O curso de extensão A Educação e a Sociedade Brasileira Contemporânea promoveu, na última segunda-feira (16), o debate sobre o papel da escola e a construção de gênero. Rodrigo Rosistolato, um dos coordenadores do curso e professor da Faculdade de Educação (FE), e Andréia Osório, professora do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), analisaram como a diferença entre os gêneros masculino e feminino se dá e como a escola deve tratá-lo.
Andréia Osório iniciou sua participação contando que, antes de participar do curso, procurou em alguns dicionários de ciências sociais e etimologia os verbetes gênero e feminismo e não os encontrou. “Não encontrar essas palavras em um dicionário de sociologia é prova de que a questão de gênero ainda não é pensada socialmente”, criticou Andréia. Segundo ela, a divisão de gêneros é uma construção social, que, ortodoxamente, separa a sociedade em feminino e masculino. O primeiro é caracterizado como o lado fraco, pacífico, emotivo e participante da esfera doméstica. O segundo é forte, racional, dominador e integra a esfera pública.
Para Andréia, em nossa sociedade a discussão de gênero passa pelo feminismo, que, a partir da década de 60 afirmou que ser mulher é uma questão social e não, biológica. Uma das críticas relacionadas à construção de gênero por parte das feministas é à palavra ajuda. Algumas mulheres, quando consultadas sobre profissão, dizem que não trabalham, que ajudam os maridos. O feminismo critica o fato de o trabalho doméstico não ser percebido como trabalho. A professora do IFCS frisou que não se deve confundir sexualidade com gênero e exemplificou a diferença entre os dois conceitos com a gíria “sapatilha” que é dada atualmente as lésbicas femininas, mulheres homossexuais que preservam características femininas.
Rodrigo Rosistolato aprofundou o assunto, relacionando-o à educação. O professor da FE contou um pouco da história da educação sexual no Brasil. Até a década de 90, esse era o nome da disciplina escolar que tratava da sexualidade. Com o surgimento da AIDS, o aumento da gravidez na adolescência e o crescimento do feminismo, a escola passou a participar de forma mais efetiva neste debate. O governo lançou os 97 Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Dentre eles, destacava-se o que alterava a postura da disciplina. O que antes era educação sexual passou a ser orientação sexual, com o intuito de banir o caráter interventor da disciplina.
A partir de então, uma nova proposta surgiu para as escolas. A de promover um debate não educativo, mas sim, orientador, em que a informação apenas não basta. Segundo Rodrigo, além da necessidade de distribuir informação, era fundamental sensibilizar os estudantes para que mudassem seu comportamento. “O problema é que a palavra sensibilização tem uma idéia muito plural e é importante definir como ela se dá”, comentou o professor. Alguns professores promovem dinâmicas, como orientar que os alunos vão a farmácias e pesquisem quanto custa todo o material necessário para cuidar de uma criança por uma semana, como fraldas, talco, algodão, etc. Quando os alunos voltam com as pesquisas, eles fazem um média e discutem, diante de números, se vale a pena ter um filho e se eles têm possibilidade de tê-lo agora.