Categorias
Memória

Biosemana dá início a sua décima primeira edição

Foi aberta, no dia 01 de outubro a Semana de Biologia, mais conhecida como Biosemana. O evento ocorreu no auditório Rodolpho Paulo Rocco, o Quinhentão, no Centro de Ciências da Saúde (CCS). Em sua décima primeira edição, a Biosemana é organizada pelo Centro Acadêmico do Instituto de Biologia (CABio) desde 1996, e conta com o apoio de professores e instituições públicas e privadas.

 Fotos: Agência UFRJ de Notícias

 

 Fernanda Santos Quintela, diretora do Instituto
de Biologia, destacou o empenho dos
alunos envolvidos no evento

A abertura do evento contou com a presença da professora Maria Fernanda Santos Quintela da Costa Nunes, diretora do Instituto de Biologia, que ressaltou o crescimento dos últimos anos do evento, destacando o empenho dos alunos envolvidos. “A nossa unidade, devido às suas características, tem um evento totalmente organizada pelo CA e pelos alunos”, comentou, apostando no futuro: “Hoje temos cerca de 300 inscritos e, quem sabe, possamos chegar à marca dos 1000, 2000”

A diretora frisou a importância de atividade desse tipo para uma boa formação acadêmica. “Muitas vezes, num evento desse temos a oportunidade de tirar dúvidas, refletir sobre questões importantes que temos vivenciado em sala de aula, e que só se consolida em eventos como esse”, disse Maria Fernanda, elogiando a programação: “São assuntos que exigem reflexão. A programação passa, por exemplo,  pela genética a conservação da natureza e chega à discussão do REUNI, que é um tema de relevância nacional e que está em foco tanto na UFRJ quanto no país como um todo”, comentou a professora.

Genética na conservação da natureza

  

 Professor Antonio Mateo Solé-Cava

A primeira palestra da XI Biosemana trouxe ao Quinhentão um assunto bastante em pauta nos últimos anos: conservação da natureza. Entretanto, a fala do professor Antonio Mateo Solé-Cava, chefe do departamento de Genética do IB, abordou um viés ainda em ascensão na militância ambiental: a genética na conservação da natureza.

A preocupação de biólogos com o assunto, na verdade, não é muito antiga. Segundo o professor, o marco da influência política da Biologia na preservação ambiental tem data certa. Em 1962, Rachel Carson publicou o livro “Primavera Silenciosa”, que apresentou ao mundo os perigos do DDT, na época, o inseticida mais usado nos EUA, para populações de aves. Segundo a pesquisa da bióloga, a substância teria a capacidade de se acumular e ser transmitida pela cadeia alimentar, infectando aves comedoras de insetos. “Ela era uma bióloga, mas se sentiu na obrigação de fazer uma publicação popular e conseguiu que o DDT fosse proibido nos EUA”, comentou o professor.

Desde então, os biólogos começaram a se envolver mais com os problemas de preservação da natureza. Com isso, a sociedade passou a tomar também mais conhecimento do assunto, mas ainda falta consciência. “As pessoas, de maneira geral, têm sempre a sensação de que ainda se pode crescer mais com a cidade”, afirmou Solé, explicando que o planeta já passou do ponto de sustentabilidade. “Os países ricos só mantêm a qualidade de vida porque bilhões de pessoas passam fome. Na verdade, se todos consumissem o mínimo necessário, não haveria produção suficiente”, explicou.

Aplicação da genética na preservação
Em meio a tantos problemas, principalmente de preservação de espécies, a genética funciona, segundo Solé, como um pequeno instrumento usado por conservacionistas, que lhes confere subsídios para aperfeiçoarem as pesquisas. Entre as aplicações da genética na preservação de espécies, os estudos sobre variabilidade gênica se destacam. Segundo o professor, o fenômeno é comum em populações impactadas.

— Esse fenômeno ocorre quando há o endocruzamento, a reprodução entre irmãos, resultando na chamada deriva gênica —, explicou o Antonio Solé. Um exemplo de prejuízo nesses casos é o do leão asiático. Em um estudo, contou-se a heterozigosidade do animal e foi encontrado 0% de heterozigotos na população. Isso significa que os animais eram praticamente gêmeos.

Os prejuízos para a população dos animais são notáveis. Verificou-se que o leão asiático apresenta cerca de 90% de esperma no ejaculado, comparado com a mesma espécie, na África. Além disso 65% dos espermatozóides são mal-formados e os níveis de testosterona são baixos, dificultando o interesse por sexo do animal.

Para comprovar a influência da variabilidade gênica no desenvolvimento de indivíduos e populações, um estudo foi feito com ratos. Dividiu-se a população em dois ambientes. Em uma caixa, os animais eram endocruzados, enquanto na outra evitava-se esse processo. O resultado, quando os animais foram soltos e analisados em um campo, foi de 56% menos sobreviventes endocruzados. Além disso, esse grupo perdeu peso mais rapidamente, comprovando os prejuízos da deriva gênica.

— O tema é muito complexo, há muito que falar sobre os impactos da baixa variabilidade gênica —, comentou o professor. Além dessa aplicação, a genética ajuda também a determinar as diferenças muitas vezes sutis entre as espécies, contribuindo para um melhor entendimento dos fenômenos populacionais e, conseqüentemente, ajudando no trabalho de conservacionistas e ambientalistas em geral.

A Biosemana segue em frente até o dia 5 de outubro. Na programação, destaca-se o debate sobre o REUNI, que conta com a presença do reitor professor Aloísio Teixeira. Além disso, o evento ainda oferece palestras e mini-cursosm durante todo o dia. Todas as atividades ocorrem no Quinhentão.