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Seminário discute mudanças climáticas

Na tarde do dia 23 de outubro, o Seminário de Doutorado – disciplina do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGG/UFRJ) – recebeu como palestrante da semana o professor Emílio La Rovere, do Programa de Planejamento Energético do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (PPE-Coppe/UFRJ).

A palestra do especialista em energia e meio ambiente, cujo tema foi “O Brasil e a mitigação das mudanças climáticas”, ocorreu no Instituto de Geociências (IGEO/UFRJ) – prédio do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN/UFRJ) – e foi aberta a todos os cursos da Universidade.

Segundo Josilda Mouro, professora responsável pelo Seminário de Doutorado, a temática ambiental está sendo abordada na disciplina, o que tornou a palestra essencial para complementar os estudos. Ela também destacou o privilégio de contar com a participação do professor Emílio, uma pessoa de projeção dentro do contexto das mudanças climáticas.

– A palestra fez um apanhado geral do que já foi abordado na disciplina. Vale ressaltar que a questão ambiental é inerente às Geociências, em especial à Geografia. Esse intercâmbio entre as diferentes ciências dentro da Universidade é bastante produtivo do ponto de vista do ensino e da pesquisa -, declarou Josilda, que atenta para a integração entre o Centro de Tecnologia (CT/UFRJ) e o CCMN, separados apenas por uma rua no espaço físico do campus da Ilha da Cidade Universitária (Fundão), mas que têm muito a compartilhar no âmbito da produção acadêmica.

Além dela e dos alunos, compareceram ao evento os professores Carlos Abreu e Claudio Limeira, do departamento de Geologia; José Luiz Santana, responsável pelo Laboratório de Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Cidadania do IGEO; Paulo Gusmão, do departamento de Geografia; Angela Pineschi, Célia Paiva e Claudine Dereczynski, do departamento de Meteorologia; entre outros.

IPCC: Nobel da Paz
Emílio, coordenador do Centro Clima do Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente (Lima/Coppe), é um dos cientistas brasileiros membros do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), órgão que, neste ano de 2007, dividiu o prêmio Nobel da Paz com o político e ambientalista americano Al Gore.

O Painel, criado em 1988, divulga informações sobre as mudanças climáticas ocorridas ao longo dos últimos anos em nosso planeta. Fazem parte do IPCC os países que integram o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), bem como os que compõem a Organização Meteorológica Mundial (WMO).

– O IPCC conta hoje com mais de mil cientistas, que constantemente atualizam os conhecimentos na área de meio ambiente, e representa uma experiência muito importante de diálogo entre Ciência e Política – que ao longo dos anos tiveram tantos mal entendidos -, informou Emílio.
Os três grupos de trabalho que formam o órgão já publicaram quatro relatórios, que reúnem pesquisas, informações, soluções e alertas sobre as mudanças do clima, inclusive destinadas aos tomadores de decisão. De acordo com o professor, o quarto relatório, publicado este ano, trouxe como principal conclusão o fato de que “os custos dos danos causados pelas mudanças climáticas são maiores do que os da mitigação dos problemas”.

Além disso, em seu mais recente documento, o IPCC trouxe dados novos e alarmantes sobre o aquecimento global (conseqüência do aumento do efeito estufa) e possíveis formas de atenuar ou combater o problema, que tem como maior causa os sistemas energéticos baseados em combustíveis fósseis, como os derivados de petróleo.

Diminuir o problema
O cientista da Coppe reforçou a necessidade de se tomar medidas urgentes para estabilizar, o quanto antes, a concentração dos chamados gases do efeito estufa (GEE), como o dióxido de carbono (CO2), na atmosfera. É preciso chegar a um nível considerado seguro, que não ofereça perigo para a alimentação e para a adaptação natural dos ecossistemas, seguindo um modelo de desenvolvimento sustentável.

Segundo dados do IPCC, entre os anos de 1970 e 2004, as emissões de GEE cresceram 70%. As liberações de CO2, que correspondem a 77% destes gases lançados em 2004, estão aumentando em função dos aumentos da população e do crescimento econômico.

– Caso nada seja feito, as emissões podem aumentar entre 25% e 90% até 2030. As liberações de CO2 pela queima de combustíveis fósseis cresceriam de 45% a 110%, e os maiores responsáveis por isso seriam as nações em desenvolvimento, como a China, Índia -, afirmou Emílio.

Os impactos são imprecisos, mas o professor citou algumas medidas possíveis para mitigar as mudanças climáticas, como a proposta de redução do Produto Interno Bruto (PIB) em 5,5% até 2050, “o que significa uma perda quase imperceptível por ano e que não afetaria a economia dos países”, segundo Emílio.

Ele também citou o comércio de carbono e a expansão energética, a qual inclui o desenvolvimento de biocombustíveis, de fontes renováveis e de energia nuclear. As inovações tecnológicas, nesse sentido, seriam aceleradas por investimentos em fundo de pesquisa.
 
Desmatamento e biocombustível
Por enquanto, o Brasil emite mais CO2 por desmatamento do que por sistemas energéticos. “Há somente uma meta possível: desmatamento ilegal zero”, enfatizou Emílio. Ele afirmou que tal ação ilegal nas áreas florestais, como a Amazônia, é uma irracionalidade e faz parte de uma questão intensa, que não deveria ser colocada em discussões internacionais, pois pode causar interferência na soberania nacional.

Uma medida que ajudaria a reduzir o problema consiste em incentivos concedidos aos que reduzirem o desmatamento: “O catastrofismo precisa ser relativizado, as soluções existem”, considerou o professor.

O especialista acredita que o Brasil tem feito muito pelo clima, mesmo sem metas obrigatórias. Antes mesmo do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), estabelecido pelo Protocolo de Quioto, o país já estabeleceu programas governamentais e ações de eficiência energética, assim com o desenvolvimento do Proálcool, por exemplo, entre outros.

Ao ser questionado sobre a atual discussão acerca do desenvolvimento de biocombustível no país, que coloca em pauta a possibilidade de a nova alternativa de energia provocar uma redução de alimentos voltados para o consumo da população, Emílio opina: “Não vejo que a questão do biocombustível seja fatal ou que vá competir com o setor de alimentos. O problema da produção de alimentos no Brasil é a falta de apoio aos pequenos e médios produtores, e não a falta de terras”.