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Ecos da Revolução Russa

 O Laboratório de Estudos Marxistas (LEMA) e a Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ESS/UFRJ) organizaram para os dias 12 e 13 de novembro o evento “A atualidade do Socialismo e as lições da História”. A programação na segunda-feira foi finalizada com a abertura da exposição “Revolução aos 90: o extraordinário e o cotidiano nas trilhas da Rússia”. Os pôsteres retratam o percurso histórico da Revolução Russa, desde seus precedentes até um contexto mais atual, pós-fim da União Soviética (URSS).

Começando pelo regime czarista, a exposição ilustra a Rússia transitando de sua atividade essencialmente agrícola para uma estrutura industrial. Neste processo, deu-se a formação de uma massa operária, causada pela intensificação do êxodo rural. Outra conseqüência foi, em 1904, a eclosão de uma guerra socialista contra o Japão nos territórios da China e da Coréia. A Rússia sai do conflito destruída economicamente, em uma crise que trouxe como efeito ondas grevistas lideradas pelo proletariado — cujo marco ocorreu no Domingo Sangrento, em outubro de 1905, quando mais de 400 mil trabalhadores iniciaram uma paralisação, ganhando cada vez mais adeptos, até a repressão. Neste mesmo ano, são firmados os grupos Bolchevique e Menchevique, além de ser lançado o livro “Que Fazer”, no qual Lênin exalta a necessidade de uma teoria revolucionária.

Em fevereiro de 1917, outra revolução é organizada, exigindo a saída da Rússia da Primeira Guerra Mundial e a tirada do czar do poder. Esta foi uma reação à situação de extremo empobrecimento da população e caos econômico vivida no país devido ao esforço de guerra. Com apoio intelectual e combativo de Lênin, Trotsky, Stalin e Nikolai Burkharin, em outubro do mesmo ano, é instaurado o socialismo. No contexto para superar a crise econômico-social, os pôsteres revelam as tendências artísticas na época. O Construtivismo, com suas formas semi-abstratas, surge da união entre as vanguardas política e artística. No cinema, Sergei Eisenstein e Arten Pudovskin lançam, respectivamente, filmes como “Encouraçado Potenkim” e “Fim de São Petersburgo”, considerados ainda hoje como grandes clássicos da cinematografia.

Em 1925, Lênin idealiza o Novo Plano Econômico (NEP) a fim de reerguer a economia e a qualidade de vida na Rússia. O sucesso do projeto, porém, decai com a morte do grande líder e a conseqüente disputa pelo poder entre Stalin e Trostsky, da qual o primeiro sai vitorioso. Na arte, a expressão muda do Construtivismo para o Realismo Socialista, empenhado na exaltação do regime. A partir daí, cresce a prática de culto à personalidade de Stalin.

Os pôsteres, em seguida, percorrem a Segunda Guerra Mundial e a instalação da Guerra Fria, época na qual a URSS se consolida como grande potência mundial, no comando dos países socialistas. Do outro lado, os Estados Unidos lideram o capitalismo global. A situação muda um pouco quando morre, em 1953, o ditador russo. Nikita Kruschev assume a liderança, em discurso denunciando os crimes de repressão violenta cometidos ao longo do regime stalinista e anuncia a necessidade de “mais manteiga e menos canhões” na regência da URSS. A sucessão fica a encargo de Leonid Brejnev, cujo mandato marcou uma era de estagnação.

Nos últimos pôsteres, fica registrado o governo de Mikhail Gorbachov, com a gradativa abertura do regime, e a crise que repercutiu no fim da URSS. A partir daí, começam ondas de conflitos separatistas de territórios que compunham o grande império socialista. No retrato dos anos 90, ênfase no empobrecimento da população e a drástica diminuição na expectativa de vida no país no qual nasceu aquela que ficou definida pelo historiador Eric Hobsbawn como “o mais formidável movimento revolucionário da história moderna”.