No Brasil, cerca de 40% da população apresenta obesidade ou excesso de peso. O problema, amplamente pesquisado e debatido pela comunidade científica, muitas vezes se transforma em um pesadelo para aqueles que já tentaram de quase tudo para combatê-lo, sem obter sucesso. Entretanto, a luta para diminuir o peso não se trata apenas de uma questão estética e pode acarretar sérias complicações em diversas áreas do organismo.
Pensando nisso, o grupo de pesquisadoras do Instituto de Nutrição Josué de Castro (INJC-UFRJ), coordenado pela professora Glorimar Rosa, preparou um estudo, apresentando inovadoras técnicas de orientação nutricional. Quem explica a pesquisa é Sofia Kimi Uehara, doutoranda do grupo. “Nosso grupo de pesquisa investiga e estuda indivíduos com síndrome metabólica (SM), uma doença caracterizada por um conjunto de fatores de risco cardiovascular, como, por exemplo, a hipertensão arterial, a dislipidemia, a intolerância à glicose e a resistência à insulina”, esclarece a pesquisadora.
Segundo Uehara, a relação entre síndrome metabólica e obesidade é muito íntima. “Essa síndrome ocorre principalmente em indivíduos com obesidade, em especial a visceral, aquela em que a gordura se acumula na região abdominal”, afirma. Estudos em diversas instituições consideram o aumento da obesidade um fator preocupante no controle da SM.
Com previsão de início para março, o estudo pretende investigar o efeito de determinados nutrientes na expressão de um gene relacionado à obesidade em mulheres com síndrome metabólica. Elas serão acompanhadas durante 90 dias. Período em que receberão tratamento nutricional, sendo avaliadas a cada 15 dias. Nessas consultas, serão feitas avaliações bioquímicas (dosagem de glicose, de triglicerídios, de HDL-colesterol, colesterol total e de insulina no sangue), genéticas (análise da expressão gênica), antropométricas (aferição do peso e da circunferência da cintura) e de composição corporal (aferição do percentual de gordura corporal).
Segundo a nutricionista, não há uma razão especial para o estudo ser restrito às mulheres. “Optamos em trabalhar com o sexo feminino devido às diferenças existentes na composição corporal entre os sexos, o que poderia influenciar os resultados”, justifica a pesquisadora.
Genética e nutrição
Para Sofia Uehara, o estudo apresenta características pioneiras, por utilizar novas áreas de conhecimento que poderão contribuir no tratamento nutricional de indivíduos, com síndrome metabólica. Uma delas é a chamada nutrigenômica. Como o nome sugere, trata-se de uma ciência que estuda a interação entre o gene e o nutriente. “A intenção é avaliar o efeito de determinados nutrientes na expressão de um gene relacionado à obesidade, o PPAR gama 2, que está associado com o acúmulo de gordura corporal”, conta a nutricionista.
Estudos apontam que certos nutrientes, em especial os lipídios, são capazes de modular a expressão daquele gene. “Ou seja, mesmo que uma pessoa tenha um gene relacionado à obesidade, pela alimentação poderemos controlar a sua expressão e minimizar, por exemplo, o seu efeito no ganho de peso corporal”, propõe Uehara.
Nanotecnologia
Para esse estudo, os nutrientes escolhidos foram óleo de peixe e o ácido linoléico conjugado, mais conhecido como CLA. É nesse ponto que a nanotecnologia passa a trabalhar em parceria com a nutrição. “Em vez de oferecermos nutrientes na forma de cápsulas gelatinosas, disponibilizaremos os nutrientes em microcápsulas”, explica a pesquisadora. “Vamos microencapsular esses ácidos graxos, ou seja, partículas desses nutrientes serão envolvidas por uma membrana especial e, como produto final, será obtido um pó”, completa Sofia Uehara.
