universitária: “a proposta é que as comemorações em homenagem à criação da FM não sejam apenas eventos internos nem exclusivos da Medicina e, sim, que sejam muito mais uma comemoração do significado dos 200 anos do ensino médico no país”, elucida Diana Maul.
Além dos eventos comemorativos internos, a UFRJ integra as celebrações mais gerais da vinda da Família Real ao Brasil. A primeira delas faz parte dos 200 anos da Escola Médica da Bahia que lançou em fevereiro, um selo dos correios em referência a data. Uma série de 15 selos alusivos à vinda da Família Real está circulando desde o dia 18 de fevereiro.
Outra atividade leva a UFRJ a participar do plantio da árvore de Hipócrates no Jardim Botânico, local que também comemora 200 anos. “Vários de nossos professores do século XIX eram pesquisadores do Jardim Botânico por isso a universidade tem uma ligação bastante grande com essa instituição”, justifica Diana. E continua dizendo que essa ligação também existe com o Museu Nacional pelo mesmo motivo. “Até hoje temos professores atuando no Museu que são da área da biologia, da antropologia”, enumera a coordenadora.
Confira a programação:
Fevereiro – Participação nas comemorações dos 200 anos do ensino médico da Bahia.
Março – O boletim Olhar Vital lança uma série semanal contando a história da medicina e sua programação (confira no site www.olharvital.ufrj.br).
Abril – Sessão Solene do Consuni para obliteração do selo comemorativo aos 200 anos da FM da UFRJ.
Maio – Exposição virtual da Faculdade de Medicina sobre as mulheres médicas: http://www.museuvirtual.medicina.ufrj.br/.
Junho – Simpósio da Sociedade de Medicina e Cirurgia (SMC) do Rio de Janeiro, promovido pela SMC e organizado em conjunto com a FM e a Casa de Oswaldo Cruz.
E o Congresso Regional da ABEM (Associação Brasileira de Ensino Médico) cujo tema central são os 200 anos de ensino médico e uma reflexão dos 30 anos da declaração de ALMA ATA (Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, patrocinada pela OMS em 1978, derivando-se daí a famosa Declaração de Alma Ata, guia fundamental para a política de saúde voltada para os cuidados básicos à saúde em todo o mundo): "Saúde para todos no ano 2000".
Ainda em junho a Faculdade de Medicina participa, com uma exposição presencial, das comemorações dos 190 anos do Museu Nacional quando será reinaugurada a reforma da fachada.
Para o segundo semestre está marcada a Sessão Solene da Academia Nacional de Medicina, com a participação da Universidade de Coimbra.
Em 5 de novembro, dia do aniversário, será lançada a medalha comemorativa, cunhada na Casa da Moeda e distribuída a várias autoridades acadêmicas.
O encerramento culmina no final do ano com um grande baile embalado ao som de uma orquestra sinfônica.