A 2ª Semana de Diversidade Sexual da Escola de Comunicação da UFRJ (ECO) começou, na última terça-feira (23), com o tema sexualidade e seus direitos. Mediada pelo professor da escola, Joaquim Welley, a mesa de debates teve a participação de Luiz Mott, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA); Marjorie Marchi, presidente da Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros (Astra); e Ângelo Pereira, pioneiro em processo de adoção por pais homossexuais.
Ivana Bentes, diretora da ECO, abriu o evento, parabenizando o trabalho dos integrantes Programa de Apoio Tutorial da ECO (PET/ECO), realizador do evento. “É com muita felicidade que assisto a luta da diversidade chegar à universidade”, disse Ivana em seu discurso. Joaquim Welley, ao comentar sobre o tema do primeiro dia da Semana, ressaltou que o direito é muito mais que a legislação, é a preservação da dignidade humana.
Luiz Mott fez uma crítica ao nome do evento. Para ele, apesar de a palavra diversidade ir de encontro à pregação de algumas religiões e respeitar a pluralidade individual de gostos, diversidade é um termo questionável. Primeiro porque, dentro da diversidade sexual, há grupos considerados anti-sociais e criminosos, como pedófilos, necrófilos, incestuosos. “Portanto, se a Semana da ECO pretende discutir a diversidade sexual, esses grupos deveriam ter seu espaço”, comentou o professor da UFBA, que é homossexual. O segundo problema é a despolitização que a palavra diversidade gera. “Quando os homossexuais começaram a se afirmar, nos anos 90, a AIDS veio, não só assolar vidas, como a luta por direitos iguais. Ainda não tivemos tempo suficiente para ter uma afirmação como gays e lésbicas”, disse Mott, criticando a postura de muitos homossexuais que não se afirmam como gays ao falarem em diversidade.
Quantos aos direitos dos homossexuais, Mott lembrou que a Constituição da República proíbe qualquer forma de discriminação à homossexuais. “Entretanto, são 37 os direitos negados a nós”, ironizou ele. “Não podemos casar; não podemos adotar o sobrenome de nossos parceiros; não podemos adotar o filho do parceiro, etc”, enumerou. Segundo, Mott a mídia tem papel importante na luta contra o preconceito. Não usar termos pejorativos referentes a homossexuais, como bicha, e erradicar caricaturas, sempre presentes em programas humorísticos, seriam algumas das ações que os meios de comunicação poderiam fazer para combater a discriminação.
Para Marjorie Marchi, presidente da organização não-governamental ASTRA, discutir a diversidade sexual caiu no modismo, ficou moderno e aceitável, mas só com relação a gays e lésbicas e, mesmo assim, os universitários (mais aceitos na sociedade por pertencerem às classes sociais e intelectuais mais elevadas). “Quando falamos em travestis, a discussão é muito mais complicada. Nós travestis somos taxados como gays que assumiram postura feminina para exercerem a prostituição”, opinou Marjorie. Há uma diferença entre travestis estabelecida pelo artigo definido. A travesti é o homem que se travestiu de mulher, enquanto que o travesti é a mulher que se travestiu de homem. Segundo Marjorie, entre a diversidade sexual, as travestis são as que mais sofrem preconceito por ainda carregarem o ranso da discriminação de gênero que as mulheres sofrem.
Marjorie Marchi contou que o Movimento Trans, assim como todos os movimentos presente na diversidade sexual, ainda está aprendendo. “O Movimento Trans, que agrega travestis, transexuais e transgêneros, vem driblando toda exclusão familiar, social e cultural. Para nós trans, é muito difícil ser aceito no mercado de trabalho, mas ONGs, como a ASTRA, lutam por empregos para os trans”, contou Marjorie.
Ângelo Pereira foi o pioneiro na adoção por pais homossexuais e já contou sua experiência em um livro, chamado Retrato em Branco e Preto. Ele não se intitula como militante gay, por achar que há gays bons e gays maus, assim como acontece em toda a sociedade. Apesar disso, defende a possibilidade de homossexuais adotarem crianças. “A opção sexual não deve ser levada como fator determinante no processo de adoção, quando adotei o Pedro Paulo, há 10 anos, minha vida foi investigada, mas minha homossexualidade foi encarada como um detalhe”, contou Ângelo, cujo processo de adoção foi rápido, durando dois meses e meio. O fato de Pedro Paulo já ter um ano e meio ajudou a acelerar, já que essa idade é considerada avançada para adoção.
Segundo o escritor, o preconceito que ele e seu filho mais sofrem não é pelo de ele ser homossexual. “Sofremos mais porque eu sou branco e o Pedro Paulo é negro”, disse, contando que seu filho está com 12 anos, é heterossexual e aceita o parceiro do pai. Ângelo sonha com o dia em que não haverá mais semanas de diversidade sexual, porque será a demonstração de que o preconceito não existe mais.
A Semana de Diversidade Sexual da ECO termina hoje, sexta-feira (26).