Para ela, oferecer os nutrientes (óleo de peixe e CLA) na forma de pó tem várias vantagens sobre as cápsulas gelatinosas que contribuirão para a aceitação dos nutrientes pelas voluntárias. “Poderíamos oferecer esses nutrientes em cápsulas gelatinosas, como as encontradas em drogarias, mas sabemos que essas cápsulas causam certo desconforto, ao contrário das microcápsulas”, afirma Uehara. A proposta é misturar as microcápsulas ao alimento, o que seria impossível no caso das cápsulas gelatinosas. “A pessoa simplesmente mistura o pó ao alimento, o que não altera em nada o sabor dos alimentos”, esclarece a nutricionista.
Além do maior conforto para as voluntárias, a nanotecnologia possibilita também um maior aproveitamento do nutriente, protegendo o composto microencapsulado. “A membrana que envolve esses nutrientes vai protegê-los da presença da umidade, da luz e do oxigênio, que acabam diminuindo a estabilidade do ácido graxo”, elucida Sofia. “Dessa forma, garantimos que a quantidade de óleo de peixe ou ácido linoléico conjugado a ser oferecida às voluntárias será aproveitada pelo organismo, porque o nutriente vai chegar ao intestino íntegro”, afirma.
Tratamento personalizado
Como a dieta leva em consideração as características genéticas do paciente, o estudo propõe um tratamento feito sob medida para a pessoa em questão. “Com esses resultados, queremos propor um tratamento nutricional individualizado, pois vamos levar em consideração o perfil genético”, conta a pesquisadora. “Existem casos em que duas pessoas com as mesmas características (sexo, grau de obesidade, etc.) seguem a mesma dieta com mesmo valor energético total. Uma perde peso e a outra não. É possível que o fator genético esteja influenciando os resultados”, afirma Uehara.
— Sabendo o perfil genético desse indivíduo, poderemos controlar a quantidade e o tipo de lipídio que produz o efeito desejado. Já existem estudos que apontam indivíduos com um polimorfismo no gene PPAR gama 2, ou seja, uma alteração genética, com tendência a perder mais peso se consumirem dietas ricas em ácidos graxos poliinsaturados —, informa a doutoranda, confiante no sucesso da pesquisa. Segundo ela, no futuro, quando for possível traçar o perfil genético da população, haverá possibilidades de desenvolver um tratamento nutricional personalizado.
Para os casos mais graves, como obesidade mórbida, Sofia Uehara vê uma possibilidade no sentido de prevenção. “Se identificarmos uma pessoa, por exemplo, que tem uma alteração genética que possa favorecer o ganho de peso corporal, poderemos prevenir esse ganho, modificando os lipídios da dieta”, prevê a pesquisadora.
Segundo a nutricionista, o trabalho se destaca entre outras pesquisas sobre o tema. “É um estudo relacionado com a nutrição que levará em consideração o perfil genético do indivíduo”, ressalta. “Esperamos que, realmente, nossos resultados possam ser utilizados no futuro para a elaboração de planos alimentares personalizados, para que o indivíduo possa perder peso e até mesmo evitar o chamado efeito sanfona”, esclarece.
Como participar
O estudo encontra-se em fase de recrutamento de voluntárias. A pesquisa precisa de mulheres adultas (entre 30 e 45 anos), que estejam acima do peso, com pressão alta ou controlada por remédio. Além disso, para participar deve-se ter açúcar e gordura altos no sangue e não estar na menopausa. As voluntárias também não podem ser fumantes, nem diabéticas. Serão excluídas as mulheres que consomem bebida alcoólica com freqüência e que fazem uso de remédios para baixar gordura e açúcar no sangue ou que estão passando por alguma dieta ou utilizando medicamento para perder peso. As mulheres que completarem o estudo receberão todos os seus resultados.
Para se inscrever, é preciso entrar em contato com a nutricionista Sofia Uehara, pelo telefone 9177-8591. O contato pode ser feito também com as nutricionistas Grazielle Huguenin ou Silvânia Vasconcelos pelos telefones 8745-2534 ou 8610-1469, respectivamente. A voluntária pode ainda telefonar para 2562-6601, deixando nome e telefone para contato.