O Grupo de Estudos do Setor Elétrico (GESEl) do Instituto de Economia (IE) da UFRJ realizou hoje, 17 de janeiro, o Seminário Perspectivas 2008 Com o objetivo de analisar as projeções para a economia brasileira e prever possíveis reflexos positivos e negativos sobre a relação oferta-demanda de energia elétrica">O Grupo de Estudos do Setor Elétrico (GESEl) do Instituto de Economia (IE) da UFRJ realizou hoje, 17 de janeiro, o Seminário Perspectivas 2008 Com o objetivo de analisar as projeções para a economia brasileira e prever possíveis reflexos positivos e negativos sobre a relação oferta-demanda de energia elétrica">
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Seminário discute as possibilidades de Apagão elétrico

O Grupo de Estudos do Setor Elétrico (GESEl) do Instituto de Economia (IE) da UFRJ realizou hoje, 17 de janeiro, o Seminário Perspectivas 2008 Com o objetivo de analisar as projeções para a economia brasileira e prever possíveis reflexos positivos e negativos sobre a relação oferta-demanda de energia elétrica

O Grupo de Estudos do Setor Elétrico (GESEl) do Instituto de Economia (IE) da UFRJ realizou hoje, 17 de janeiro, o Seminário Perspectivas 2008 Com o objetivo de analisar as projeções para a economia brasileira e prever possíveis reflexos positivos e negativos sobre a relação oferta-demanda de energia elétrica.

Os especialistas selecionados para abordagem do tema foram Francisco Eduardo Pires, professor do Grupo de Conjuntura Econômica do IE-UFRJ; Amílcar Guerreiro, diretor de Estudos Econômicos e Energéticos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE); e Nivalde de Castro, coordenador do GESEl-UFRJ.

A expansão é veloz e contínua
Francisco Eduardo Pires focou sua apresentação nos principais resultados da economia brasileira em 2007 e formulou alguns parâmetros para os cenários macroeconômicos de 2008. Segundo o professor, o ano de 2007 foi relevante na medida que o Brasil pareceu ter tomado consciência de seu potencial contra a semi-estagnação. Para Francisco Eduardo, os índices econômicos em 2007 ultrapassaram as expectativas em favorabilidade. Em relação ao crescimento industrial, em que se previa 4%, atingiu-se 6,2%. Já o crescimento no número de empregos de 3%, deveu-se à formalização, o que pressupõe maior arrecadação fiscal.

Para o Produto Interno Bruto (PIB), esperou-se 3,5% de crescimento, porém chegou a 5,4%. Eduardo Pires garantiu que a alta do PIB foi a mais longa (17 trimestres) desde 1991. Nos últimos cinco trimestres o PIB cresceu em uma velocidade de 6% ao ano. Mesmo assim o investimento público se mantém à frente deste (quase 50%) em termos de crescimento, o que contribui para uma menor pressão inflacionária futuramente.

Todavia, o especialista lembrou que o período de crescimento não foi uniforme: “Houve uma ‘arrancada’ no final de 2003 e agora ocorreu outra no fim de 2006, devido à mudança no padrão de crescimento”, observou. De acordo com o professor, o diferencial em 2003 foi o maior número de exportações chegando a 15%, já no início de 2007 foi o maior consumo das famílias em geral e os crescimentos dos investimentos em 12%. Contudo, Pires ressaltou que o novo padrão adotado é benéfico a curto prazo: “Se os investimentos atingirem 21%, certamente prejudicará o crescimento a longo prazo”, declarou.

O recente círculo virtuoso de crescimento, no qual o Brasil está inserido, segundo Francisco Pires, deve-se a três fatores: ao aumento da arrecadação, que permite minorar a carga tributária e aumentar o investimento público; à formalização dos empregos, que viabiliza a expansão do crédito; e ao crescimento do investimento. O palestrante destacou que a evolução anunciada continua no início de 2008, a despeito da ameaça de recessão nos Estados Unidos (EUA): “Estamos em um processo de expansão cíclica e ganhando velocidade”, afirmou Pires.

Riscos à favorabilidade
De acordo com Francisco Eduardo, um dos possíveis fatores que podem comprometer o crescimento contínuo da economia brasileira é a consolidação da recessão norte-americana, que atingiria o Brasil apenas se a China se prejudicasse seriamente, já que atualmente a economia mundial é sustentada pelos países emergentes. Prova disso, segundo o professor, é o movimento de decuppling (descolamento) da economia internacional em relação a dos EUA: “O Brasil está redirecionando sua economia. Hoje as exportações brasileiras para os EUA são de apenas 16%”, lembrou Pires.

Outra ameaça é a alta da inflação doméstica, que pode estimular o aumento de juros pelo Banco Central causando oscilação de preços principalmente no setor de alimentos e bebidas, que em novembro de 2007 chegou a 9%. Porém, o palestrante observou que o aumento repentino da inflação é um problema mundial, portanto está além do poder brasileiro.

Os impactos com o fim da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) também podem causar algum transtorno econômico. No entanto, segundo Francisco Eduardo, a medida imediata de aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e o corte no orçamento da União impediu um descontrole fiscal mais grave.

Para Eduardo Pires, também pode haver complicações com uma possível retração do ritmo de crédito, porém ele aposta que o crédito continuará crescendo, principalmente o habitacional, devido ao ciclo de construção civil: “Mesmo com o aumento de créditos a inadimplência está caindo, reflexo do aumento de renda e de prestações de prazos mais longos”, esclareceu o especialista.

O ideal, de acordo com Francisco Eduardo Pires, é que os níveis de investimento continuem superiores ao crescimento do PIB, para que a capacidade produtiva se estabeleça, e que a restrição externa esteja bem controlada pelo governo, do contrário a inflação pode complicar a situação superavitária do Brasil.

