Categorias
Memória

I Semana Nacional de Comunicação Ambiental

 Começou nesta terça-feira, dia 6 de novembro, a I Semana Nacional de Comunicação Ambiental, realizada pelos alunos integrantes do Programa de Ensino Tutorial da Escola de Comunicação da UFRJ (PET-ECO), sob a coordenação de Mohammed ElHaiji, professor da ECO e orientador do PET. O evento tem por objetivo tornar acessível à sociedade discussões acerca dos problemas ambientais, utilizando-se da comunicação como “instrumento auxiliar ao desenvolvimento sustentável”, conforme afirmam os organizadores.

De acordo com esta finalidade, a primeira mesa de debates da Semana discute as “Perspectivas da Comunicação Ambiental”, contando com Ricardo Braun, coordenador do Plano Diretor de Manejo do Parque Estadual da Ilha Grande e autor do livro “Novos paradigmas ambientais – desenvolvimento ao ponto sustentável”, da editora Vozes; Carlos Minc, secretário do meio-ambiente do Estado do Rio de Janeiro e professor da UFRJ; José Carlos Marques, coordenador do Núcleo de Comunicação Científica da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) e professor de jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, e Leonel Aguiar, jornalista e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC Rio), sob a mediação de Cristina Rego Monteiro, professora da ECO.

Práticas que dão certo
Ricardo Braun abre a mesa de debates contando sobre seu livro, que trata sobre o trabalho desenvolvido no Plano de Manejo do Parque Estadual da Ilha Grande, no Rio de Janeiro: “A Ilha Grande é um paraíso, mas cercado de conflitos”, caracteriza o ambientalista. Ele conta que foram realizadas entrevistas em quase todas as comunidades da região, constatando quase sempre a insatisfação com as políticas estaduais e com o status quo da população. “A partir dessas reclamações tentamos assumir uma perspectiva positiva: ‘o que podemos fazer para solucionar essa questão? ’. Do mesmo modo, a mídia precisa aprender a relatar soluções e não apenas os problemas”, aponta o palestrante.

Braun utiliza-se ainda da aplicação de princípios ZEN para exemplificar o desenvolvimento sustentável: “Existe uma rede de comunidades alternativas, denominadas Ecovillas, que propõe o engajamento em atividades e meios de sustentabilidade ecológica e econômica, a partir de mecanismos de troca, ou dinheiro alternativo, procedimentos oriundos de uma gestão participativa e de mecanismos limpos de utilização do meio ambiente, como energia solar passiva, sanitário compostável, obtenção de energia pela utilização do vácuo (a partir de um gerador eletromagnético imóvel de 2,5 kW), entre outros. Essas redes partem dos princípios Zen – Dana (doação), Aigo (palavras amáveis), Doji (identificação) Rigyo (benevolência) – que simbolizam respectivamente o engajamento pela sustentabilidade, a busca de soluções para os problemas ambientais, a gestão participativa e as ações pela preservação”, explica Ricardo Braun.

Carlos Minc, por sua vez, crê que muitas vezes o ambientalista fica preso a um linguajar e a conceitos de difícil acesso à população em geral. “Existem diferentes conceitos de preservação ambiental, que variam de acordo com as relações estabelecidas entre o indivíduo e o meio. Por exemplo, explicar a um seringueiro, no interior da Amazônia o que vem a ser um buraco na camada de Ozônio não irá sensibilizá-lo. Mas ao contar a ele que a derrubada de árvores e queimadas na Floresta pode acabar com os seringais e com o trabalho do qual ele vive, com certeza causará maior comoção”, explica o professor, que também relaciona a postura de diversas empresas no contexto ambiental: “Várias atitudes de degradação ambiental que presenciamos estão relacionadas à questão da cultura. As demandas ambientais eram muito desordenadas no início, tanto que as indústrias usavam tecnologia suja, poluente e nem se importavam. Num segundo momento, entretanto, elas começam a aparentar uma maquiagem ecológica. Hoje, já começam a trabalhar com o cuidado ambiental”, acredita Minc.

O Secretário defende a necessidade de cursos como comunicação, economia, administração, direito, entre outros, se voltarem para a área ambiental não apenas como uma técnica, mas como algo que está “relacionado à vida da população, ao seu dia-a-dia”. Para ele, “é preciso maior amadurecimento das mídias, ambientalistas e governo”. Entre as formas de conscientização da população que estão sendo feitas, estão uma série de campanhas veiculadas pela Secretaria do Meio Ambiente, da qual o palestrante está à frente. Entre elas estão “recicle o óleo de cozinha: A poluição vira energia”; “Como diria o Filósofo, Descarte o descartável: use copo de vidro”; “Crime ambiental: combate com inteligência”, entre outras.

Reflexão: o papel da mídia nas questões ambientais
José Carlos Marques acredita que o discurso ambiental encontra certo bloqueio em nosso país devido ao discurso histórico de natureza abundante, eterna, inesgotável. “Podemos perceber essa questão no primeiro registro feito sobre o Brasil: a carta de Pero Vaz de Caminha – sobre a terra em que se plantando tudo dá”, parafraseia o professor.

Marques também faz uma análise das matérias, desde as publicações na década de 90, de uma das revistas generalistas de maior vendagem no país, que aludem ao meio ambiente. “Inicialmente, percebemos uma crítica explícita diante do alarmismo científico e uma demora da agenda ambiental entrar na pauta da revista. Após esta fase, percebemos um grande sensacionalismo diante das tragédias pré-anunciadas, estipulando prazos de vida para o planeta e o uso de imagens impactantes. Recentemente, entretanto é perceptível que a consciência social começa a pautar o veículo”, avalia José Carlos, que confere a adoção de cada um desses discursos aos interesses das classes A e B – a quem a revista é dirigida.

Leonel Aguiar também analisa as matérias publicadas desde 1992 em dois jornais de grande circulação no país, e chega à mesma constatação: há o predomínio do sensacionalismo em questões ambientais. A essa característica, entretanto, o professor atribui outra causa – o medo. “Esse sensacionalismo expressa o medo coletivo que esses meios expressam. A mídia constrói essa mensagem através da veiculação apenas de catástrofes mundiais, tornando o princípio da responsabilidade social um dever ao invés de uma opção relacionada a princípios éticos”, declara o professor, defendendo a adoção de um “corpo verde” pela sociedade para que haja um verdadeiro desenvolvimento sustentável.

A I Semana Nacional de Comunicação Ambiental segue com sua programação até quinta-feira, a partir das 9h, discutindo sobre Comunicação ambiental e Sociedade Civil, no dia 7 de novembro, e Comunicação e Gestão Ambiental, no dia 8 de novembro. Além dos debates, acontecem três oficinas de comunicação ambiental e uma mostra audiovisual no período da tarde.

O evento acontece no Salão Muniz de Aragão, do Fórum de Ciência e Cultura, que fica à Avenida Pasteur, nº250, campus UFRJ da Praia Vermelha. Para mais informações, acesse http://www.eco.ufrj.br/semanaambiental