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Convergência digital: progresso ou dilema?

Convergência digital: progresso ou dilema?

A convergência digital e os novos desafios na radiodifusão foram debatidos na última quarta-feira, dia 21 de novembro, na Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ. O palestrante foi Marcelo Kischinhevsky, doutor em Comunicação e Cultura e autor do livro “O rádio sem onda”.  

Os sistemas futuros, já presentes

Marcelo Kischinhevsky explicou como se dá a disposição atual de equipamentos para rádio digital no mundo. O In Band on Channel – IBOC ou High Definition Radio – HD Radio, modelo norte-americano, foi criado com a intenção de levar ao ouvinte um som de melhor qualidade, comparável à do CD, além de possibilitar a inclusão de outras informações por meio de um fluxo de dados ou mesmo um segundo canal de áudio independente. Com isso, a vantagem do novo sistema seria a possibilidade de multiprogramação utilizando somente um canal. Porém, no caso de transmissões ao vivo, por exemplo, existe uma defasagem de quatro segundos na emissão e recepção de sinal no IBOC, o que impossibilita tal recurso em rádios jornalísticas ou esportivas, segundo Kischinhevsky. O especialista também ressalta que o sistema americano é muito sensível à mudanças climáticas, logo a interferência é um problema constante.

No âmbito europeu, o doutor destacou o Digital Audio Broadcasting – DAB que funciona utilizando duas tecnologias: Moving Picture Experts Group – MPEG e Coded Orthogonal Frequency Division Multiplex – COFDM; que convertem a música ou o discurso de um sinal analógico para um sinal digital. Isso reduz consideravelmente a possibilidade da emissão ser afetada durante o processo de transmissão por fenômenos atmosféricos, o que o diferencia positivamente do modelo IBOC. De acordo com Marcelo Kischinhevsky, a transmissão em DAB, permite o envio de dados, além de música ou voz: “Os receptores de rádio DAB vêm equipados com um pequeno visor, onde pode aparecer as mais diversas informações”, declarou o palestrante. No entanto, o DAB também tem um lado duvidoso quando à sua implantação. A alta qualidade de som sem interferências e rádios com maior leque de estações e serviços custam caro. Somente na Europa, os preços variam entre 500 e 1.500 euros, o que torna difícil a convergência digital para a população brasileira.

O Digital Radio Mondiale – DRM, também europeu, é uma opção um pouco mais popular. Segundo Kischinhevsky, esse sitema alia a qualidade de áudio da Frequência Modulada (FM) à facilidade de propagação das emissões em Amplitude Modulada (AM), já que opera em freqüências abaixo dos 30 Mhz como esta última e tem qualidade de FM. Também sai mais barato para os operadores de radiodifusão que já trabalham em AM, visto que não necessitam adquirir, obrigatoriamente, novos emissores para emitir em DRM, podendo simplesmente adaptar seus antigos transmissores. O DRM também utiliza a tecnologia COFDM, que permite a existência de dados e áudio em mais que um idioma e em canais próprios. Entretanto, quanto mais informação tiver a transmissão, menos qualidade sonora terá e, para o especialista, a proposta do som com qualidade de CD se perde com a possibilidade de implantação do DRM.

Outro sistema comentado por Marcelo Kischinhevsky, porém ainda pouco estudado foi o Integrated Services Digital Broadcasting – ISDB, de origem japonesa, que no momento, de acordo com o doutor, é o mais cotado para adoção no Brasil da convergência do rádio e televisão analógicos. Um ponto importante já constatado é que o ISDB também está no foco das grandes empresas de telecomunicações, visto que é uma tecnologia facilmente acessível para celulares e que pode acelerar a questão da convergência de mídias.

A convergência brasileira

Segundo o palestrante, a questão da implantação da rádio digital no Brasil caminha a passos largos e lentos, simultaneamente. A convergência é unânime, ela acontecerá inevitavelmente, porém a complicação está em decidir qual sistema utilizar. No campo político, há uma disputa entre o Ministério das Comunicações, que está a beira de bater o martelo aprovando o IBOC, e a Agência Nacional de Telecomunicações – ANATEL, que ainda está realizando testes com todos os sistemas desenvolvidos e não quer se precipitar.

De acordo com a ANATEL, comprovou-se que o modelo americano não correspondeu às expectativas em testes preliminares e atingiu até oito segundos de defasagem entre recepção e emissão, e não quatro como a empresa responsável prometia. Já a implantação de uma tecnologia como o DAB, tornaria o rádio impopular de um momento para outro, segundo a agência.

Contudo, Kischinhevsky ressaltou que independentemente do modelo adotado a convergência continua sendo regulatória: “Estrangeiros já não podem controlar canais de radiodifusão, e isso se manterá”, observou. Devido a essa lei, grandes grupos internacionais estão se afiliando à empresas brasileiras.

O doutor também destacou que, no caso de haver multiprogramação, a exigência de maior conteúdo para a manutenção dos canais tende a gerar um imenso mercado na área de Comunicação, principalmente, além da ampliação de empregos âmbito técnico.

Porém, Marcelo Kischinhevsky está certo de que as rádios comunitária desaparecerão, junto com as rádios livres e piratas, visto que todas as radiodifusoras terão o prazo de dez anos para se adaptarem, a partir da implantação do sistema, e considerando que a convergência não sairá por menos de 100 mil reais. Segundo o especialista, a tendência é que essas rádios migrem para o sistema de rádios on-line: “Pela primeira vez haverá uma grande concentração do mercado de rádio no Brasil”, lamentou Marcelo Kischinhevsky.