2007 foi um ano promissor
Amílcar Guerreiro analisou a evolução da demanda de energia elétrica durante 2007 e apresentou possíveis projeções de comportamento para 2008. Para o diretor, nunca houve no Brasil um período tão favorável às relações de troca.

Segundo o especialista, o crescimento na demanda de energia em 2007 foi bem diferente do ano anterior. O consumo de energia final do país atingiu 16%. Da oferta total de energia elétrica 72% é gerada por hidrelétricas. O consumo industrial é o maior com 46%, porém o que mais cresce é o comercial, que em 2007 alcançou 15, 6%, devido à informatização, à maior movimentação em aeroportos, ao aumento da ocupação em hotéis e ao crescimento da atividade de turismo. A região Sudeste consome 55% da oferta total de energia.

O grande destaque, de acordo com Guerreiro, foi o aumento do consumo de 3,52% no início de 2007 para 5,4%. Importante destacar que o crescimento da energia se deu de forma homogênea pelo Brasil, porém São Paulo consumiu mais do que toda a Região Sudeste. O consumo residencial cresceu 6% em relação às outras categorias (industrial e comercial). Para o palestrante, isso prova que o aumento no consumo de bens eletrônicos aliou-se ao crescimento energético. Guerreiro afirmou que essa recuperação está aparentemente livre de surpresas: “Segundo o gráfico, o crescimento é sustentável por que não é vertiginoso”, esclareceu.

A indústria não alcançou a totalidade de crescimento, segundo o especialista, no entanto permanece com 5,5% devido ao investimento industrial na utilização a capacidade de auto-produção. O diretor lembrou que as previsões contavam com a queda do câmbio, queda do Saldo Comercial e aumento dos juros e da inflação, mesmo assim a taxa de crescimento do PIB praticamente não se alterou.

A demanda no futuro
De acordo com Amílcar Guerreiro, a tendência é que o consumo comercial prevaleça, e o industrial cresça ainda menos do que o residencial. O especialista afirmou que a auto-produção hoje é de 37 Twh (terawatts/hora) e que em 2011 seja de 55Twh.

Um dos fatores de destaque é a construção de uma grande rede de interligações dos sistemas de energia no país. Em 2015 o Brasil chegará perto do que o Chile é hoje em termos de consumo e renda.

Possibilidade de Apagão
Nivalde de Castro baseou-se nas condições de oferta para 2008 e as chances de um possível Apagão elétrico ocorrer em breve. Segundo o coordenador, o equilíbrio oferta-demanda energética no período entre 2008 e 2009 depende dos índices pluviométricos, da quantidade de gás natural para Usinas Termelétricas (UTe) e ampliação da capacidade geradora para 2009.

De acordo com o palestrante, o Brasil tem capacidade de geração de 10Gw (gigawatts) com Gás Natural, porém 90% da energia provem das hidrelétricas. O especialista declarou que o Sistema Elétrico Brasileiro tem como características principais a energia de baixo custo, menor índice de poluentes, atendimento em espaço continental, interligação de bacias e diferentes regimes pluviométricos.

Os níveis de reserva, segundo Castro, variam entre os períodos chuvoso e úmido, sendo as probabilidades de racionamento são calculadas principalmente entre os meses de dezembro e fevereiro. As regiões Sudeste e Centro-Oeste são contribuem com 70% dos reservatórios. Nivalde de Castro afirmou que a data limite para a análise de meta é 15 de fevereiro, quando se verifica se o nível dos reservatórios está favorável. Segundo o coordenador, no dia 15 de fevereiro de 2008 os níveis chegavam a 44% da capacidade, o que é relativamente preocupante.

2001 e 2008 quais as semelhanças e divergências?
Em 2001, na época do Apagão, o planejamento estava desarticulado. O especialista contou que não havia UTe, faltava integração física, a prioridade era a privatização e faltava investimento em capacidade instalada. Em 2008 houve retorno do planejamento via EPE; construí-se UTes, porém faltava Gás Natural; havia maior integração física; criou-se o Operador Naciuonal do Sistema Elétrico (ONS); a prioridade era expansão com modicidade tarifária e havia amplo incentivo ao investimento em novas Hidrelétricas e UTe.

Nivalde de Castro garantiu que não é para o povo brasileiro se preocupar: “Não haverá Apagão em abril de 2008”, declarou, baseado nas projeções que calculou em relação aos gráficos de 2001.

 Para o coordenador, o risco fundamental se restringe à escassez de Gás Natural. Segundo ele, o Termo de Compromisso ANEEL-Petrobrás assinado em 4 de maio de 2007 previa que as UTes deveriam produzir 4Gw em janeiro de 2008, porém alcançaram apenas 25% disso. Esse déficit é atribuído ao Apagão de 2001, quando a Petrobrás foi obrigada a construís UTes em caráter emergencial para atender à demanda prejudicada. Com a recuperação dos reservatórios, o Gás Natural acumulou-se na distribuidora, o que estimulou a Petrobrás a investir em campanhas para a utilização do produto em veículos, residências e nas indústrias. Atualmente, segundo o palestrante, o Gás Natural está escasso devido à falta de planejamento de reserva da Petrobrás.

A previsão para o final de 2008, de acordo com Castro, é que o Brasil atinja 96 milhões m³/dia de produção de Gás Natural. Para tal fim, as indústrias devem começar a substituir o Gás Natural utilizado por óleo combustível. Portanto o risco de Apagão por parte das Hidrelétricas é pífio: “O certo é que acendamos velas para São Pedro, porque precisamos de chuva, e para Nossa Senhora das Graças para que nos conceda Gás Natural”, brincou Nivalde de Castro.