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Memória

Pensando a África

Martinho da Vila e Luandino Vieira participaram da abertura do III Encontro de Professores de Literaturas Africanas, realizado na Biblioteca Nacional.

Fotos:Marco Fernandes 

Luandino: "O continente é produtor
de uma profunda espiritualidade

“O Brasil não conhece a África”. O Verso do compositor Gonzaguinha aos poucos vai soando como uma crítica de outrora, quando então os brasileiros preferiam virar as costas ao continente. A realização do III Encontro de Professores de Literaturas Africanas é prova de que o país caminha, não só para vislumbrar parte de suas raízes, como para conhecê-las. O evento começou nesta quarta (21/11), no auditório da Fundação da Biblioteca Nacional, e vai até sábado com inúmeras atividades pela Faculdade de Letras, na Ilha do Fundão. Entre as metas do encontro: a fundação de uma associação de estudos interdisciplinares (História, Geografia, Artes Plásticas, Música, Cinema, Sociologia e Antropologia) sobre a África. Este objetivo torna-se imprescindível para colocar em prática a Lei 10.639, sancionada pelo presidente Lula em 2003, que torna obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira em escolas do ensino fundamental e médio.“Em grande parte do território nacional, a lei ainda se encontra só no

  

 "Esse evento é uma ponte para
aproximar povos", disse Martinho

papel. Mas a legislação foi um passo válido que proporcionou visibilidade a questão e o interesse de muitas editoras. O importante é que se abra uma grade específica para o tema nas escolas. A África precisa ser estudada com seriedade e se distanciar das imagens folclorizadas, resumidas nos três Ts: tarzan, tambor e tribo. É contra isso que lutamos”;  frisou a professora da FL/UFRJ, Carmen Tindó, presidente da comissão organizadora do evento.

A abertura do evento contou com grandes nomes da literatura. Entre eles, o escritor Luandino Vieira que recusou os 100 mil euros do Prêmio Camões 2006, oferecido pelo Ministério da Cultura de Portugal. Na ocasião, o autor angolano alegou motivos “íntimos’ para fundamentar sua decisão. Mas uma rápida olhada em sua biografia, explica o porquê da negativa. Natural da portuguesa Vila Nova de Ourém (1935), Luandino emigrou para Angola quando era um menino e participou do movimento de libertação nacional da antiga colônia de Portugal. Por sua militância pró-independência de Angola foi preso em 1959 pela ditadura de Antônio de Oliveira Salazar e condenado a 14 anos de prisão. Vieira só foi libertado em 1972, quando deu início a sua vasta obra: "Luanda" (1963), "A vida verdadeira de Domingos Xavier" (1974), "Velhas estórias" (1974), "Vidas novas" (1975), etc.

“Tive a felicidade de participar do primeiro encontro (1991), quando vim ao Brasil pela última vez e é emocionante estar aqui novamente e ver que a idéia vingou e que há cada vez mais interessados em saber que o continente não é apenas miséria, desgraça e guerra, mas produtor de uma profunda espiritualidade”, comentou Luandino, entre um autógrafo e outro aos fãs com quem posou para inúmeras fotos.

O encerramento terminou em clima de música com a presença de Martinho da Vila. Ele se apresentou com Os meninos à volta da fogueira, composição conjunta com o escritor angolano Manuel Rui, também presente ao evento. “A poesia e a música andam de braços dados e um evento como esse é uma verdadeira ponte para aproximar os povos”, explicou Martinho que cantarolou “ os meninos à volta da fogueira/Vão aprender coisas de sonho e de verdade/Vão perceber como se ganha uma bandeira/ E vão saber o que custou a liberdade (…) Mas os meninos deste continente novo/ Hão de saber fazer história e ensinar”.

Confira a íntegra da Matéria na edição 31 do Jornal da UFRJ