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Reitor responde ao jornalista Arnaldo Bloch e a seus leitores

O reitor Aloísio Teixeira escreveu uma carta em resposta às críticas do jornalista Arnaldo Bloch sobre a concentração de cursos na Cidade Universitária, na Ilha do Fundão.

O reitor da UFRJ, Aloísio Teixeira, endereçou a carta aberta (divulgada abaixo) ao colunista do jornal "O Globo", Arnaldo Bloch, que, no dia 1º de setembro, publicou o artigo intitulado "Não ao êxodo da Praia Vermelha". Nele, o jornalista criticou a proposta de transferência dos cursos do campus da Praia Vermelha para a Ilha do Fundão, contida no Programa de Reestruturação e Expansão da UFRJ (PRE/UFRJ).

A carta do reitor foi publicada na íntegra, no sábado (8), na mesma coluna do jornal e também no blog do jornalista. A polêmica vem ganhando espaço. Confira a seguir argumentos de Aloísio Teixeira:

RESPOSTA (ABERTA) AO JORNALISTA ARNALDO BLOCH E A SEUS LEITORES

Prezado jornalista: sua crônica de 1º de setembro, mais do que evocar memórias de passadas aventuras universitárias, teve o papel de abrir as páginas de O Globo para o debate em curso na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Não perderemos essa oportunidade. Somos uma universidade pública e entendemos que esse debate deve se processar em todos os fóruns. E pedimos-lhe que consiga junto aos editores a abertura de uma tribuna livre sobre a Universidade necessária.

Cabe esclarecer que não há um programa aprovado, mas um anteprojeto em discussão na UFRJ, cujo propósito não se limita a deslocar unidades instaladas em diferentes pontos do Rio para a Ilha da Cidade Universitária. Esse deslocamento, porém, poderá ser a conseqüência das transformações acadêmicas que serão implantadas ao final de nossos debates.

A instituição universitária está em discussão em todo o mundo, fustigada por dois fenômenos sem precedentes. O primeiro é a modificação radical da forma como se processam os avanços do conhecimento, bem como a aceleração do ritmo do desenvolvimento científico e tecnológico: a universidade deve preparar-se para esse desafio, que põe em cheque o papel da ciência e da educação na vida social. O segundo é a universalização do ensino superior, que está ocorrendo não apenas no mundo desenvolvido, mas em vários continentes, inclusive na América Latina, onde países com graus de desenvolvimento econômico e social inferior ao nosso já apresentam indicadores muito melhores.

A questão que se coloca para a universidade brasileira é superar seu atraso secular e, ao mesmo tempo, dar conta dos desafios da contemporaneidade. É por isso é que a UFRJ precisa expandir-se, aumentando o número de vagas, principalmente no horário da noite, criando novas habilitações e cursos, dando continuidade a suas experiências de interiorização, flexibilizando a estrutura dos departamentos, permitindo aos estudantes a circulação entre áreas de conhecimento, redefinindo currículos, abrindo espaço para a extensão e para eletivas de livre escolha, tornando a formação de nossos graduados mais universal e humanista; ao mesmo tempo, ampliando a assistência estudantil, com restaurantes universitários, alojamentos, bibliotecas revitalizadas e programas de bolsas de estudos abrangentes.

Uma transformação profunda pode estar em curso na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Seu resultado pode ser uma universidade menos fragmentada e dispersa; por isso a concentração de seus cursos em um campus unificado é desejável de todos os pontos de vista. Hoje a formação integral é dificultada por longas distâncias, cujo percurso é um ônus para os estudantes.

A idéia da “Cidade da Cultura” ou da “Cidade das Ciências Sociais” não responde às exigências do momento atual. Por que um estudante de Comunicação, na Praia Vermelha, não pode seguir uma disciplina de História da Arte, na Escola de Belas Artes, na Cidade Universitária? E por que um estudante de Engenharia não pode assistir disciplinas de Administração ou de Economia? Certamente podem e devem, e a Universidade tem que assegurar-lhes condições para isso.

Por outro lado, o patrimônio da UFRJ na Praia Vermelha (e em outros prédios históricos da cidade) deve ser preservado e seu uso intensificado, em benefício da Universidade e da sociedade que a mantém. O Palácio Universitário, em particular, deverá ser restaurado e utilizado para atividades culturais e artísticas da universidade, para eventos científicos, nacionais e internacionais, para receber professores visitantes, para abrigar sociedades científicas; e o espaço que o circunda, aberto à população como local de cultura, esporte e lazer, e para projetos de extensão que beneficiarão as comunidades vizinhas; igualmente será garantida a continuidade dos serviços que prestam o Instituto de Neurologia e o Instituto de Psiquiatria, com seus estudantes residentes. As atividades da Universidade, afinal, não se restringem ao ensino.

O Palácio da Praia Vermelha — antigo Hospital de Dom Pedro II, antigo Hospital Nacional dos Alienados — não é apenas o templo de nossa memória afetiva, mas o testemunho vivo de lutas e sonhos de várias gerações. O eterno reitor Pedro Calmon foi o responsável por sua incorporação ao patrimônio da Universidade, em 1949, quando já estava decidida a transferência para o campus da Cidade Universitária. Na ocasião de sua reabertura, em 1952, escreveu o seguinte: “A Universidade do Brasil mudar-se-á para as vastas instalações da Cidade Universitária, em plena construção neste momento. Deixará um dia essa provisória morada. Mas outras instituições de relevo nacional a aproveitarão".

Nenhum de nós poderia dizer melhor. Mas juntos — a comunidade universitária, a imprensa, o povo e os homens públicos do Rio de Janeiro — poderemos. E diremos que a morada não é tão provisória, pois, mesmo concentrando as atividades de ensino na Cidade Universitária, a UFRJ continuará desenvolvendo projetos de interesse social, cultural e científico no Palácio cuja guarda lhe foi confiada.

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